Prescrição social na perspectiva da gerontologia

A prescrição social (social prescribing) é uma abordagem centrada na pessoa, que busca conectar indivíduos com necessidades sociais, emocionais ou práticas a serviços presentes na comunidade. Desenvolvida no Reino Unido, tem como principal objetivo a melhoria da saúde, da qualidade de vida e do bem-estar dos indivíduos. Ao contrário do paradigma biomédico tradicional, que costuma estar centrado na doença, essa abordagem reconhece que fatores sociais, econômicos e ambientais desempenham papel determinante na saúde, sobretudo entre populações que possuem características de vulnerabilidade, como as pessoas idosas (Morse et al., 2022; Percival et al., 2022).
A prática da prescrição social tem sido associada ao contexto da Atenção Primária à Saúde, com destaque para a implementação no Reino Unido, onde o National Health Service (NHS) incorporou essa estratégia como parte do seu plano de cuidados personalizados. Por meio de profissionais denominados “link workers” ou facilitadores comunitários, os usuários são orientados a participar de atividades culturais, artísticas, físicas, educacionais e de suporte social disponíveis na comunidade, conforme as necessidades e preferências (O’Sullivan et al., 2024).
A prescrição social se alinha às abordagens da gerontologia por considerar a complexidade das experiências do envelhecimento e valorizar a integralidade do cuidado. Essa prática representa uma estratégia para fomentar o envelhecimento ativo e saudável, ao possibilitar o engajamento social e a ampliação da autonomia em contextos comunitários. Estudos como a revisão de escopo realizada por Sadio et al. (2024), demonstram que atividades como jardinagem, aulas de arte, grupos de caminhada, clubes de leitura e programas intergeracionais promovem benefícios cognitivos, emocionais e funcionais entre pessoas idosas, especialmente aquelas em risco de isolamento social.
Além dos benefícios emocionais, como a melhora do humor e redução da solidão, Menhas et al. (2023) destacam que o envolvimento em atividades socialmente significativas está associado ao fortalecimento das redes de apoio e sensação de pertencimento, fatores intimamente relacionados à saúde mental e à prevenção de declínios funcionais. Em pessoas idosas com condições como depressão, ansiedade, dor crônica e demência leve, tais estratégias têm se mostrado importante complemento ao tratamento clínico, reduzindo a medicalização excessiva e o uso inadequado de serviços de emergência (O’Sullivan et al., 2024).

Apesar dos benefícios associados à prescrição social, existem desafios para a implementação no campo da gerontologia. Entre eles, destaca-se a necessidade de capacitação específica de profissionais de saúde para atuarem como prescritores sociais e de facilitadores com competência para lidar com as especificidades da velhice. Além disso, a ausência de financiamento, a insuficiência de recursos comunitários em regiões vulneráveis e a dificuldade de mensuração de desfechos dificultam sua consolidação como política pública universal (Percival et al., 2022).
Ainda na perspectiva da gerontologia, é importante citarmos as demandas relacionadas aos cuidados de longa duração. Estudos realizados em países como China, Reino Unido, Canadá e Austrália apontam que a inserção da prescrição social nessa modalidade de cuidados, pode contribuir para retardar institucionalizações, reduzir o isolamento e promover maior engajamento das pessoas idosas em suas comunidades (Menhas et al., 2023; Sadio et al., 2024). A atuação dos prescritores sociais no ambiente domiciliar, por exemplo, pode facilitar o acesso a redes de suporte, atividades de lazer e serviços de assistência, contribuindo para o cuidado centrado na pessoa e a permanência no domicílio com qualidade.
A literatura também destaca que, quando articulada aos serviços formais de saúde e assistência social, a prescrição social pode reduzir a sobrecarga de cuidadores familiares, oferecendo opções de suporte emocional e atividades que promovem bem-estar tanto para a pessoa idosa quanto para o cuidador (O’Sullivan et al., 2024).
A integração da prescrição social aos sistemas de atenção primária e aos cuidados de longa duração exige investimentos em capacitação profissional, fortalecimento das redes comunitárias e estratégias de monitoramento. Ao reconhecer as dimensões sociais do envelhecimento e do cuidado, essa estratégia amplia as possibilidades de atuação intersetorial e aproxima os serviços de saúde das demandas e expectativas das pessoas idosas. Nesse sentido, avançar na implementação e na pesquisa sobre prescrição social é, portanto, um passo necessário para a construção de modelos de cuidado mais equitativos, personalizados e sustentáveis.
Referências
MENHAS, Rashid; YANG, Lili; DANISH NISAR, Rana. Community-based social healthcare practices in China for healthy aging: a social prescription perspective analysis. Frontiers in Public Health, v. 11, p. 1252157, 2023. Doi: 10.3389/fpubh.2023.1252157. Disponível em: https://www.frontiersin.org/journals/public-health/articles/10.3389/fpubh.2023.1252157/full. Acesso em: 20 Maio 2025.
MORSE, Daniel F. et al. Global developments in social prescribing. BMJ Global Health, v. 7, n. 5, p. e008524, 2022. Doi: 10.1136/bmjgh-2022-008524. Disponível em: https://gh.bmj.com/content/7/5/e008524. Acesso em: 20 Maio 2025.
O’SULLIVAN, Declan J. et al. The effectiveness of social prescribing in the management of long-term conditions in community-based adults: a systematic review and meta-analysis. Clinical Rehabilitation, v. 38, n. 10, p. 1306-1320, 2024. Doi: 10.1177/02692155241258903. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/full/10.1177/02692155241258903. Acesso em: 20 Maio 2025.
PERCIVAL, Amanda et al. Systematic review of social prescribing and older adults: where to from here?. Family medicine and community health, v. 10, n. Suppl 1, p. e001829, 2022. Doi: 10.1136/fmch-2022-001829. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC9557282/. Acesso em: 20 Maio 2025.
SADIO, Rute et al. Social prescription for the elderly: a community-based scoping review. Primary Health Care Research & Development, v. 25, p. e46, 2024. Doi: 10.1017/S1463423624000410. Disponível em: https://www.cambridge.org/core/journals/primary-health-care-research-and-development/article/social-prescription-for-the-elderly-a-communitybased-scoping-review/C63CDEC136602499A47AB226BAFD36F1. Acesso em: 20 Maio 2025.
Texto redigido por:
Profª Msc. Gabriela dos Santos – Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Gerontologia pela Universidade de São Paulo (USP), Graduada em Gerontologia pela USP, com Extensão pela Universidad Estatal Del Valle de Toluca. Membro do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo.
Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva. Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera na condução de ensaios clínicos. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino
Cognitivo da Universidade de São Paulo.
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