A reserva cognitiva é popularmente conhecida como poupança cognitiva; fruto de um investimento que acontece no decorrer da vida de um indivíduo. Em outras palavras, o cérebro se desenvolve de acordo com suas experiências pessoais; quanto mais complexas, maior o estímulo da formação de conexões neurais e menor o índice de desenvolver alguma demência.
Essas conexões tornam o cérebro mais resistente – este fortalecimento neuronal seria uma poupança cognitiva. Por isso, os exercícios de ginástica para o cérebro mecanismos para a busca de desafios, gerando possibilidades de aprendizagem e de aumento da reserva cognitiva.
Pessoas que investem em desafios intelectuais – leituras, jogos de raciocínio, exercícios de memória – e possuem um estilo de vida saudável, teriam uma melhor reserva cognitiva. Isso resulta em menores prejuízos nas habilidades mentais a longo prazo. Com uma maior reserva cognitiva, as pessoas são capazes de achar estratégias compensatórias para possíveis dificuldades, otimizando o desempenho. Por isso, é importante o estímulo cognitivo, desde as fases iniciais até as mais avançadas da vida.
2019Mas é possível atingir novos patamares de reserva cognitiva na fase adulta e na velhice. É o que possibilita aos indivíduos uma vivência com autonomia e independência.
A reserva cognitiva começou a ser estudada com uma pesquisa pioneira conduzida pelo neurologista David Snowdon, da Universidade de Kentucky em 1986, intitulado de “O Estudo das Freiras”. O estudo acompanhou um grupo de freiras de um convento e observou a evolução de suas funções cognitivas, como a habilidade de memória. Eles coletaram dados sobre a evolução das funções cognitivas das freiras ao longo de 17 anos.
Após o falecimento das pesquisadas, verificou-se em autópsia que o cérebro de uma delas – que nunca apresentou sintomas de demência – tinha as características patológicas de um paciente com diagnóstico de Doença de Alzheimer avançada. Após os resultados deste estudo, surgiram outras pesquisas que apoiavam a teoria de que; realizar atividades intelectuais podem proteger o cérebro de efeitos das lesões cerebrais provocadas pelas doenças neurodegenerativas, como a Doença de Alzheimer. Essas atividades promovem a plasticidade cerebral ou uma poupança cognitiva.
Em resumo, comprovou-se que o aprendizado é uma ferramenta que pode servir para fortalecer o nosso cérebro e torná-lo mais resistente às doenças neurodegenerativas.
Os estímulos podem ser de naturezas diferentes: os anos formais de escolaridade, o tempo dedicado às atividades de lazer, a prática de atividades físicas e mentais – todos interferem diretamente na reserva cerebral. Portanto, a reserva cognitiva também influencia na possibilidade de se desenvolver demência e na forma como ocorrerá a evolução dos estágios clínicos das doenças neurodegenerativas e vasculares, caso haja o acometimento destas patologias.
Destaca-se não apenas a importância da duração dos anos de escolaridade formal, mas também a qualidade do desempenho escolar. O desempenho escolar e as notas atingidas – especialmente nas habilidades de linguagem e matemática na infância -, parecem ser protetoras para risco de desenvolvimento de demência.
Em estudo realizado por Bezerra e colaboradores em 2012, na cidade do Rio de Janeiro, avaliou-se um grupo de 111 idosos, todos 60+. Todos os participantes tiveram os dados de desempenho escolar obtidos e consultados em suas escolas de origem. Os resultados deste estudo mostraram que, os indivíduos com desempenho escolar mais elevado e os que possuíam maior nível de escolaridade tiveram uma diminuição das chances de desenvolvimento de demência.
Esta diminuição de risco foi em 79% no grupo de pessoas com alto desempenho escolar e de 21% quando se tinha como variável apenas os anos formais estudados. Estes dados confirmam a hipótese de que a escolaridade e um bom desempenho escolar no início da vida devem ser vistas como uma medida de política pública para prevenir e melhorar a qualidade de vida.
Fonte: Bezerra AB, Coutinho ES, Barca ML, Engedal K, Engelhardt E, Laks J. School attainment in childhood is an independent risk fator of dementia in late life: results from a Brazilian sample. Int Psychogeriatr. 2012;24(1):55-61. http://dx.doi.org/10.1017/S1041610211001554.