Como ajudar pessoas com demência a ter mais independência?
Pessoas diagnosticadas com demência em estágio inicial lutam para administrar sua rotina diária escrevendo notas, diários e listas para lembrá-los do que fazer. No entanto, eles ainda podem esquecer todos os passos necessários para completar uma tarefa, como por exemplo, tomar o medicamento ou preparar o almoço. Os familiares conseguem apoiá-los ocasionalmente, mas ter um cuidador em tempo integral não é uma solução acessível a todos.
Nesse cenário, surgem equipamentos tecnológicos que podem auxiliar pessoas diagnosticadas com demência a permanecerem independentes por mais tempo. Assistentes pessoais inteligentes controlados por voz (Voice-controlled Intelligent Personal Assistants – VIPAs) como é o caso do aplicativo My Carer , ajudam as pessoas que vivem com demência, em estágio inicial, a seguirem sua rotina diária com um bom nível de independência.
Esses dispositivos envolvem algoritmos de Machine Learning e inteligência artificial. Com sua interface em viva-voz, ajudam seus usuários a lembrarem do horário da medicação e, até mesmo, como preparar seu almoço, ou seja, o aplicativo serve como um guia para cada tarefa. E, além disso, ajudam instituições como a Sociedade de Alzheimer do Reino Unido a entenderem melhor as demências como a Doença de Alzheimer (DA). Graças às suas capacidades de coleta de dados, pode-se identificar e estudar padrões de comportamento nunca vistos e prever melhor os estágios das demências. Os estudos acerca dos assistentes de voz ainda estão no início, mas são bastante promissores.
Nesse contexto, O’Brien e colegas analisaram as avaliações de idosos que compraram o equipamento e postaram no site da compra suas impressões. Havia mais de 73 mil comentários, com a filtragem de palavras-chave, 125 avaliações no total foram analisadas, posteriormente. Assim, foram identificados cinco temas principais relacionados a aquisição da VIPA: (1) entretenimento (“… realmente nos divertimos muito com a Echo. Ela nos conta piadas, responde a perguntas, toca música.); (2) companheirismo (“… Agora tenho Alexa para conversar. “); (3) controle da casa; (4) lembretes (” Eu precisava de algo que me fornecesse informações que não conseguia lembrar bem, como a data, dia ou minha programação … Eu recomendo fortemente para qualquer pessoa com problemas de memória “); e por último, (5) comunicação de emergência.
Vários idosos também sentiram que reduziu a sobrecarga dos seus cuidadores. (“Você também sente culpa por medo de sobrecarregar seus cuidadores. Alexa aliviou muito isso”). Especificamente, os cuidadores descobriram que ao fazer a lista de reprodução de músicas de sua juventude, o familiar ou cuidador profissional, pode simplesmente solicitar a música certa para o momento, a fim de acalmar ou distrair. Entretanto, os revisores captaram também avaliações negativas em relação à VIPA, ressaltando que por vezes o equipamento não respondia adequadamente as questões solicitadas.
Brien e colegas concluíram com a análise de que as VIPAs são uma inteligência artificial de baixo custo e por isso pode apoiar idosos em casa e, potencialmente, reduzirem a sobrecarga do cuidador. Foi o primeiro estudo a explorar o uso de VIPA entre adultos mais velhos que examinou os benefícios da VIPAs no apoio ao envelhecimento.
Por fim, recentemente, em 2021, Ermolina e Tiberius entrevistaram especialistas em VIPAs com o uso da técnica de Delphi e documentaram as seguintes projeções para os próximos 05 anos:
Tecnologia
- Assistentes pessoais inteligentes controlados por voz (VIPAs) serão capazes de dar conselhos médicos sólidos com base em informações médicas pessoais, instruções e planos.
- VIPAs serão capazes de manter uma conversa humana.
- VIPAs serão capazes de levar em consideração as emoções, humor e características dos pacientes.
- VIPAs superam os humanos na qualidade da anamnese e na capacidade de ter o histórico médico completo disponível.
Aceitação do Consumidor
- Do ponto de vista do paciente, os Vips proporcionarão uma experiência livre de frustrações.
- Muitos pacientes usarão regularmente vias para consultas relacionadas à saúde.
- Devido ao uso simples, uma grande parte dos idosos usará VIPAs.
- A maioria dos pacientes preferirá a comunicação humana em vez da comunicação VIPA quando precisar de suporte psicológico.
- A maioria dos pacientes preferirá VIPAs devido à economia de tempo e custos.
- Os pacientes considerarão a confiança nos provedores de conteúdo (proprietários de aplicativos de voz, como hospitais e empresas farmacêuticas) mais importante do que a confiança nos provedores VIPA (por exemplo, Amazon e Google).
Casos de uso potenciais
- VIPAs serão amplamente usados como ferramentas de anamnese em tempo real remotas e internas.
- As VIPAs serão amplamente utilizadas como ferramentas de suporte para diagnóstico de doenças que podem ser detectadas por meio das características da fala.
- As VIPAs serão amplamente utilizadas como ferramentas de instrução sem uso das mãos para a equipe médica (por exemplo, em ambientes estéreis).
- As VIPAs serão amplamente utilizadas como ferramentas de comunicação entre a equipe médica e os pacientes.
- VIPAs serão amplamente utilizadas como ferramentas de autoterapia para pacientes fora da clínica.
Normas de privacidade e proteção de dados
- A maioria dos VIPAs estará em conformidade com os regulamentos aplicáveis com relação a informações de saúde protegidas.
- A maioria dos provedores VIPA irá descontinuar o uso de subcontratados para aumentar a confiança na segurança dos dados.
- As preocupações do governo com a privacidade diminuirão muito.
- A maioria dos clientes compartilhará deliberadamente informações confidenciais de saúde com VIPAs.
- Regulamentos muito rígidos inibirão as VIPAs de fornecer serviços de ajuda médica confiáveis e de alta qualidade.
E aí, gostou do artigo? Você tem uma VIPA em casa? Se sim, ela tem sido útil no seu dia a dia? Se você ainda não possui uma VIPA, compraria uma?
Assinam este artigo
Tiago Nascimento Ordonez
Gerontólogo pela Universidade de São Paulo (USP), especialista em Estatística Aplicada pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) e Pós-graduando do MBA em Data Science e Analytics pela USP. Exerceu a função de Gerontólogo na Prefeitura de São Caetano do Sul entre os anos de 2014 a 2016. E esteve como coordenador do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFVI) da Prefeitura de Diadema entre 2017 e 2020. Atualmente é membro do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo (GETC) da USP.
Guilherme Alves da Silva
Estudante de Graduação do curso de bacharelado em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Atualmente faz estágio na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração pelo Instituto SUPERA – Ginástica para o Cérebro. Tem interesse na área de treino de estimulação cognitiva, com foco na prevenção das funções cognição globais e no estudo da neurociência. Já foi voluntário na Universidade Aberta à Terceira Idade da EACH-USP, atual USP60 + nas oficinas de teatro, música e dança sênior. Ex-Diretor do Recursos Humanos (RH) da Empresa Júnior de Gerontologia e assessor em Marketing Digital (MD) entre os anos de 2019 a 2020. É membro da Liga de Gerontologia. É membro da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG).
Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva
Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É assessora científica e consultora do Método Supera.
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