Estratégias para treinar a memória
A população idosa cresceu exponencialmente, especificamente no Brasil, o número de idosos chegou a 28 milhões em 2017, ante 10,7 milhões em 1991. Com essa aceleração e mudanças na pirâmide etária, ocorrem novos desafios no que diz respeito a saúde pública e melhora da qualidade de vida para os indivíduos.
Nesse contexto, no processo de envelhecimento normal ocorrem alterações cognitivas devido ao envelhecimento cerebral, por exemplo redução nas habilidades cognitivas em todos os seus domínios, tais como: memória, funções executivas, atenção, linguagem, capacidades visuoespaciais e entre outros. Para isso, existem formas de estratégias de treinar as funções cognitivas para manter as habilidades ou para prevenir declínios cognitivos.
Como funcionam as estratégias para treinar a memória
Em especial, o estudo de Campos e Vasconcellos publicado em 2022, destaca a importância de executar treinos cognitivos para melhorar os mecanismos de plasticidade cerebral que podem ajudar na habilidade de preservar a cognição, em especial a memória.
Os autores destacam que o treinamento prioriza instruir o desempenho de habilidades cognitivas específicas (como a memória episódica), trabalhando estratégias como imaginação, categorização e listagem, que melhoram o desempenho ou compensam o baixo desempenho nessa função.
Com a realização de uma meta-análise de estudos brasileiros sobre treino de memória cognitiva em pessoas idosas, os pesquisadores objetivaram investigar a magnitude da melhora no desempenho mnemônico obtido por meio do treinamento cognitivo e verificar se essa magnitude difere de acordo com a estratégia de treinamento utilizada.
Os artigos encontrados viabilizaram a utilização de estratégias de treinamento, incluindo Psicoeducação, categorização, ênfase de palavras, imaginação e repetição.
Dos 331 resultados obtidos nas bases de dados online e fontes adicionais (97 após eliminação de duplicatas), foram obtidos 21 estudos sobre treinamento ou estimulação cognitiva.
Destes, 14 trabalhos foram elegíveis, dos quais cinco foram excluídos por não apresentarem o texto completo ou dados estatísticos necessários para a construção da metanálise destacam os estudiosos Campos e Vasconcellos, em seu estudo.
Os achados da pesquisa demonstraram que as estratégias com o treinamento dos subsistemas de memórias (memória episódica, memória de trabalho, memória semântica e memória incidental) foram significativamente baixos a moderados nos subsistemas de memória trabalhada, embora com efeito moderado e significativo na memória incidental.
Entretanto, é preciso analisar a população estudada, replicando estudos, analisando a quantidade de sessões e tempo de treinamento, podendo aumentar a eficácia dos treinos e estratégias de memória. É o que aponta o estudo de Kautzmann e Zibetti publicado em 2020, em que foi realizada uma revisão de artigo visando investigar o efeito da reabilitação neuropsicológica e treino cognitivo na memória de idosos saudáveis.
A memória episódica e a memória operacional foram as mais estudadas. Entre as formas de intervenção identificou-se o predomínio da modalidade grupal, com um padrão de estimulação multimodal (mais de uma função). As principais estratégias empregadas envolvem treinos mnemônicos e de categorização semântica.
Além disso, foram identificados treinos de atenção e de funções executivas com efeitos secundários sobre a memória. A eficácia dos treinos variou entre os diferentes tipos de memória. Mas, efeitos positivos foram observados na memória semântica, na memória operacional e, principalmente, na memória episódica.
Em suma, como visto, é necessário analisar as singularidades de cada indivíduo para a realização dos treinos cognitivos como estratégias para treinar a memória, mensurando os efeitos pré e pós treino e se os resultados se mantêm por um longo período. De fato, é importante implementar atividades que estimulem a memória, podendo ser diversificados com atividades lúdicas, além de ter hábitos saudáveis de vida, como qualidade na alimentação, sono, ciclo social e engajamentos na sociedade.
Assinam este artigo:
Cássia Elisa Rossetto Verga
Estudante de Graduação do curso de bacharelado em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Atualmente faz estágio na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração pelo Instituto SUPERA – Ginástica para o Cérebro. Tem interesse na área de treino e estimulação cognitiva para idosos, com enfoque em neurologia cognitiva. É membro da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Já foi bolsista PUB da Universidade Aberta à Terceira Idade da EACH-USP, atual USP 60 + nas oficinas de música e letramento digital. Participou como assessora de Projetos e Recursos Humanos na Empresa Geronto Júnior entre os anos de 2019 a 2020.
Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva
Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É assessora científica e consultora do Método Supera.