Estilo de vida e saúde cognitiva na velhice: o que dizem as evidências recentes?

Publicado em: 28/08/2025 Por Marinella Moretz-Sohn

As alterações biológicas, a predisposição genética e os fatores ambientais e de estilo de vida estão associados com as demências. Estudos internacionais e nacionais destacam que entre 40% e 60% dos casos de demências poderiam ser prevenidos ou retardados por meio de mudanças em aspectos como controle da pressão arterial e da diabetes, prática regular de atividade física, alimentação saudável, realização de atividades cognitivamente estimulantes, participação social e cessação do tabagismo (Livingston et al., 2020; Suemoto et al., 2025).

É justamente  nesse contexto que o estudo US POINTER, realizado nos Estados Unidos, oferece contribuições relevantes ao investigar o impacto de intervenções multidomínio na saúde cognitiva de pessoas idosas. A pesquisa acompanhou 2.111 indivíduos de 60 a 79 anos com risco aumentado de declínio cognitivo, caracterizado por sedentarismo, dieta de baixa qualidade e outros fatores como histórico familiar de déficits cognitivos relacionados à memória e condições cardiometabólicas. Os participantes foram alocados em dois grupos:

  1. Um programa estruturado, com encontros frequentes, supervisão profissional e metas individualizadas para exercício físico, dieta, estímulo cognitivo e social, e acompanhamento da saúde cardiovascular;
  2. Um programa de orientações gerais, com materiais educativos e encontros menos regulares, conduzindo as mudanças de forma autônoma.

Após dois anos, ambos os grupos apresentaram melhora na função cognitiva global, mas o programa estruturado proporcionou um ganho um pouco superior, especialmente nas funções executivas, responsáveis por planejamento, organização e tomada de decisões. Esse efeito foi mais evidente entre os participantes com desempenho cognitivo mais baixo no início do estudo, o que sugere que a intensidade e a regularidade do acompanhamento podem amplificar os resultados.

Esses desfechos reforçam que a manutenção da saúde do cérebro na velhice depende da interação entre hábitos que, quando combinados e mantidos por longos períodos, podem reduzir o risco de demência. No Brasil, estima-se que mais de 1,7 milhão de pessoas vivam com algum tipo de demência, e esse número pode triplicar até 2050. Uma parcela significativa da população idosa convive com múltiplos fatores de risco modificáveis, como sedentarismo, hipertensão e baixa escolaridade, e desigualdades socioeconômicas que dificultam o acesso a alimentação saudável, espaços seguros para atividade física e acompanhamento regular da saúde.

Programas como o US POINTER ainda não são comuns no Brasil, mas iniciativas e políticas públicas, como academias ao ar livre, grupos de convivência e ações da atenção primária à saúde, têm ampliado o acesso da população, especialmente das pessoas idosas, a práticas que favorecem a prevenção de fatores de risco para o declínio cognitivo.

Referências:

BAKER, L. D. et al. Structured vs self-guided multidomain lifestyle interventions for global cognitive function: the US POINTER randomized clinical trial. JAMA, v. 334, n. 4, p. 345-357, 2025. Disponível em: https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/10.1001/jama.2025.12923. Acesso em: 15 ago. 2025.

SUEMOTO, C. K. et al. The potential for dementia prevention in Brazil: a population attributable fraction calculation for 14 modifiable risk factors. The Lancet Regional Health-Americas, v. 49, p. 101209, 2025. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.lana.2025.101209. Acesso em: 15 ago 2025.

Texto redigido por:

Profª Msc. Gabriela dos Santos – Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Gerontologia pela Universidade de São Paulo (USP), Graduada em Gerontologia pela USP, com Extensão pela Universidad Estatal Del Valle de Toluca. Membro do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo.

Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva – Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo.

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