Estamos em um contexto de pandemia da doença COVID-19, e estudos recentes têm publicado informações clínicas, relacionadas às mudanças no funcionamento do cérebro, em indivíduos acometidos pela COVID-19 nas formas moderadas e graves.
Um grupo de aproximadamente 236 mil pessoas diagnosticadas com COVID-19 foi estudado para melhor compreensão das sequelas desta doença, demonstrando a incidência de 14 diferentes desfechos neurológicos após confirmação diagnóstica, dentre eles: hemorragia intracraniana; acidente vascular cerebral isquêmico; parkinsonismo; síndrome de Guillain-Barré; encefalite; demência; transtornos psicóticos, de humor e de ansiedade (agrupados e separadamente); transtorno de uso de substância; e insônia.
Mudanças como dificuldades no desempenho da memória recente; prejuízos na identificação de aromas, odores, em alguns casos há relatos de pacientes, que após a recuperação da COVID-19, passaram a não interpretar adequadamente o cheiro dos alimentos, sendo algumas vezes “enganados pelo próprio olfato”.
A síndrome disexecutiva também tem sido relatada em 1 a cada 3 pacientes com COVID-19 que recebem alta hospitalar (Rogers et al., 2020). Em casos graves da doença, há relatos de problemas motores e até mesmo prejuízos neurológicos, que comprometem a capacidade de gerenciamento e organização da própria vida (Ciaccio et al., 2021; de Erausquin et al., 2021).
No Hospital Weil Cornell Medicine, situado em Nova Iorque, pesquisadores acompanharam 57 pacientes diagnosticados com COVID-19, em uma unidade de reabilitação.
Entre 20 e 40 dias após admissão, aplicaram um teste denominado Brief Memory and Executive Test (BMET).
Os dados encontrados nesta avaliação cognitiva indicaram que 81% destes pacientes apresentaram problemas cognitivos no processo de alta, com comprometimento das habilidades de atenção e de funções executivas.
A ciência tem associado que em indivíduos com mais de 50 anos, as sequelas da COVID-19, têm sido mais intensas e gerado comprometimento neurológico e das habilidades mentais, podendo ser um fator de risco para o desenvolvimento de demências, como a Doença de Alzheimer.
Dessa maneira, a comunidade científica está em constante busca de alternativas para prevenir estes danos à saúde ocasionados pelo coronavírus, e tentado atuar de modo para que eles não sejam permanentes .
Uma hipótese que tenta explicar esta relação de sequelas pós-COVID e maior fatores de risco para o desenvolvimento de demência, seria uma maior presença de sintomas neuropsiquiátricos, presentes em pacientes com internações superiores a 40 dias em unidades de terapias intensivas e um agravo à saúde mental global.
Outra hipótese versa sobre o processo inflamatório ocasionado nas células nervosas, decorrentes do quadro de infecção pelo grupo do coronavírus, como um processo facilitador, para o acúmulo e surgimento de proteínas tóxicas, como as proteínas beta-amilóide e tau, que em excesso causam a degeneração e a morte celular dos neurônios, ocasionando assim o desenvolvimento de um quadro demencial.
Uma das alternativas tem sido, a criação ou otimização da reserva cognitiva. Criar reserva cognitiva é fazer com que as conexões entre os neurônios sejam cada vez mais sólidas, aproveitando assim o potencial de funcionamento do sistema nervoso, para gerar ao longo da vida uma reserva de proteção a possíveis danos que possam acometer o cérebro.
E para isso, sabemos que a estimulação cognitiva, popularmente conhecida como exercícios de ginástica para o cérebro, podem atuar como estratégias de otimização da reserva cognitiva.
E quais exercícios poderiam ser realizados? Leitura; Jogos de estratégia (xadrez, dama, jogo da velha); treino com o uso do ábaco; jogos de atenção (jogos das diferenças; caça palavras); exercícios de linguagem (ordenação de palavras; elaboração de pequenas histórias) e realização de jogos eletrônicos de plataformas de estimulação cognitiva, como o Método SUPERA, o Lumosity e o Peak. Saiba mais sobre esse conteúdo no artigo “A estimulação cognitiva no pós COVID-19: como a prática ajuda na recuperação da doença”, e cuide da saúde do seu cérebro, realize atividades de estimulação cognitiva e fortaleça a sua reserva cognitiva, para se proteger de danos do coronavírus e de outras doenças.
Destaca-se adicionalmente, que pacientes com COVID-19 devem passar por avaliação neurológica e psiquiátrica e ter sua cognição avaliada, durante o processo de alta, para o tratamento e planejamento dos cuidados em casa e um processo de recuperação mais eficaz. Pacientes infectados, mas assintomáticos podem apresentar alterações cognitivas sutis? Alterações cognitivas observadas no período posterior à infecção podem elevar o risco para síndromes demenciais? Novos estudos científicos devem trazer respostas para estas e outras dúvidas.
Assina este artigo:
Profa. Ms. Jessyka Maria de França Bram.
Gerontóloga formada pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar- SP). Mestra em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Doutoranda em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; Especialista em Reabilitação Cognitiva pela USP; Fundadora e CEO da Gerontologia Sem Fronteiras. Co-fundadora do projeto social Memory Café Brasil.
Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva.
Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Diretora Científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG) e colunista e assessora Científica de Pesquisa do Instituto SUPERA de Educação LTDA e membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer (Regional São Paulo).