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Ageismo e a importância da empatia com os idosos durante a quarentena

Com a pandemia causada pelo novo coronavírus, os idosos ganharam nítido destaque. O número de pesquisas por esse tema e o compartilhamento de informações teve um grande crescimento. Infelizmente, nem sempre essa visibilidade ocorre de forma positiva e acontece o fenômeno idadismo. Conhece esse termo? Vamos te explicar.

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No artigo da Thais Bento Lima da semana, mostramos a importância de manter a empatia com os idosos durante o período da quarentena.

Tem sido ainda mais comum – seja por meio de textos, fala de profissionais, amigos ou até mesmo de familiares, – encontrarmos colocações que ressaltam os aspectos negativos relacionados ao processo de envelhecimento e à velhice. Contudo, é importante compreendermos que o envelhecimento é um processo contínuo, biológico e de desenvolvimento, que envolve todas as fases da vida. É composto por perdas, mas também por diversos ganhos.

Neste sentido, é comum observarmos estereótipos em relação aos idosos e ao envelhecimento. Estereótipos são julgamentos baseados em ideias preconcebidas sobre algo ou alguém. São geralmente preconceituosas e irreais, muitas vezes fruto da construção sociocultural. Esses julgamentos são transformados em ações negativas e discriminatórias.

Você certamente já viu ou até mesmo compartilhou algum “meme” (qualquer vídeo, imagem, frase, ideia, música e etc, que se espalhe entre vários usuários rapidamente, alcançando muita popularidade.) nas mídias sociais, com frases como: “Vendo gaiola para idoso teimoso”, “Cata véio: se encontrar algum véio e teimoso na rua entre em contato”, “velho teimoso”, “idoso parece criança”.

Inicialmente, manifestações desse tipo podem parecer engraçadas ou até uma forma descontraída de incentivar a pessoa idosa a cumprir o distanciamento social, orientado pelas autoridades de saúde na quarentena. Porém, frases como estas, aparentemente inofensivas, evidenciam o preconceito etário ou o chamado ageismo (termo oriundo do inglês).

O termo ageismo – que para o português ficou conhecido como idadismo, – foi utilizado pela primeira vez em 1969 por Butler, mas foi em 2004 que Palmore definiu o termo como: “O forte preconceito e discriminação contra pessoas idosas”. Ou seja, é possível notar que frases como as exemplificadas acima reforçam a discriminação de forma implícita e explícita, com os mitos e estereótipos relacionados à velhice.

Importante ressaltar que a fase final da vida é um reflexo do que se constrói ao longo de todo processo de envelhecimento. Dessa forma, podemos chegar à reflexão de que generalizar a velhice e o envelhecimento e estabelecer padrões para esta fase são reflexos do ageismo e/ou idadismo, e da construção cultural, que cultua que ser jovem é melhor e mais significativo do que ser um indivíduo velho, este sendo reduzido ao que é descartável.

Quando persistimos em pensamentos e atitudes como essas, carregadas de preconceitos a respeito da pessoa idosa, deixamos de refletir sobre questões importantes que podem afetar o bem-estar e a qualidade de vida deste segmento da população, principalmente em meio a uma pandemia como a que estamos vivendo. Momento onde o idoso precisa ter sua autoestima preservada e valorizada e precisa ter seus vínculos fortalecidos, mesmo que de modo virtual ou pontual, em decorrência do distanciamento social.

Nem sempre um idoso que “fura” a quarentena faz isso por não entender a importância do distanciamento, por ser teimoso ou não aguentar ficar recluso. Ao levarmos em consideração o grande número de idosos brasileiros que vivem sozinhos, podemos refletir sobre os desafios que enfrentam neste período. Além de estarem no grupo de risco ao novo coronavírus, ainda enfrentam dificuldades para realizar suas tarefas diárias, pela falta de suporte social.

Além desses “memes” que evidenciam o idadismo ou ageismo na quarentena, vizinhanças mais solidárias vieram à tona. Pessoas mais jovens, fora do grupo de risco, passaram a se disponibilizar para realizar compras e providenciar itens essenciais aos seus vizinhos idosos, que muitas vezes antes não conheciam. Atitudes como essas incentivam a intergeracionalidade e o fortalecimento de redes de suporte, que poderão perdurar para além do momento atual.

Cenários como esses também são importantes oportunidades para refletirmos sobre a importância da empatia, do senso de grupo e de pertencimento e da oportunidade de acolhermos o outro e as suas particularidades, como nos exemplos vistos relacionados à solidariedade de muitos cidadãos que estão se unindo para ajudar os indivíduos menos favorecidos.

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Fontes:

Associação Brasileira de Gerontologia. Gerontologia [Internet]. 2020 fev [acesso em 2020 jun 10]. Disponível em: https://www.abgeronto.org.br/noticias/nota-repudio-ageismo

Couto, M. C. P., Koller, S. H., Novo, R., & Soares, P. S. Avaliação de discriminação contra idosos em contexto brasileiro-ageismo. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 2009. 25(4), 509-518.

Texto escrito por:

Mariana Garcia Zumkeller- Graduada em Gerontologia pela Universidade de São Paulo (USP), Gerontologia Social na Escola Superior de Educação de Coimbra no Instituto Politécnico de Coimbra- Portugal. Experiência em Iniciação Científica  pelo Programa Unificado de Bolsas da USP. Membro da pesquisa científica de validação do Método SUPERA.

Thais Bento Lima-Silva- Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva, Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Conselheira Executiva da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG) e Colunista e Assessora Científica de Pesquisa do SUPERA.

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