A relação entre desempenho de QI e aspectos de saúde mental
Você sabia que as habilidades cognitivas desenvolvidas na infância podem ter relação com a saúde ao longo da vida? Essa reflexão motivou pesquisadores da Universidade de Viena, na Áustria, a realizarem um estudo, publicado como “Multilevel multiverse meta-analysis indicates lower IQ as a risk factor for physical and mental illness”. A pesquisa reuniu dados de quase três milhões de pessoas para investigar como o desempenho em testes de inteligência se conecta a diferentes condições de saúde física e mental na idade adulta.
O Quociente de Inteligência (QI) é uma medida padronizada que busca mensurar habilidades como raciocínio, planejamento e resolução de problemas. Ele é calculado a partir de testes psicométricos que comparam o desempenho de um indivíduo com o de outras pessoas da mesma faixa etária.
A pergunta norteadora do estudo foi se pontuações mais baixas de QI no início da vida estariam associadas a maior risco de desenvolvimento de doenças em fases mais tardias do ciclo vital. Para responder, os autores conduziram uma revisão sistemática e uma meta-análise multiverso, que testa diferentes possibilidades de análise para gerar resultados mais consistentes. Os estudos incluídos avaliaram o QI antes dos 21 anos e acompanharam os participantes por muitos anos.
Os achados indicaram que pessoas com pontuações mais baixas de QI apresentaram probabilidade mais elevada de desenvolver diversas doenças ao longo da vida. Uma diferença de 15 pontos de QI esteve associada a um aumento relevante no risco de condições como depressão, esquizofrenia, diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e demência.
O estudo também analisou fatores que influenciam a força dessa associação. Países com sistemas de saúde mais acessíveis apresentaram relações mais fracas entre QI e adoecimento, sugerindo que ambientes com maior oferta de cuidados em saúde podem reduzir as vulnerabilidades. Quando variáveis como escolaridade e nível socioeconômico foram incluídas nas análises, parte da associação diminuiu, embora o vínculo permanecesse presente. Isso indica que aspectos sociais e educacionais explicam parte importante dessas diferenças.
Entre os grupos diagnósticos, os efeitos foram mais intensos em condições de saúde mental, especialmente esquizofrenia. Já alguns tipos de câncer não apresentaram relação consistente com QI, possivelmente devido à diversidade de fatores envolvidos nesse conjunto de doenças.
Os autores chamam atenção para o fato de que a maior parte dos estudos analisados foi realizada em países ocidentais de alta renda e, em muitos casos, com predominância de homens. Isso reforça a necessidade de pesquisas mais diversas, que incluam diferentes contextos culturais, econômicos e demográficos.
Outro ponto destacado é que o QI é influenciado por fatores ambientais, como educação e oportunidades cognitivas ao longo da infância e adolescência. Assim, políticas públicas que ampliem o acesso à educação e reduzam desigualdades podem contribuir para melhores condições de saúde no futuro. Esse estudo amplia o debate sobre cognição e saúde ao mostrar que diferenças precoces de QI se associam a riscos diferenciados de adoecimento ao longo da vida. A partir disso é importante refletir sobre estratégias educacionais, sociais e de saúde que promovam oportunidades mais equitativas e trajetórias de vida mais favoráveis ao longo de todo o processo de envelhecimento.
Referência:
FRIES, Jonathan et al. Multilevel multiverse meta-analysis indicates lower IQ as a risk factor for physical and mental illness. Communications Psychology, v. 3, n. 1, p. 74, 2025.
Assinam esse texto:
Profª Msc. Gabriela dos Santos – Docente do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro (UNISA). Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Gerontologia pela Universidade de São Paulo (USP), Graduada em Gerontologia pela USP, com Extensão pela Universidad Estatal Del Valle de Toluca. É pesquisadora no Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da USP e atua com estimulação cognitiva para pessoas idosas.
Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva – Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da USP. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e vice-diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo
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