
As celebrações de Natal e Ano Novo normalmente são associadas a reencontros familiares e momentos afetivos. Entretanto, para muitas pessoas idosas, esse período pode representar um momento de intensificação da solidão, da tristeza e de lembranças negativas, tornando-se um fator de risco para o bem-estar emocional. As pessoas que moram sozinhas, aquelas que perderam vínculos familiares significativos ou enfrentam limitações funcionais estão em maior vulnerabilidade.
O isolamento social está associado ao aumento de sintomas depressivos, à ansiedade e ao declínio cognitivo (Spreng et al., 2020). Esses efeitos podem ser acentuados durante o período das festas, quando há grande expectativa social de convivência familiar. Dados da American Association of Retired Persons Foundation (AARP Foundation) mostram que cerca de 31% dos adultos com 50 anos ou mais relatam experimentar solidão durante a temporada de festas, indicando que esse período tende a acentuar emoções negativas em pessoas idosas (AARP Foundation, 2017). Por sua vez, a organização Age UK relata que mais de um milhão de pessoas idosas se sentem mais isoladas no Natal do que em qualquer outra época do ano, e muitos passam a data completamente sozinhos (Age UK, 2024).
Entre os fatores que contribuem para o sofrimento emocional nessa época estão a ausência de familiares, a morte de cônjuges ou amigos próximos, a redução das redes sociais e mudanças nas tradições familiares. Além disso, o final do ano costuma despertar reflexões sobre o passado, perdas acumuladas e expectativas não cumpridas, o que pode aumentar sentimentos de tristeza, luto e vulnerabilidade emocional.
Estudos qualitativos evidenciam que a ruptura de tradições, a impossibilidade de participar de encontros e a sensação de “não pertencimento” podem impactar negativamente o bem-estar psicológico de pessoas idosas durante períodos festivos (Granbom et al., 2024). Nessas ocasiões, a falta de suporte social funciona como um amplificador de emoções negativas. A literatura também demonstra que redes de apoio atuam como fator protetivo importante, reduzindo o impacto da solidão e da ansiedade (Donovan et al., 2020). Assim, a manutenção de vínculos sociais, mesmo por meios digitais, participa diretamente da preservação da saúde mental das pessoas idosas em épocas comemorativas.
Nesse contexto, ações de apoio emocional, fortalecimento de vínculos e inclusão social tornam-se fundamentais. Estratégias como visitas familiares, participação em grupos comunitários, chamadas de vídeo e envolvimento em atividades significativas podem contribuir para amenizar o sofrimento emocional. Profissionais e cuidadores devem estar atentos às mudanças de humor, ao retraimento social e a sinais de depressão ou ansiedade.
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Referências:
AARP FOUNDATION. The Holiday Season: Joy, Love & Loneliness. 2017. Disponível em: https://www.aarp.org/pri/topics/social-leisure/relationships/holiday-season/ . Acesso em: 12 dez. 2025.
AGE UK. Loneliness research and Christmas campaign report. 2024. Disponível em: https://www.ageuk.org.uk/latest-press/articles/2024/loneliness-research-christmas-campaign. Acesso em: 12 dez. 2025.
DONOVAN, N. J.; BLÄSIUS, E. N.; BURKE, K. E. et al. Social isolation and loneliness in older adults: A national academy of sciences consensus report. American Psychologist, 2020.
GRANBOM, M. et al. Holiday experiences and social meaning among older adults during restrictions: A qualitative study. Journal of Aging Studies, 2024.
SPRENG, R. Nathan et al. The default network of the human brain is associated with perceived social isolation. Nature communications, v. 11, n. 1, p. 6393, 2020.
Assinam esse texto:
Profª Msc. Gabriela dos Santos – Docente do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro (UNISA). Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Gerontologia pela Universidade de São Paulo (USP), Graduada em Gerontologia pela USP, com Extensão pela Universidad Estatal Del Valle de Toluca. É pesquisadora no Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da USP e atua com estimulação cognitiva para pessoas idosas.
Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva – Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da USP. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e vice-diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo.