Transtorno de acumulação e prejuízos cognitivos: é possível tratar?

Publicado em: 21/04/2021 Por Assessoria de Imprensa SUPERA

Você já deve ter ouvido falar em transtorno de acumulação, e pode ter tido dúvidas relacionadas a esta doença. Mas afinal o que é este transtorno?

É uma síndrome psiquiátrica que atinge 4% da população mundial, não escolhe idade, nem sexo, nem classe social e podendo causar prejuízos cognitivos, sociais, funcionais e físicos. Inconscientemente, a pessoa acometida desenvolve a compulsão, um desejo incontrolável, de comprar, recolher e acumular.

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No transtorno de acumulação o problema fica mais evidente em idade mais madura e assim geralmente adquire um estigma equivocado de “doença de pessoas idosas”.

Porém, na verdade, estudos indicam que pode se iniciar na infância, como um comportamento disfuncional, e se intensificar na meia-idade, com a maior autonomia para compras.

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Além disso, muitos casos têm sido identificados como reflexo dos avanços relacionados aos sistemas e órgãos de proteção de direitos da pessoa idosa tem recebido e exercido ultimamente.

Suas consequências podem ser dramáticas. Em nível individual, a síndrome pode interferir no autocuidado e em atividades básicas, como a higiene pessoal e do ambiente, a alimentação e o sono.

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Há um aumento, principalmente em idosos, do risco de quedas, má nutrição, má gestão de saúde e de medicamentos. Em nível social, pode causar prejuízos, inclusive financeiros, na relação com familiares, vizinhos e amigos.

Quando não são adquiridos, os objetos acumulados são coletados, até mesmo do lixo, e o sujeito, envolvido pelo fascínio que desenvolve, se encontra incapaz de descartá-los, mesmo sem terem qualquer utilidade ou sendo nocivos para a saúde.

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A casa se transforma em um depósito abarrotado, desordenado e malcheiroso, o que pode em casos mais extremos levar até a uma ameaça de despejo.

O indivíduo, apesar de levar uma vida aparentemente comum, se isola socialmente, se mantém em estado de aflição, com a sensação de perigo permanente, se torna um colecionador de velharias e tralhas, e muitas vezes um acumulador de animais, que não reconhece sua situação como um problema de saúde mental que precisa de tratamento.

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Esse comportamento irregular é associado a alterações no cérebro dos chamados acumuladores compulsivos, as quais interferem nas sensações de algumas emoções negativas, como nojo e vergonha, bem como na forma como essas pessoas tomam decisões que envolvem conflitos e incertezas.

Alguns estudos apontam também para a ocorrência de prejuízos cognitivos relacionados à atenção e à organização espacial.

O transtorno de acúmulo pode emergir ao longo da vida como reação a uma experiência mais traumática, como por exemplo conflitos profissionais, dificuldades econômicas, solidão ou a morte de um ente querido, fazendo com que o indivíduo apresente sentimentos, afetos, pelos objetos, animais e por ocupar espaços em seu ambiente de moradia, sem preocupar-se com o excesso, com a organização e com a higienização.

Por isso, os acumuladores não devem ser discriminados ou vistos como pessoas desleixadas, sem força de vontade para mudar de vida. Pelo contrário, devem ser acolhidos, reconhecidos como pessoas que precisam de auxílio e de tratamento interdisciplinar e multidisciplinar.

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Como uma síndrome em que os sintomas se agravam com o envelhecimento, é de suma importância identificar os sinais precocemente. Quanto mais cedo forem identificados melhor as chances de adesão, de aceitarem o processo de desocupação de espaços e cômodos, e de cooperação com o tratamento, visto que muitos sinais são decorrentes de uma baixa motivação, uma possível mudança que ocorre no estilo de vida da pessoa com a realização de algum tratamento e, na maioria dos casos, não é o próprio paciente que relata o problema ou procura ajuda e sim por meio de relatos de pessoas próximas ao paciente.

Uma possível aproximação ao problema do acumulador compulsivo deve levar em consideração a estratégia de redução de danos, com a busca da organização do ambiente e a diminuição dos objetos e/ou animais por meio de um acolhimento compassivo e uma orientação a escolhas possíveis.

Deve-se considerar também a participação da família e/ou outros vínculos afetivos e de confiança, numa abordagem psicossocial, com o intuito de auxiliar o indivíduo a reconhecer os riscos à saúde decorrentes de seu comportamento.

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            Mais especificamente na psicologia, a Terapia Cognitiva Comportamental é considerada a abordagem mais comum no transtorno de acumulação.

O objetivo geral é proporcionar uma reestruturação dos pensamentos, ou seja, modificar as crenças sobre posses, criar estratégias para a diminuição dos hábitos de coleta e auxiliar na tomada de decisão do paciente, por meio de técnicas como a reestruturação cognitiva, a exposição gradual, o treino de habilidades sociais e o emprego de estratégias motivacionais. Há relatos de benefícios também com a aplicação de intervenções em casa com atividades de resolução de problemas e de desenvolvimento de habilidades de organização.

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Os indivíduos com sintomas depressivos precisam receber uma atenção maior no caso de apresentarem sinais de acumulação, pois a depressão é um fator que pode agravar o transtorno.

Uma possibilidade de tratamento que aponta para benefícios nesses casos, tanto para o transtorno em si como para a redução dos sintomas depressivos e ansiosos, é a terapia de grupo.

Orienta-se também que indivíduos que tendem a apresentar comportamentos de acúmulo, possam ter um maior preenchimento do tempo livre de forma útil e prazerosa, realizando atividades integrativas, como atividades físicas e/ou de estimulação cognitiva para estimular a saúde como um todo.

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Graciela Akina Ishibashi

graduanda em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). Estagiária do projeto de validação do Método SUPERA. Estudante de iniciação científica na área de treino cognitivo.

Mauricio Einstoss de Castro Barbosa

Graduado em Gerontologia pela Universidade de São Paulo (USP), com participação no Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde/Interprofissionalidade), teve atuação como estagiário de Gerontologia na Coordenação de Políticas Para a Pessoa Idosa – Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania – Prefeitura de São Paulo.

Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva

Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. E assessora científica e consultora do Método SUPERA.

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