Especial Setembro roxo: Conheça o banco de cérebros da USP !

Publicado em: 31/08/2022 Por Assessoria de Imprensa SUPERA

Em alusão ao mês Mundial da Doença de Alzheimer, o SUPERA preparou uma série de reportagens e entrevistas especiais sobre a saúde do Cérebro. Neste semana, o tema de entrevista é o Banco de cérebros da USP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), maior Banco de Encéfalos da América Latina, confira:

1.      Quando esse banco de cérebros foi idealizado, qual foi a inquietação que os idealizadores tiveram para motivação desse projeto?

O Biobanco para Estudos no Envelhecimento (BEE), também conhecido como banco de cérebros da FMUSP, foi idealizado por professores dos Departamentos de Patologia, Neurologia e Disciplina de Geriatria da FMUSP em 2004. O objetivo era fornecer dados clínicos e neuropatológicos para subsidiar a realização de pesquisas, para compreender os fatores associados ao envelhecimento cerebral normal e patológico.

banco de cérebros da USP

2.      Quais os princípios éticos para se conseguir doações de cérebros? Os cérebros de pessoas com condições especiais, as quais a impedem de fazer escolhas, podem ser doados pelos familiares?

Para a formalização da doação de órgãos para pesquisa é necessário que o familiar responsável autorize o procedimento. Essa autorização é fornecida por meio de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), o qual é apresentado e explicado detalhadamente aos familiares pelas gerontólogas da equipe. O termo reúne informações como os objetivos do estudo; como funciona o procedimento de autópsia; benefícios do estudo para a melhoria de tratamentos das doenças estudadas, ausência de prejuízos e de influência na realização e liberação do corpo. Também é enfatizado que se trata de um estudo voluntário e participante pode desistir a qualquer momento, dessa forma a doação só é formalizada após um representante familiar voluntariamente aceitar e assinar o termo demonstrando consentimento.

A deliberação da decisão geralmente ocorre pelo mesmo familiar que vai reclamar o corpo no Serviço de Verificação de Óbitos da Capital da Universidade de São Paulo (SVOC-USP), que possui autonomia para a medida. Na ocasião, convidamos o responsável legal e mais um familiar, que geralmente é parente de primeiro grau, após ouvirem a explicação sobre o projeto e lerem o TCLE, esses familiares chegam a um consenso da resposta. Existem alguns casos em que há negativa porque em vida o parente falecido demonstrou desejo em vida em não doar ou algo semelhante e essa vontade é respeitada pelos familiares, que confirmam a negativa. Mas, em sua maioria, a negativa ocorre quando não há consenso entre os familiares, motivos religiosos ou quando familiares não estão em condições emocionais para pensar e/ou responder as perguntas.

Como é o banco de cérebros da USP?

3.      Existem regras que limitam a coleta dos cérebros, como faixa etária, doenças específicas e ou condições especiais para este banco de encéfalos?

Sim, por se tratar de um biobanco de estudos, no banco de cérebros da USP contamos com diversos critérios de seleção para verificar se os familiares serão abordados para apresentação da pesquisa. Porém, no geral, dois critérios estão presentes em todos os projetos do Biobanco: o familiar responsável ter convivência diária ou semanal com o falecido e o intervalo da hora do óbito até a hora em que será realizada a autópsia não ultrapassar 24 horas. Esse cuidado é realizado para garantir que as informações coletadas sejam confiáveis e o material biológico esteja em condições apropriadas para análise, respectivamente.

Atualmente o BEE conta com sete projetos em andamento, os quais possuem critérios de inclusão e exclusão bem determinados. Podemos citar estudos como um    que   avalia a relação das doenças cardíacas com demência, que por sua vez utiliza a idade com um dos principais critérios de inclusão. Outro estudo considera a inclusão de doenças psiquiátricas como depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar,                        ttique e transtorno obsessivo compulsivo (TOC) . Em geral, os critérios de seleção dos demais estudos verificam idade,  doenças e prática de esporte atlético.

banco de cérebros da USP

4.      As diretrizes deste trabalho permitem a coleta do cérebro de pessoas que são enterradas como indigentes?

Não, porque a realização da doação para o banco de cérebros da USP envolve deliberação e consentimento de familiar responsável. Ainda, esses casos não se aplicam, pois casos de indigentes são encaminhados para o Instituto Médico Legal (IML) e só abordamos familiares de casos que vão para o SVOC-USP, que recebe corpos com causa de morte natural.

5.      Quais os interesses científicos ao se pesquisar o cérebro humano?

O cérebro humano ainda não é totalmente compreendido pela ciência, não está claro porque algumas pessoas desenvolvem certas doenças cerebrais e outras não, haja vista sua relação com os demais sistemas do corpo humano. Ainda buscamos compreender quais os fatores poderiam estar associados ao aparecimento de doenças cerebrais de alta prevalência e morbi-mortalidade como as síndromes demenciais. O que justifica a realização de uma ampla entrevista, contendo múltiplos dados demográficos, antecedentes pessoais e dados funcionais. A ideia é que possamos subsidiar a atuação clínica a fim de melhorar os tratamentos existentes, pensando na prevenção e na promoção de saúde.

Início dos trabalhos: como é o banco de cérebros da USP?

6.      Desde que se iniciou a observação dos cérebros, quais foram os principais achados?

A partir da análise dos dados do BEE foi possível compreender os fatores de risco para demência no Brasil, que em sua maioria estão associados à baixa escolaridade, baixo nível socioeconômico e alta incidência de doenças cardiovasculares.

7.      Com o passar dos anos, tivemos diversos avanços em relação à tecnologia, aqui no Brasil, por exemplo, o uso de dispositivos digitais, como conhecemos hoje, se popularizaram nos anos 2000. Após esse período, foi possível observar mudanças estruturais e anatômicas dos cérebros, como dimensão, diâmetro etc?

Não analisamos estes dados e não temos como responder essa pergunta. Vale lembrar que nosso Biobanco foi fundado em 2004.

  • Neste centro de estudos foi possível observar diferenças específicas entre o cérebro de um atleta, que não se dedicou muito a vida acadêmica e de um cientista, estudioso e ou pesquisador?

Ainda não realizamos um estudo para essa finalidade e objetivo específico . Temos dois estudos mostrando que quanto maior a escolaridade, menor a chance de desenvolver demência.

9.      O cérebro de indivíduos que fizeram a utilização de muitos medicamentos ao longo da vida, tem alguma característica específica?

Não analisamos esses dados.

10.  Quais as principais dificuldades de se estudar os encéfalos neste centro de pesquisa?

Do ponto de vista da equipe de entrevista clínica, o maior desafio para realização dos estudos em cérebros é a adesão por parte dos familiares. Por se tratar de um momento de luto, especialmente nos casos em que o informante é o principal cuidador, o responsável familiar se encontra desgastado físico e emocionalmente. Nesse contexto, não gostaria que fosse realizado exame de autópsia. Ainda, a doação de órgãos para estudos científicos não é totalmente conhecida pela comunidade, o que apresenta uma barreira adicional de adesão.

Esta entrevista contou com a colaboração das pesquisadoras do Banco de Cérebros da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, maior banco de encéfalos da América Latina.

banco de cérebros da USP
Paula Akemi

Paula Akemi Nagai Costa

Gerontóloga formada pela USP (2009) com pós graduação em Psicogerontologia pela Unip (2015). Possui 8 anos de experiência com coordenação de atividades do Centro de Convivência para Idosos da Beneficência Nipo-Brasileira de São Paulo (2010-2018). Há um ano trabalha como entrevistadora clínica do Biobanco para Estudos em Envelhecimento (BEE)  da Faculdade de Medicina da USP.

banco de cérebros da USP
Stephanie Faria

Stephanie Faria

Possui graduação em Gerontologia pela Universidade Federal de São Carlos e Mestrado em Ciências pelo Programa de Pós Graduação em Saúde Mental – FMRP|USP.  Possui experiência em gestão do cuidado, gestão de pessoas, prevenção e promoção em saúde e assistência ao idoso. Na área de pesquisa, estudou na academia temas relacionados à qualidade de vida, ansiedade e doença de Parkinson. Trabalha como entrevistadora clínica no Biobanco para Estudos em Envelhecimento (BEE) desde 2019.

banco de cérebros da USP
Claudia Kimie

Claudia Kimie Suemoto

Claudia Suemoto é médica graduada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), com residência em Clínica Médica e Geriatria pela mesma instituição. Tem doutorado em Ciências, no qual pesquisou a associação entre fatores de risco cardiovascular e demência. Fez mestrado em Epidemiologia e pós-doutorado pela Harvard School of Public Health. Claudia é Professora Associada da Disciplina de Geriatria da FMUSP. É pesquisadora do Biobanco para Estudos em Envelhecimento da FMUSP e do Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (ELSA-Brasil). Sua pesquisa tem como principais focos o envelhecimento cerebral normal, as demências e suas associações com doenças cardiovasculares. Em 2016, fui uma das laureadas com o prêmio “Para Mulheres na Ciência” promovido pela L’Oreal, UNESCO e Academia Brasileira de Ciências. Em 2022, recebeu o prêmio Ewald W. Busse Research Award in the Biomedical Sciences por sua contribuição para os estudos em envelhecimento. Claudia é editora associada das revistas BMC Geriatrics, Frontiers in Neurology (Dementia and Neurodegenerative Diseases), PLOS One, Dementia & Neuropsychologia e do Brazilian Journal of Medical and Biological Research. Claudia é bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq – Nível 2.

Especial Setembro roxo: Conheça o banco de cérebros da USP ! - SUPERA - Ginástica para o Cérebro
Thais Bento

Entrevista conduzida por: Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva

Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É assessora científica e consultora do Método Supera.

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1 comentário para "Especial Setembro roxo: Conheça o banco de cérebros da USP !"

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  • Raimunda Bezerra de Souza disse:

    Muito interessante e necessário este estudo , tendo que não há cura para o alzheimer . Pesquisas são de suma importância.
    Parabéns a todos os envolvidos, e gratidão por nos manter informados sobre o assunto.

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