Que o o treino com ábaco ajuda o cérebro você já sabe. O ábaco é um instrumento de cálculos aritméticos que teve sua origem na China há 1800 anos, sendo uma ferramenta educacional para promover o desenvolvimento individual.
O que é o ábaco?
A estrutura básica do ábaco inclui as operações de adição, subtração, multiplicação, divisão e cálculo de raiz. Os números são representados por meio de um arranjo de contas organizadas em colunas, onde cada coluna representa um valor, que aumenta da direita para a esquerda.
Estudos científicos brasileiros que visam investigar o uso do ábaco como forma de treino cognitivo e seus benefícios em pessoas idosas ainda são escassos. Em uma pesquisa de revisão bibliográfica, realizada por Lima-Silva e colaboradores no ano de 2021, foi pioneira neste tema. Os autores realizaram uma revisão sistemática de estudos publicados nos últimos anos que envolveram a entrega de um programa de treino cognitivo usando um ábaco para aumentar as habilidades cognitivas-alvo em pessoas de diferentes faixas etárias como crianças, adolescentes, jovens, e de pessoas idosas com ou sem comprometimento cognitivo.
Os resultados da pesquisa de Lima-Silva (2021) encontrou poucos artigos abordando o uso do ábaco como ferramenta de treino cognitivo. A intervenção utilizada em todos os estudos foi a técnica de cálculo mental baseado no ábaco físico, em que os participantes primeiro aprendem a manipular o ábaco e, depois de obter proficiência, realizam cálculos usando uma imagem mental do dispositivo, manipulando as contas do ábaco mental.
Por outro lado, a respectiva revisão mostra que os estudos de treino cognitivo diferem não apenas em termos de duração, mas também, em particular, em termos das estratégias ensinadas e da metodologia utilizada, havendo grande diversidade na literatura quanto à magnitude dos benefícios cognitivos, a possibilidade de transferência de ganhos para tarefas não treinadas e a manutenção do treinamento de longo prazo (Lima-Silva et al., 2021).
Dica:
Nesse contexto, Lu e colegas (2021) realizaram um estudo de controle aleatório projetado para explorar os efeitos de transferência de curto e longo alcance do treino com ábaco. Uma série de habilidades cognitivas foi examinada com um projeto de controle randomizado pré-pós, permitindo explorar tanto a transferência próximo (ou seja, capacidade de cálculo, extensão de dígitos, senso numérico) quanto o alcance (ou seja, velocidade de processamento, atenção, memória, habilidade de linguagem, raciocínio indutivo) efeitos de transferência.
Dessa forma, a amostra foi composta por um número de 347 participantes que foram convidados a participar do estudo, em cinco escolas/faculdades profissionais na China (56 homens, idade média = 17,16 anos, faixa: 14,17 a 24,67 anos). Os achados da pesquisa mostraram que o treino com o ábaco pode promover habilidades espaciais e de cálculo em comparação com o treino em inglês e maximiza a capacidade de cálculo e velocidade de processamento em comparação com o treinamento cognitivo (LU, et al., 2021).
Como o ábaco ajuda o cérebro
A literatura aponta que realizar cálculo mental baseado em ábaco pode promover habilidades cognitivas na memória de trabalho e em outras funções cognitivas. O estudo de Wang e colegas (2019), investigou os efeitos do treinamento do ábaco mental em memória de trabalho visuoespacial e seus correlatos neurais. Um total de 144 indivíduos (67 meninos) foram designados para o treino com o ábaco mental ou grupos de controle em sua entrada na escola primária.
A intervenção utilizada no estudo supracitado, é que o grupo treino recebeu duas horas de cálculo mental baseado em ábaco por semana durante cinco anos escolares, enquanto o grupo controle passou o tempo em atividades, como cálculo convencional e leitura. O Teste de Inteligência de Raven foi administrado antes e depois do treinamento (WANG et al., 2019).
Os resultados comportamentais indicaram que o grupo treino superou o grupo controle em tarefas aritméticas e em memória de trabalho visuoespacial, mas não no Teste de Inteligência de Raven. Enquanto os dois grupos ativaram regiões semelhantes durante a tarefa de memória de trabalho, o grupo treino mostrou maior ativação do que os controles nas áreas frontal, parietal e occipital (WANG et al., 2019).
Curiosamente, a ativação do giro frontal médio direito mediou a relação entre a habilidade aritmética e o desempenho em memória de trabalho visuoespacial no grupo treino, sugerindo que a região frontal pode ser o substrato neural subjacente ao efeito de transferência do treinamento cálculo mental baseado em ábaco para memória de trabalho visuoespacial (WANG et al., 2019).
Benefícios do ábaco
Dessa forma, foi mostrado alguns estudos com a utilização do ábaco em pesquisas recentes. O treino com ábaco ajuda o cérebro e os ganhos cognitivos são notórios, podendo ser um aliado do treino cognitivo para auxiliar na melhora da qualidade de vida dos envolvidos. Muitos estudos ainda estão sendo desenvolvidos para validar o método com a utilização do ábaco, mas por enquanto, já é visível os efeitos benéficos da sua utilização na cognição de pessoas de várias faixas etárias. Por isso o treino com ábaco ajuda o cérebro e incentivamos que procurem exercícios de ginástica para o cérebro como este visando ganhos em seu desempenho cognitivo.
Assinam este artigo:
Cássia Elisa Rossetto Verga
Gerontóloga pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Atualmente faz estágio na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração pelo Instituto SUPERA – Ginástica para o Cérebro. Tem interesse na área de treino e estimulação cognitiva para idosos, com enfoque em neurologia cognitiva. É membro da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Já foi bolsista PUB da Universidade Aberta à Terceira Idade da EACH-USP, atual USP60 + nas oficinas de música e letramento digital. Participou como assessora de Projetos e Recursos Humanos na Empresa Geronto Júnior entre os anos de 2019 a 2020.
Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É assessora científica e consultora do Método Supera.