Avanço da ciência e a urgência de políticas públicas de prevenção em demências
Novas moléculas podem reduzir o declínio cognitivo; mas prevenção é o melhor remédio e tem evidências científicas mais robustas

Com o crescimento acelerado da população idosa, o Brasil encara o desafio de lidar com o aumento dos casos de demência, exigindo ações integradas entre ciência, prevenção e políticas públicas de cuidado. O Brasil enfrenta um cenário demográfico desafiador: entre 2010 e 2022, a população geral cresceu 6,4%, mas o número de pessoas com 60 anos ou mais aumentou expressivos 56%, nove vezes mais. Esse envelhecimento acelerado da população acarreta um crescimento preocupante nos transtornos associados à idade, em especial a demência.
Segundo o Relatório Nacional sobre a Demência no Brasil, as estatísticas globais e nacionais sobre demência são alarmantes. Em 2019, mais de 55 milhões de pessoas viviam com a condição em todo o mundo, e as projeções indicam que esse número pode ultrapassar os 150 milhões até 2050. No entanto, é importante ressaltar que esses dados podem estar subestimados, uma vez que a maioria dos estudos brasileiros se concentra na Região Sudeste. Um consenso recente de especialistas sugere que o número real de brasileiros com demência em 2019 era de 2,71 milhões.
A Fundação de Amparo á Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) publicou uma matéria sobre uma pesquisa científica que oferece novas esperanças. Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade de São Paulo (USP) identificaram a hevina, uma glicoproteína produzida naturalmente pelos astrócitos (células de suporte do cérebro), que demonstrou a capacidade de reverter déficits cognitivos em camundongos envelhecidos e em modelos experimentais da doença de Alzheimer.
Publicado na revista Aging Cell, o estudo mostrou que a superprodução de hevina aumenta as conexões entre os neurônios (sinapses), melhorando a qualidade dessas conexões e, consequentemente, o desempenho cognitivo. A pesquisa evidencia as funções astrócitos nesse processo, abrindo novas frentes para entender e tratar a doença de Alzheimer, que vão além do foco tradicional nos neurônios.
Os pesquisadores destacam que ainda há um longo caminho relacionado à pesquisa nessa área, um dos motivos é justamente por ter sido realizada em camundongos, exigindo pesquisas em seres humanos para compreender os mecanismos e resultados desse experimento. Além disso, se no futuro for possível desenvolver um remédio que estimule a produção dessa molécula, será preciso garantir que ele seja seguro, funcione bem e consiga chegar ao cérebro, o que envolve diferentes desafios científicos.
Mas importante se atentar, a prevenção ainda é o melhor remédio, pois as evidências científicas são mais robustas nestes estudos.
Apesar de ser um estudo de ciência básica, a descoberta da hevina aponta para novos mecanismos moleculares e celulares da demência, mesmo que o desenvolvimento de um fármaco ainda exija longos e complexos passos, como a superação da barreira hematoencefálica. Curiosamente, a superprodução de hevina reverteu o déficit cognitivo em camundongos sem alterar a deposição das placas beta-amiloides, sugerindo que essas placas podem não ser a única causa da doença, realçando a complexidade multifatorial da demência. Isso indica que a hevina atua por um mecanismo alternativo, com potencial para contribuir na preservação das funções cognitivas. Complementando a busca por tratamentos, um estudo publicado na revista Lancet apresenta ações específicas para reduzir o risco de demência ao longo da vida, foram descobertos 14 fatores de risco modificáveis:
E quais são essas estratégias de prevenção cientificamente indicadas?
1. Garantir que uma educação de boa qualidade esteja disponível para todos e incentivar atividades cognitivamente estimulantes na meia-idade para proteger a cognição;
2. Tornar os aparelhos auditivos acessíveis para pessoas com perda auditiva e diminuir a exposição ao ruído prejudicial para reduzir a perda auditiva; 3. Trate a depressão de forma eficaz;
4. Incentivar o uso de capacetes e proteção para a cabeça em esportes de contato e em bicicletas;
5. Incentivar o exercício físico porque as pessoas que praticam desporto e exercício têm menos probabilidade de desenvolver demência;
6. Reduzir o consumo de cigarros por meio da educação, do controle de preços e da prevenção do fumo em locais públicos, além de tornar acessíveis os conselhos sobre como parar de fumar;
7. Prevenir ou reduzir a hipertensão e manter a pressão arterial sistólica de 130 mmHg ou menos a partir dos 40 anos;
8. Detectar e tratar o colesterol LDL alto a partir da meia-idade;
9. Manter um peso saudável e tratar a obesidade o mais cedo possível, o que também ajuda a prevenir a diabetes;
10.Reduzir o consumo elevado de álcool através do controlo de preços e da maior consciencialização sobre os níveis e riscos do consumo excessivo; 11. Priorizar ambientes comunitários e habitações favoráveis e favoráveis à idade e reduzir o isolamento social, facilitando a participação em atividades e a convivência com outras pessoas;
12.Tornar o rastreio e o tratamento da perda de visão acessíveis a todos; 13.Reduzir a exposição à poluição do ar.
Com o crescente número de pessoas com demência no Brasil, é primordial que a sociedade e as políticas públicas abordem tanto o desenvolvimento de novos tratamentos, como a pesquisa da Hevina, quanto a implementação de estratégias preventivas para os fatores de risco conhecidos, visando melhorar a qualidade de vida e o futuro da população idosa.
Referências consultadas.
AGÊNCIA FAPESP. Molécula reverte déficit cognitivo associado ao envelhecimento e à demência em testes com animais. Agência FAPESP, 12 jun. 2014. Disponível em:
https://agencia.fapesp.br/molecula-reverte-deficit-cognitivo-associado-ao-envelhecim ento-e-a-demencia-em-testes-com-animais/54738. Acesso em: 3 jun. 2025. CABRAL‐MIRANDA, F. et al. Astrocytic Hevin/SPARCL‐1 Regulates Cognitive Decline in Pathological and Normal Brain Aging. Aging Cell, 12 fev. 2025. https://agencia.fapesp.br/molecula-reverte-deficit-cognitivo-associado-ao-envelhecim ento-e-a-demencia-em-testes-com-animais/54738
LANCET COMMISSION ON DEMENTIA PREVENTION, INTERVENTION, AND CARE. Risk factors for dementia: 2024 update. The Lancet, v. 404, n. 10250, p. 1–12, 2024. DOI: 10.1016/S0140-6736(24)01296-0. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(24)01296-0/fulltext.
Acesso em: 3 jun. 2025.
Ana Beatriz S. Ferraz
Graduanda do Bacharelado em Gerontologia pela Universidade de São Paulo. Atua como estagiária no Portal do Envelhecimento e Longeviver e no Hospital Universitário da USP. É também bolsista de Iniciação Científica pelo CNPq, vinculada à Faculdade de Medicina da USP. www.linkedin.com/in/ana-beatriz-s-ferraz-a3a7a2132
Raissa Heizenreider
Graduanda do Bacharelado em Gerontologia pela Universidade de São Paulo. Atualmente, realiza estágio no Hospital Universitário da USP e desenvolve pesquisa como bolsista de Iniciação Científica pelo CNPq, vinculada à Faculdade de Física da USP. https://www.linkedin.com/in/raissa-heizenreider-670a3724a/
Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva.
Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Coordenadora de grupos de apoio, da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera na condução de ensaios clínicos. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da USP. E-mail: thaisbento@usp.br
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