Regulação emocional de jovens e pessoas idosas: diferenças e semelhanças

A regulação emocional, refere-se à capacidade de compreender, expressar e modificar as próprias emoções de modo adaptativo. Embora os jovens e as pessoas idosas, muitas vezes, apresentem diferenças na forma como lidam com as emoções, algumas pesquisas apontam que essas distinções não refletem uma perda de competência emocional com o envelhecimento. Pelo contrário, a maturidade tende a favorecer o uso de estratégias mais eficazes, sustentadas por maior experiência de vida e por mudanças cognitivas e motivacionais.
Durante a juventude, as emoções costumam ser mais intensas e instáveis. Esse padrão se relaciona tanto à imaturidade das estruturas cerebrais responsáveis pelo controle emocional, como o córtex pré-frontal, quanto ao contexto de vida, marcado por transformações identitárias, desafios acadêmicos e sociais, e busca de autonomia. Por essa razão, jovens tendem a empregar estratégias como ruminação, evitação ou supressão emocional, que nem sempre favorecem o bem-estar a longo prazo. Em contrapartida, as pessoas idosas, em geral, utilizam mais estratégias adaptativas, como a reavaliação cognitiva, a aceitação e a seleção de situações que ampliem experiências emocionais positivas.
Essas diferenças estão bem descritas pela Teoria da Seletividade Socioemocional, proposta por Laura Carstensen. Segundo essa perspectiva, à medida que as pessoas percebem o tempo de vida como mais limitado, passam a priorizar metas e relacionamentos que tragam satisfação emocional e significado, reduzindo o investimento em experiências que possam gerar desgaste afetivo. Assim, com o avanço da idade, há uma tendência natural de busca por estabilidade emocional, o que explica por que muitas pessoas idosas relatam níveis elevados de bem-estar subjetivo, mesmo diante de declínios cognitivos ou de saúde física.
Enquanto os jovens tendem a apresentar maior variabilidade nas estratégias de regulação, adaptando-se de forma mais flexível a contextos novos, as pessoas idosas costumam demonstrar consistência e previsibilidade emocional. Essa estabilidade pode ser vantajosa em ambientes familiares e seguros, ainda que limite a adaptação em situações inesperadas. Outro aspecto importante refere-se ao reconhecimento emocional, uma vez que pessoas idosas mostram-se mais atentas a expressões positivas, refletindo uma orientação motivacional voltada à manutenção de emoções agradáveis.
Semelhanças na regulação emocional das gerações
Apesar das diferenças, há semelhanças importantes entre as faixas etárias, por exemplo, tanto jovens quanto pessoas idosas são capazes de utilizar uma variedade de estratégias de regulação emocional, como reavaliação, distração, supressão e aceitação. O que muda é a frequência e a eficácia com que essas estratégias são aplicadas. Em ambos os grupos, o uso excessivo de estratégias desadaptativas, como ruminação e evitação, está associado a maior vulnerabilidade emocional e risco para transtornos como ansiedade e depressão. Assim, o desenvolvimento e o fortalecimento de estratégias saudáveis de enfrentamento emocional são relevantes ao longo de todo o ciclo vital.
Compreender essas particularidades tem implicações diretas para o cuidado psicológico, a educação emocional e as políticas de promoção da saúde mental. Entre os jovens, é fundamental incentivar o reconhecimento das emoções, o desenvolvimento da empatia e o aprendizado de estratégias de reavaliação cognitiva e autorregulação. Entre as pessoas idosas, a valorização dos recursos emocionais já existentes, o fortalecimento de vínculos sociais e o suporte em situações de perda ou isolamento são aspectos importantes para preservar o equilíbrio afetivo. A criação de espaços intergeracionais pode favorecer trocas de experiências e ampliar a compreensão das diferentes formas de lidar com as emoções ao longo da vida.
Referências
CARSTENSEN, Laura L.; MIKELS, Joseph A. At the intersection of emotion and cognition: Aging and the positivity effect. Current Directions in Psychological Science, v. 14, n. 3, p. 117–121, 2005.
CHARLES, Susan T.; CARSTENSEN, Laura L. Social and emotional aging. Annual Review of Psychology, v. 61, p. 383–409, 2010.
JOHN, Oliver P.; GROSS, James J. Healthy and unhealthy emotion regulation: Personality processes, individual differences, and life span development. Journal of Personality, v. 72, n. 6, p. 1301–1334, 2004.
GUERRA, J. W.; ISAACOWITZ, D. M. Regulação e percepção emocional no envelhecimento: uma perspectiva sobre diferenças e semelhanças relacionadas à idade. In: SRINIVASAN, N. (org.). Emoção e cognição. p. 329–351, 2019.
MATHER, Mara; CARSTENSEN, Laura L. Aging and motivated cognition: The positivity effect in attention and memory. Trends in Cognitive Sciences, v. 9, n. 10, p. 496–502, 2005.
Assinam esse texto:
Profª Msc. Gabriela dos Santos – Docente do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro (UNISA). Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Gerontologia pela Universidade de São Paulo (USP), Graduada em Gerontologia pela USP, com Extensão pela Universidad Estatal Del Valle de Toluca. É pesquisadora no Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da USP e atua com estimulação cognitiva para pessoas idosas.
Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva – Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da USP. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e vice-diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo.
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