Mitos e verdades da Doença de Alzheimer

A Doença de Alzheimer (DA) é uma das doenças neurodegenerativas mais prevalentes em todo o mundo, sendo responsável por cerca de 60 a 80% dos casos de demência. No Brasil, estima-se que mais de 1,2 milhão de pessoas sejam afetadas, porém a maioria ainda sem diagnóstico formal, o que reforça a importância da disseminação de informações confiáveis (Marques et al., 2022). Apesar da ampla divulgação, a DA ainda é cercada por mitos que geram preconceitos e podem prejudicar a busca por profissionais e suporte adequado.
Um dos mitos mais comuns é acreditar que a DA faz parte do processo esperado do envelhecimento. Embora a idade seja um dos principais fatores de risco, trata-se de uma patologia com mecanismos específicos, envolvendo deposição de beta-amiloide e emaranhados neurofibrilares que afetam a comunicação neuronal, levando ao comprometimento progressivo das funções cognitivas (Schilling et al., 2022). Assim, envelhecer não significa, necessariamente, desenvolver demência; é possível tornar-se uma pessoa idosa sem doenças neurodegenerativas.
Outro mito recorrente é que apenas pessoas idosas podem ser diagnosticadas com DA. De fato, a prevalência é maior após os 65 anos, mas existem casos de início precoce, antes dessa faixa etária, geralmente associados a mutações genéticas raras (Schilling et al., 2022). Isso reforça a necessidade de vigilância clínica mesmo em adultos mais jovens quando sintomas cognitivos persistentes são identificados.
Também não é verdade que todo esquecimento em pessoas idosas seja sinal de DA. Mudanças cognitivas leves, como maior lentidão na atenção ou dificuldade de lembrar fatos recentes, fazem parte do envelhecimento esperado. No entanto, quando o esquecimento é progressivo, interfere nas atividades diárias e se associa a outros sintomas, como dificuldades de linguagem ou orientação espacial, pode estar relacionado a um processo relacionado às demências (Schilling et al., 2022).
Outro mito bastante disseminado é a crença de que pessoas idosas não podem aprender coisas novas. A neurociência já demonstrou que o cérebro mantém a plasticidade ao longo de toda a vida, sendo capaz de formar novas conexões e até mesmo novos neurônios em determinadas áreas. Por isso, atividades de estimulação cognitiva, aprendizado contínuo e engajamento social são fundamentais para retardar o avanço da doença e preservar a autonomia (Marques et al., 2022).
No campo do tratamento, ainda não há cura para a DA, mas há avanços significativos em pesquisas e desenvolvimento de medicamentos. Atualmente, os fármacos disponíveis, como os inibidores de colinesterase, atuam de forma sintomática, retardando a progressão e proporcionando melhora modesta na cognição e no funcionamento global (Araújo et al., 2023). Além disso, intervenções não farmacológicas, como a prática de atividade física, a estimulação cognitiva e o suporte psicossocial, são fundamentais e comprovadamente eficazes na melhora da qualidade de vida de pacientes e familiares.
Outro equívoco é acreditar que pessoas com DA deixam de compreender completamente o que acontece ao seu redor. Na realidade, em fases iniciais e até mesmo em parte da fase moderada, muitos indivíduos ainda conseguem compreender situações e interagir de forma significativa. A deterioração da compreensão tende a se intensificar apenas nos estágios mais avançados (Schilling et al., 2022).
Do ponto de vista epidemiológico, é verdade que a DA afeta mais mulheres do que homens. Estudos indicam que isso se deve, principalmente, à maior longevidade feminina, mas também a mudanças biológicas e hormonais associadas ao envelhecimento (Araújo et al., 2023).
Por fim, é importante ressaltar que a DA também afeta os familiares e cuidadores de forma significativa, podendo gerar fragilidades, como sobrecarga emocional e dificuldades de aceitação. Porém também podem ser geradas potencialidades, como maior união familiar e desenvolvimento de estratégias coletivas de cuidado (Marques et al., 2022).
Deste modo, compreender os mitos e verdades sobre a Doença de Alzheimer é importante para combater o estigma, promover o diagnóstico precoce e favorecer uma rede de cuidado mais humanizada. Informação de qualidade, associada a políticas públicas e estratégias de apoio, pode transformar a forma como a sociedade compreende a demência, garantindo maior dignidade e qualidade de vida para todos os envolvidos.
Referências:
ARAÚJO, S. R. M. et al. Doença de Alzheimer no Brasil: uma análise epidemiológica entre 2013 e 2022. Research, Society and Development, v. 12, n. 2, e29412240345, 2023. DOI: https://doi.org/10.33448/rsd-v12i2.40345.
MARQUES, Y. S. et al. Doença de Alzheimer na pessoa idosa/família: potencialidades, fragilidades e estratégias. Cogitare Enfermagem, v. 27, e80169, 2022. DOI: https://doi.org/10.5380/ce.v27i0.80169.
SCHILLING, L. P. et al. Diagnóstico da doença de Alzheimer: recomendações do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia. Dementia & Neuropsychologia, v. 16, n. 3, supl. 1, p. 25-39, 2022. DOI: https://doi.org/10.1590/1980-5764-DN-2022-S102PT.
Assinam esse texto:
Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva – Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da USP. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e vice-diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo.
Profª Msc. Gabriela dos Santos – Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Gerontologia pela Universidade de São Paulo (USP), Graduada em Gerontologia pela USP, com Extensão pela Universidad Estatal Del Valle de Toluca. É pesquisadora no Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da USP e atua com estimulação cognitiva para pessoas idosas. Docente do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro (UNISA).
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