O século XX testemunhou uma revolução da longevidade com o aumento da expectativa de vida, esse fato traz consigo o aumento de doenças crônico-degenerativas e limitações funcionais, o que provoca na sociedade e órgãos governamentais o empenho em desafios relacionados ao envelhecimento.
Nesse contexto, ressalta-se a Doença de Alzheimer (DA) que representa 60% entre os novos casos diagnosticados de doenças neurodegenerativas no Brasil (IBGE).
A DA é caracterizada por perda de memória recente, dificuldade em realizar atividades cotidianas, reconhecer familiares e alterações de comportamentos.
Além disso, é uma doença crônica e progressiva que ocorre pela perda de neurônios pelo declínio cognitivo em várias regiões do cérebro responsáveis por memória, atenção, linguagem, percepção, capacidade de autocuidado e julgamento, raciocínio, dentre outros.
Contudo, apesar de avanços no diagnóstico e tratamento, ainda não há uma cura para a DA e a doença ainda é um grande desafio a ser enfrentado pela sociedade, poder público, familiares, cuidadores, amigos e pelo próprio indivíduo.
Um exemplo disso, é evidenciado no filme “A Suspeita” em que a protagonista interpretada pela atriz Glória Pires começa a desenvolver sintomas da DA durante a sua carreira de policial civil.
A seguir, descrevemos o quanto é importante se atentar para os sinais do quadro clínico e como ela interfere no cotidiano da pessoa que possui a DA.
O filme A Suspeita
O filme a Suspeita foi selecionado para a 49° edição do Festival de Cinema de Gramado, sendo exibido pela primeira vez em 13 de agosto de 2021, em diversas plataformas online e no Canal Brasil, devido à pandemia de COVID-19.
E, recentemente, no dia 16 de junho de 2022 teve o seu lançamento comercial nos cinemas brasileiros.
O filme “A Suspeita” é um drama/suspense policial que acompanha uma comissária da inteligência da Polícia Civil do Rio de Janeiro que foi diagnosticada com a DA.
Por esse motivo, ela começa a articular a sua aposentadoria. Porém, em seu último caso descobre um esquema ilícito e acaba se transformando em uma das suspeitas.
Entre os desdobramentos das investigações e os lapsos de memória, ela precisa lutar por sua vida.
A protagonista foi interpretada pela atriz e produtora Glória Pires, como parte do elenco conta com Gustavo Machado, Bukassa Kabengele, Daniel Bouzas, Júlia Gorman, Joelson Medeiros, Kizi Vaz, Paulo Vespúcio, Genézio de Barros, Alexandre Rosa Moreno e direção de Pedro Peregrino.
Filme A Suspeita – como identificar sintomas e diagnóstico da Doença de Alzheimer para além da ficção ?
A perda da memória foi o sintoma que mais impactou na vida da protagonista.
Além da perda de memória, o paciente pode apresentar: repetição da mesma pergunta várias vezes; dificuldade para acompanhar conversações ou pensamentos complexos; incapacidade de elaborar estratégias para resolver problemas; irritabilidade, desconfiança injustificada, agressividade, passividade, interpretações erradas de estímulos visuais ou auditivos, tendência ao isolamento.
Normalmente evolução da DA costuma ser lenta e, de acordo com o Ministério da Saúde, seu quadro clínico pode ser separado em quatro estágios:
- Estágio 1 (forma inicial): alterações na memória, na personalidade e nas habilidades visuais e espaciais;
- Estágio 2 (forma moderada): dificuldade para falar, realizar tarefas simples e coordenar movimentos. Agitação e insônia;
- Estágio 3 (forma grave): resistência à execução de tarefas diárias. Incontinência urinária e fecal. Dificuldade para comer. Deficiência motora progressiva;
- Estágio 4 (terminal): restrição ao leito. Mutismo. Dor ao engolir. Infecções intercorrentes.
Apenas os profissionais da área da saúde, como os neurologistas e psiquiatras, podem diagnosticar a doença, realizar o tratamento e receitar algum medicamento.
Confira aqui o Trailler do filme A Suspeita
O cotidiano e os fatores de risco
No dia a dia, podemos observar o quanto o ambiente pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de doenças.
No filme, a protagonista tem um cargo ocupacional bem agitado, que gera estresse e ansiedade, e ao desenvolver a doença, vê-se em um contexto ambiental e cultural que favorece a piora do seu quadro clínico.
Deste modo, podemos correlacionar com o cotidiano da população brasileira, principalmente nas grandes cidades, em que há muita sobrecarga física e emocional devido ao trabalho, agitações no trânsito, pressões familiares, dentre outros exemplos estressantes.
Outro ponto importante a se destacar é que, devido à correria do dia, pouco pensamos em cuidar de nossa saúde, deixando de lado o nosso bem-estar durante o processo de envelhecimento.
Elencando no filme, nota-se que a qualidade de vida da personagem interpretada por Glória Pires está piorando e, mesmo assim, ela se recusa a se afastar de seu cargo e, de forma recorrente, até de aceitar que está com problemas de saúde, o que fora da ficção ocasiona o diagnóstico e o tratamento tardio.
Nesse sentido, portanto, é necessário reconhecer que muitos fatos e acontecimentos da vida fogem de nosso controle, ou seja, não podemos escolher todas as situações pelas quais passamos. No entanto, podemos aprender a lidar com cada uma delas para minimizarmos a nossa qualidade de vida e saúde.
Tratamento
Apesar de não existir cura para a DA, há tratamentos que podem controlar os sintomas e retardar a evolução do quadro.
O tratamento é mais eficiente quando o paciente está no estágio inicial da demência.
Para avaliar o andamento do tratamento é importante sempre anotar, em uma agenda ou diário, a evolução dos sintomas.
A memória está melhor ou está piorando? Percebeu melhorias com a medicação? O declínio está ocorrendo de forma mais lenta? Entre outras perguntas.
Além disso, é importante que a família, amigos e cuidadores desenvolvam estratégias compensatórias e adaptativas para estimular o(a) paciente no que tange às funções cognitivas comprometidas.
A estimulação por meio de atividades e exercícios especializados irá exercitar as partes comprometidas do cérebro, auxiliando na redução da velocidade do processo demencial.
Assim, ao estimular a pessoa diagnosticada com Doença de Alzheimer, pretende-se maximizar as potencialidades do indivíduo, ajudando-o a compensar suas dificuldades, permitindo-lhe o exercício de sua autonomia e independência por mais tempo.
Portanto, conclui-se que a estimulação cognitiva, como alternativa não medicamentosa, é importantíssima não só para o estímulo das funções cerebrais comprometidas, como também no controle de outros sintomas, pois promove o bem-estar do paciente, ajudando-o a viver melhor, por meio da seleção, otimização e compensação das limitações geradas pela DA.
Assinam este artigo:
Cássia Elisa Rossetto Verga
Estudante de Graduação do curso de bacharelado em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Atualmente faz estágio na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração pelo Instituto SUPERA – Ginástica para o Cérebro. Tem interesse na área de treino e estimulação cognitiva para idosos, com enfoque em neurologia cognitiva. É membro da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Já foi bolsista PUB da Universidade Aberta à Terceira Idade da EACH-USP, atual USP60 + nas oficinas de música e letramento digital. Participou como assessora de Projetos e Recursos Humanos na Empresa Geronto Júnior entre os anos de 2019 a 2020.
Graciela Akina Ishibashi
Estudante de Graduação do curso de bacharelado em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Realizou estágio no Centro Dia Bom Me Care entre os anos de 2019 a 2020. Atualmente faz estágio na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração pelo Instituto SUPERA – Ginástica para o Cérebro. Tem interesse na área de estimulação cognitiva com jogos. Já foi voluntária na Universidade Aberta à Terceira Idade da EACH-USP, atual USP60 + nas oficinas de origami, dança sênior e letramento digital.
Tiago Nascimento Ordonez
Gerontólogo pela Universidade de São Paulo (USP), especialista em Estatística Aplicada pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) e Pós-graduando do MBA em Data Science e Analytics pela USP. Exerceu a função de Gerontólogo na Prefeitura de São Caetano do Sul entre os anos de 2014 a 2016. E esteve como coordenador do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFVI) da Prefeitura de Diadema entre 2017 e 2020. Atualmente é membro do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo (GETC) da USP.
Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva
Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É assessora científica e consultora do Método Supera.