A Teoria da Seletividade Socioemocional e a pessoa idosa
A Teoria da Seletividade Socioemocional, fundamentada por Laura Carstensen, sustenta que as restrições nos horizontes de tempo futuro motivam as diferenças de idade nas preferências sociais, a implantação seletiva de recursos cognitivos e o envolvimento em comportamentos pró-sociais.
Além disso, essas restrições mudam as prioridades motivacionais de tal forma que a regulação dos estados emocionais se torna mais importante do que outros tipos de objetivos.
No vídeo “Laura Carstensen: Os idosos são mais felizes”, disponível no Youtube, a pesquisadora Laura Carstensen relata que os idosos parecem encarar a tristeza mais confortavelmente, ou seja, lidam melhor com esse sentimento em comparação aos mais jovens, e isso pode estar relacionado ao fato dos idosos solucionarem melhor os conflitos.
Outra informação interessante relata no vídeo mencionado anteriormente é que se tudo estiver correndo bem, os idosos direcionam os seus recursos cognitivos para uma informação mais positiva do que negativa, Laura Carstensen apresenta dois exemplos:
- Se mostrarmos para as pessoas jovens, adultas e idosas, imagens que retratam inúmeras emoções e pedirmos para lembrar das imagens que puderem, os idosos lembraram mais das imagens positivas do que das negativas;
- Se pedimos a jovens e idosos observarem rostos em estudos laboratoriais, os idosos olham em direção aos rostos sorridentes e não para os rostos sérios e zangados.
Teoria da seletividade socioemocional: A estudiosa nas relações sociais da pessoa idosa, entenda quem é Laura Carstensen
Laura Carstensen é Professora de Psicologia na Universidade de Stanford e diretora fundadora do Stanford Center on Longevity. Seu programa de pesquisa inclui estudos teóricos e empíricos de mudanças motivacionais e emocionais que ocorrem com a idade e a influência dessas mudanças no processamento cognitivo.
Caso tenha um pouco mais de interesse, a biografia disponibilizada pela Stanford Center on Longevity está disponível AQUI:
Estudos publicados nos últimos anos sobre o tema relações sociais e intensidade das relações na velhice.
Em seu estudo, Carstensen et al. (2020) levantaram a hipótese de que as diferenças de idade seriam preservadas, mesmo durante esse período frágil da pandemia de COVID-19, a partir da Teoria da Seletividade Socioemocional e sustentado por evidências empíricas sobre um efeito de positividade relacionado à idade. Sua amostra foi composta por 945 indivíduos entre 18 e 76 anos que moravam nos Estados Unidos.
Obtiveram resultados positivos de que o funcionamento emocional não apenas pode ser poupado do declínio relacionado à idade, mas também pode ser melhorado. Mesmo quando envolvidos por ameaças persistentes e terríveis à saúde e ao bem-estar, os idosos apresentam notável resiliência emocional.
Em outro estudo, Carstensen (2020) relata que em seu primeiro projeto, cujo enfoque foi investigar padrões emocionais em uma amostra de americanos negros e brancos com idades entre 18 e 79 anos, que com o tempo, os idosos se tornam mais estáveis emocionalmente e, no geral, mais positivos.
Ainda assim, entre raça, gênero e status socioeconômico, os resultados mostraram que há poucas evidências de que os idosos são mais felizes que os jovens, porém, os mais velhos são menos infelizes do que os mais jovens – corroborando com o vídeo realizado por Carstensen, onde há uma maior aceitabilidade em lidar com problemas na velhice.
Em uma pesquisa realizada pelas autoras Chiarelli e Batistoni (2019), objetivou-se investigar a relação da Teoria da Seletividade Socioemocional em idosos usuários do Facebook. Foram encontradas associações entre a idade e satisfação com a vida dos 130 idosos recrutados para a amostra. Nesse quesito, as relações sociais via Facebook mostraram uma nova forma de atuação de metas sociais, sugerindo novos mecanismos adaptativos associados à satisfação de vida e interação social na velhice.
Como descrito, a Teoria da Seletividade Socioemocional proposta por Laura Carstensen visa três objetivos: ser uma fonte de informação; ajudar as pessoas a se desenvolverem e manterem uma noção de si próprias; e ser uma fonte de prazer e conforto ou bem-estar.
No cotidiano dos idosos a função reguladora da emoção e dos contatos sociais começam a se reafirmar. Com isso, os idosos buscam cada vez mais outras pessoas que as façam se sentir bem, tornando-se mais seletivos em suas amizades, comunidade e em seu comboio social.
Em outras palavras, em virtude da mudança em sua perspectiva de vida futura, os idosos passam a selecionar metas, parceiros e formas de interações divergentes com o objetivo de permitir uma otimização em seus recursos de vida. Dessa forma, as relações sociais são mais próximas: com a família, vizinhos e amigos que lhes tragam experiências emocionais e sociais significativas
Em suma, a aplicação da Teoria da Seletividade Socioemocional na população idosa sugere que há uma maior seletividade nos contatos sociais com base na evolução da importância relativa das interações sociais como fonte de informação e bem-estar emocional.
Assinam este artigo:
Cássia Elisa Rossetto Verga
Estudante de Graduação do curso de bacharelado em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Atualmente faz estágio na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração pelo Instituto SUPERA – Ginástica para o Cérebro. Tem interesse na área de treino e estimulação cognitiva para idosos, com enfoque em neurologia cognitiva. É membro da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Já foi bolsista PUB da Universidade Aberta à Terceira Idade da EACH-USP, atual USP60 + nas oficinas de música e letramento digital. Participou como assessora de Projetos e Recursos Humanos na Empresa Geronto Júnior entre os anos de 2019 a 2020.
Graciela Akina Ishibashi
Estudante de Graduação do curso de bacharelado em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Realizou estágio no Centro Dia Bom Me Care entre os anos de 2019 a 2020. Atualmente faz estágio na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração pelo Instituto SUPERA – Ginástica para o Cérebro. Tem interesse na área de estimulação cognitiva com jogos. Já foi voluntária na Universidade Aberta à Terceira Idade da EACH-USP, atual USP60 + nas oficinas de origami, dança sênior e letramento digital.
Gabriela dos Santos
Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Gerontologia pela Universidade de São Paulo (USP), Graduada em Gerontologia pela USP, com Extensão pela Universidad Estatal Del Valle de Toluca. Assessora científica.
Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva
Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É assessora científica e consultora do Método Supera.
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