A demência – termo utilizado para descrever doenças neurodegenerativas e progressivas – é citada como um dos principais problemas de saúde devido ao rápido crescimento populacional em idosos. Cada vez mais se faz necessário fortalecer o conhecimento e o controle de condições crônico-degenerativas frequentes na faixa etária dos 60+.
As demências têm grande relevância por terem se tornado uma condição clínica comum em idosos, causando neste grupo etário morbidade e mortabilidade. Além disso, podem gerar prejuízos na qualidade de vida, como a perda da autonomia, presença de dependência e maiores custos em internações.
Em 2005, um documento internacional foi publicado no Jornal Lancet em que foi estimado que 24,3 milhões de pessoas no mundo tivessem demência. Outros estudos apontaram que, em 2010, a população com demência subiu para 35,6 milhões. Nesta proporção, o número de pessoas acometidas por síndromes demenciais iria dobrar a cada 20 anos, atingindo 81,1 milhões de indivíduos em 2040.
O total de casos novos em demência no mundo a cada ano é de aproximadamente 7,7 milhões. Com isso, calcula-se a descoberta de um novo diagnóstico a cada quatro segundos.
A prevalência de demências no Brasil encontrada no estudo realizado na cidade de Catanduva por Herrera e colaboradores (2002), foi de 7,1% nas pessoas com idade de 65 anos ou mais. A prevalência de acordo com a faixa etária dobrou aproximadamente a cada 5 anos a partir dos 65 anos de idade; entre 65 a 69 anos a prevalência de demência encontrada foi de 1,3%; entre 70 a 74 anos, de 3,4%; entre 75 a 79 anos, de 6,7%; entre 80 a 84 anos, de 17%; e a partir dos 85 anos, a prevalência foi de 37,8%.
2019Ainda no estado de São Paulo, em estudo realizado na cidade de Ribeirão Preto, evidenciou-se uma prevalência de demência de 12,5% na população de 60 anos ou mais e de 15,2% quando considerado população de 65 anos ou mais (estudo completo disponível em Lopes e colaboradores, 2012).
Diferentemente dessas prevalências no estado de São Paulo, outro estudo epidemiológico realizado na cidade de Piraju por Ramos-Cerqueira e colaboradores (2005), encontrou que a prevalência estimada de demência foi de 2% inferior aos outros estudos citados anteriormente. Em estudo realizado na área rural da Bahia, a prevalência encontrada de demência foi de 49,6%, (estudo de Magalhães e colaboradores, 2008) e em Florianópolis, no estado de Santa Catarina, a prevalência encontrada foi de 13,8%.
Na população acima de 75 anos examinada na cidade de Caeté, estado de Minas Gerais, a prevalência de demência encontrada foi de 27,5%. O estudo foi conduzido por Teixeira e colaboradores, (2009).
Os estudos epidemiológicos podem ser usados para investigar potenciais relações causais entre os fatores de risco e as demências. O conhecimento sobre os fatores genéticos nas demências tem adquirido grande importância. Em um estudo brasileiro foi demonstrado que a presença de uma proteína aumentava em 2,63 vezes a chance dos indivíduos serem diagnosticados como portadores de Doença de Alzheimer. O estudo foi realizado por Almeida e Shimokomaki em 1997.
O fator de risco mais consistentemente associado à possibilidade de desenvolver comprometimento cognitivo é a própria idade, associação que já foi comprovada em diversos estudos epidemiológicos citados anteriormente. Além de doenças neurodegenerativas, a idade avançada também pode associar-se ao aumento dos fatores de risco cerebrovascular; tais como tabagismo, aumento da concentração de triglicérides e colesterol, uso de álcool moderado, hipertensão arterial não tratada, diabetes descompensada e doenças cardíacas.
Assim como a idade, o baixo nível de escolaridade aparece em muitos estudos como um fator de risco aumentado para desenvolver demências. Uma vez que um cérebro é sujeito a poucos desafios intelectuais, fica mais susceptível à agressão de proteínas neurodegenerativas.
A depressão aparece em alguns estudos como outro fator de risco para o desenvolvimento de demência, podendo ser inclusive uma demência reversível; estes dados foram elencados por Ownby e seus colaboradores em estudo realizado em 2006.
Alguns estudos citam o gênero feminino como fator de risco para comprometimento da memória, porém ainda é um dado bastante controverso, que necessita de maiores investigações.
Outros estudos destacam que a terapia de reposição hormonal (TRH) apresentou menor associação com ocorrência de demência em mulheres, mas ainda há a necessidade de confirmação de novos estudos, principalmente verificando a idade de início da terapia e o tempo de reposição.
Neste contexto, estudos destacam a importância de praticar exercícios de ginástica cerebral, para que se possa gerar a formação de reserva cognitiva no indivíduo e assim, melhorar o seu desempenho cognitivo, protegendo-o de doenças neurogenerativas e cerebrovasculares.
Outro dado relevante é que a prática de atividades físicas é frequentemente associada nos grandes estudos de centros de pesquisa, com o menor risco de desenvolvimento de comprometimento da memória e de demência em estudos populacionais. Altos níveis de atividade física foram associados com riscos reduzidos de comprometimento da memória, como nos estudos realizados por Benedetti e colaboradores (2008) e Laurin e colaboradores (2001).
Sabe-se que; embora a atividade física isoladamente ainda necessite de mais estudos sobre seu fator protetor para demências, o risco de desenvolvimento de doenças neurodegenerativas em idosos é em média 3 vezes maior em indivíduos sedentários.
Este breve contexto com os dados de algumas das principais pesquisas realizadas sobre a temática das demências evidenciam o olhar que se tem hoje sobre fatores protetores. Destaca-se na ciência que as doenças neurodegenerativas são hoje um problema de saúde pública, em virtude de sua alta prevalência e dos altos custos para as famílias, para o indivíduo e para os serviços de saúde.