Envelhecer na comunidade e a importância do envelhecimento ativo

Repensar os modos de viver e envelhecer é um dos desafios e oportunidades decorrente das transformações sociais causadas pelo fenômeno do envelhecimento populacional no século XXI. Nesse contexto, destaca-se a importância da articulação entre políticas públicas, comunidades e pessoas idosas para que haja, entre outros aspectos, a valorização do direito à permanência no território e o protagonismo da pessoa idosa. O conceito de envelhecer na comunidade (ou ageing in place), refere-se à possibilidade de viver e envelhecer na própria casa e na vizinhança, com segurança, autonomia e suporte social adequados. Essa perspectiva representa uma alternativa ao modelo institucional tradicional, promovendo a continuidade das relações afetivas, o sentimento de pertencimento e a preservação da identidade individual e coletiva.
Permanecer em um ambiente familiar favorece a autoestima, a autoconfiança e o bem-estar psicológico das pessoas idosas, uma vez que reforça o senso de controle e as conexões sociais. Além disso, o envelhecimento na comunidade tem efeitos positivos sobre a coesão social, pois estimula o fortalecimento das redes de vizinhança, a solidariedade intergeracional e a criação de ambientes mais inclusivos.
O autor Fonseca (2021) salienta que essa forma de envelhecer exige a articulação de políticas públicas nos níveis local, regional e nacional, de modo que o cuidado e a assistência sejam oferecidos no próprio contexto de vida da pessoa, e não a partir do afastamento de seu meio habitual. Para isso, é fundamental investir em diferentes áreas de suporte, como o apoio aos cuidadores, o combate ao isolamento social, o uso de gerontecnologias, a melhoria das condições habitacionais e o incentivo à participação social e à aprendizagem ao longo da vida.
A promoção do envelhecimento na comunidade se relaciona diretamente ao paradigma do envelhecimento ativo, formulado pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002). Esse conceito amplia a compreensão sobre o envelhecer ao valorizar as oportunidades de saúde, participação social e segurança que possibilitam uma vida longeva e significativa. Envelhecer ativamente envolve manter-se engajado socialmente, cognitivamente estimulado e emocionalmente realizado, mesmo diante de limitações e condições de saúde. Adicionalmente, a educação permite que as pessoas idosas continuem aprendendo, compartilhando saberes e desenvolvendo competências que reforçam sua autonomia e cidadania.
A obra Educação e Envelhecimento: perspectivas e tendências (Doll & Kohlrausch, 2024) mostra que a educação é capaz de sustentar o envelhecimento ativo e o envelhecimento na comunidade. Programas intergeracionais, universidades abertas à terceira idade e projetos de inclusão digital são exemplos de ações que ampliam a participação das pessoas idosas na vida social e cultural. Essas experiências favorecem o empoderamento, a autoestima e a sensação de pertencimento. Klein (2024), por sua vez, argumenta que a sociedade contemporânea ainda não está preparada cognitiva e emocionalmente para lidar com a “sociedade do envelhecimento”, propondo uma gerontologia operativa e conscientizadora, capaz de mobilizar governos, instituições e cidadãos na construção de uma cultura positiva sobre o envelhecer.
Promover o envelhecimento ativo e o envelhecer na comunidade significa investir em políticas intersetoriais que unam saúde, assistência social, educação, habitação, mobilidade e cultura. é possível afirmar que essas ações expressam um projeto de sociedade baseado na equidade, na solidariedade e na valorização da diversidade geracional. Em uma sociedade que envelhece rapidamente, o desafio é viver uma maior quantidade de tempo com a maior qualidade possível, o que inclui ter autonomia, dignidade e pertencimento.
Referências:
BESTETTI, M. L. T.; GRAEFF, B.; DOMINGUES, M. A. O impacto da urbanidade no envelhecimento humano: o que podemos aprender com a estratégia Cidade Amiga do Idoso?. Revista Kairós-Gerontologia, [S. l.], v. 15, n. Especial13, p. 117–136, 2013.
FONSECA, António M. Ageing in place: envelhecimento em casa e na comunidade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2021. 172 pg.
DOLL, Johannes; KOHLRAUSCH, Estela (orgs.). Educação e envelhecimento: perspectivas e tendências. Porto Alegre: Editora CirKula, 2024.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Active ageing: a policy framework. Geneva: World Health Organization, 2002.
KLEIN, Alejandro. Cómo educar al societario ante la sociedad de envejecimiento: paradojas y desafíos en América Latina. In: DOLL, Johannes; KOHLRAUSCH, Estela (orgs.). Educação e envelhecimento: perspectivas e tendências. Porto Alegre: Editora CirKula, 2024. p. 17–38.
Assinam esse texto:
Profª Msc. Gabriela dos Santos – Docente do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro (UNISA). Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Gerontologia pela Universidade de São Paulo (USP), Graduada em Gerontologia pela USP, com Extensão pela Universidad Estatal Del Valle de Toluca. É pesquisadora no Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da USP e atua com estimulação cognitiva para pessoas idosas.
Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva – Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da USP. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e vice-diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo.
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