Desempenho cognitivo e estilo de vida de pessoas idosas centenárias

Com o envelhecimento, é esperado que ocorram declínios em habilidades cognitivas como memória, atenção, linguagem e funções executivas. Entretanto, muitas dessas habilidades podem ser preservadas mesmo em indivíduos que atingiram os 100 anos de idade ou mais. Nesses casos, embora haja alguma perda em domínios específicos, muitas funções cognitivas permanecem relativamente estáveis, permitindo a manutenção da autonomia e engajamento nas atividades de vida diária (Holstege et al., 2018; Perls, 2021). A partir de estudos realizados com essa população é possível compreender os fatores que contribuem para a preservação cognitiva e funcional, incluindo aspectos genéticos, comportamentais e psicossociais.
Um estudo realizado em Ribeirão Preto (SP) avaliou 33 centenários e constatou que 36,4% apresentavam capacidade cognitiva preservada, embora 81,8 % fossem mulheres, e muitos apresentassem baixo nível de escolaridade ou analfabetismo (Duarte et al., 2015). O estudo também observou que 85% das pessoas idosas estavam em risco nutricional, o que ressalta a complexidade do perfil dos longevos no Brasil. Outro trabalho desenvolvido em contexto brasileiro, em Santa Catarina, relacionado ao “Projeto SC100”, descreve avaliações multidimensionais de longevos, contemplando atividade física, estilo de vida e longevidade, reforçando que no Brasil as pesquisas com centenários ainda são escassas e pontuais, mas fundamentais para compreender esse grupo populacional (Mazo et al., 2019).
No 100‑plus Study, conduzido nos Países Baixos, centenários cognitivamente saudáveis permanecem mantendo desempenho estável em diversas funções cognitivas ao longo de acompanhamento, apesar de alterações neuropatológicas típicas da doença de Alzheimer, que não se traduzem necessariamente em comprometimento funcional. Esses achados destacam a importância dos mecanismos de reserva cognitiva (Holstege et al., 2018; Perls, 2021). O estudo também evidenciou que centenários com melhor desempenho cognitivo apresentam maior sobrevida, indicando a importância da saúde cognitiva para a longevidade.
O estilo de vida ao longo do envelhecimento é determinante para a preservação cognitiva e funcional. A escolaridade mais elevada e o engajamento social, por exemplo, contribuem para maior reserva cognitiva, que pode atenuar os efeitos do envelhecimento sobre a cognição. A manutenção da mobilidade e da independência em atividades diárias está associada à preservação de funções cognitivas e físicas, sendo que a prática regular de atividade física e tarefas funcionais desempenham papel relevante nesse processo. No Brasil, o estudo de Santa Catarina com centenários destaca a importância do estilo de vida e atividade física nos longevos brasileiros, embora ainda haja poucas publicações específicas.
Aspectos relacionados ao sono também influenciam a cognição. Estudos com centenários chineses indicam que tanto a duração quanto a regularidade do sono afetam o desempenho cognitivo, sendo que padrões irregulares ou prolongados podem estar associados a maior comprometimento cognitivo (Yang et al., 2024). Fatores psicossociais, como percepção positiva da própria saúde e senso de controle sobre a vida, mostram correlação com melhor desempenho cognitivo, o que sugere que bem‐estar emocional e mental contribuem para a manutenção da função cognitiva em idade mais longeva.
Embora a alimentação tenha sido menos investigada especificamente em centenários, padrões alimentares observados em indivíduos longevos geralmente incluem alto consumo de vegetais, frutas e grãos integrais e baixo consumo de alimentos ultraprocessados, características semelhantes à dieta mediterrânea, que possui efeitos protetores sobre função cognitiva e saúde cardiovascular. No Brasil, ainda faltam estudos robustos que abordem a alimentação em centenários.
A preservação da cognição e da funcionalidade em centenários demonstra que fatores modificáveis, como estilo de vida, engajamento social, escolaridade, hábitos de sono e alimentação adequada, podem exercer impacto significativo sobre a capacidade intrínseca, conceito da Organização Mundial da Saúde que integra as dimensões física, cognitiva e psicossocial do envelhecimento.
Leia também: Estilo de vida e saúde cognitiva na velhice: o que dizem as evidências recentes?
Referências:
BUETTNER, D.; SKEMP, S. Blue Zones: Lessons From the World’s Longest Lived. American Journal of Lifestyle Medicine, v. 10, n. 5, p. 318-321, 2016.
DUARTE, P. O. Estudo dos centenários de Ribeirão Preto – Brasil. 2015. Tese (Doutorado em Clínica Médica) – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2015. DOI: 10.11606/T.17.2017.tde-20072016-090416. Acesso em: 31 out. 2025.
HOLSTEGE, H.; e al. The 100-plus Study of cognitively healthy centenarians: rationale, design and cohort description. European Journal of Epidemiology, v. 33, n. 12, p. 1229-1249, 2018.
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