Dra. Cláudia Suemoto: estimulação cognitiva está associada a prevenção de demências

Publicado em: 20/05/2025 Por Marinella Moretz-Sohn
Bárbara Perpétuo e a dra. Cláudia Suemoto conversam no estande do Supera sobre fatores de risco para demências

A dra. Cláudia Suemoto, médica geriatra e pesquisadora, conversou com a vice-presidente do Supera, Bárbara Perpétuo, sobre as questões envolvidas nos casos de demência.

Supera – Olá, sou Bárbara Perpétuo, vice-presidente do Supera. Estou hoje, aqui, com a Cláudia Suemoto, médica geriatra e pesquisadora. Doutora, dos vários fatores de risco para a demência, quais a senhora acredita que mereçam mais atenção?

 dra. Cláudia – Bom, nós temos uma pesquisa que foi publicada há dois anos atrás, mostrando quais os fatores modificáveis eram mais importantes no Brasil. A gente calculou o potencial de prevenção em 48%. E os três principais fatores para a demência no Brasil foram: em primeiro lugar, baixo nível educacional, definido como educação menor ou igual a oito anos, ter estudado só o fundamental, praticamente. Em segundo lugar, a hipertensão, a pressão alta na meia-idade. E em terceiro lugar, a perda auditiva na meia-idade.

 Então, baseado nos nossos estudos, eu considero esses três fatores os principais na população brasileira. 

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Supera – E como o Brasil se comporta para atuar em relação a esses fatores, em comparação com os demais países da América Latina? 

 dra. Cláudia Bom, eu acho que esses tipos de estudos são bastante interessantes. E a gente tem um estudo mais recente, comparando seis países da América Latina porque a gente pode perceber o impacto de políticas públicas. Então, eu vou dar um exemplo de dois países: o  Brasil, que tem como principal fator a baixa escolaridade, comparada com a Argentina; a baixa escolaridade na Argentina. 

 Enquanto no Brasil está responsável por cerca de 8% dos casos de demência por baixa escolaridade, na Argentina 2% apenas. E aí eu fui conversar com meus colegas, até com autores argentinos, nesse paper nosso do lance de Global Health, e eles me explicaram: não, Cláudia, aqui na Argentina a gente tem educação de qualidade para todo mundo, incluindo a universidade.

 E aí, o que você faz com políticas públicas de qualidade para melhorar não só a adesão das pessoas em todos os níveis educacionais, mas oferecendo uma escolaridade de melhor qualidade, você tem esse fator minimizado.

Então, o Brasil não está se comportando muito bem em relação a esse fator de risco específico, acho que é uma coisa que nós todos, como cidadãos, temos que exigir cada vez políticas públicas mais eficientes para que as crianças vão para escola, já melhorou muito em relação aos idosos, e que principalmente as crianças e os adolescentes fiquem numa escola de qualidade até o final do ensino médio e que a gente tenha um acesso mais amplo de qualidade, já também ao ensino superior em uma próxima etapa. Em relação aos outros fatores, hipertensão é um problema crônico, em termos de prevalência durante o envelhecimento, mas também na meia-idade, pensando que ele é um fator de risco para demência na meia-idade. O Brasil, de certa forma, ele tem políticas públicas para hipertensão, mas tem que melhorar mais.

A gente estima que metade dos casos de demência não estão diagnosticados, e desses casos que estão diagnosticados, metade recebe tratamento efetivo. Embora o tratamento seja, por exemplo, o programa HIPERDIA do governo, ele dá a medicação para todos de graça. O que eu imagino é ampliar esse programa e fazer com que mais pessoas procurem o diagnóstico de hipertensão, e aí isso é válido para outros fatores também.

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Supera Eu achei muito interessante o que você falou, não basta qualquer tipo de educação, tem que ser de qualidade. 

 dra. Cláudia – Sim, a gente ainda está numa etapa anterior, que o último censo do IBGE mostrou que diminuiu muito a baixa escolaridade da nossa população, mas a gente ainda tem um alto nível de evasão escolar, e poucas pessoas –  acho que 50%, – terminam o ensino médio. Então agora a gente tem que lutar para que as pessoas continuem.

É um problema de número, que as pessoas completem pelo menos o ensino médio, mas eu entendo que passa por qualidade também, que um ensino de qualidade, que realmente mude a maneira como as pessoas aprendem, vai reter mais estudantes. 

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Supera – Qual a relevância da educação e da estimulação cognitiva na prevenção da demência e melhoria da qualidade de vida no envelhecimento? 

 dra. Cláudia Bom, já comentou um pouquinho o que é o principal fator no Brasil, acho que isso é bem claro, e é importante destacar, na maneira de pensar da Comissão Lancet, ele é um fator de início da vida –  preferencialmente antes dos 25 anos. Mas é claro que a educação, o estudo, a estimulação cognitiva que pode vir de várias maneiras – através do ensino formal, mas também, por exemplo, aprender uma nova língua, aprender a tocar um instrumento musical.

Existe estimulação cognitiva através de contato social e conversas enriquecedoras com outras pessoas, tudo isso é estimulação cognitiva e é importante no começo da vida, na meia-idade e também na velhice. Esse trabalho, ele tem como um dos fatores que a gente não falou aqui, que é o isolamento social. Quando você tem os mecanismos que o isolamento social provavelmente atrapalha a demência, é através da baixa estimulação cognitiva, então esse é um outro mecanismo que a gente poderia conversar também sobre estimulação cognitiva.

Então, super importante em todas as fases, não estamos falando só de educação formal, mas de outras maneiras de procurar essa estimulação cognitiva.

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Supera – Saindo do script, fazendo um pergunto de coração. Se uma pessoa não recebeu educação e ela já está  60+, ela pode ainda buscar um tipo de educação? A estimulação cognitiva é o suficiente? Ou eu não estudei até os meus 25 e deveria estudar, eu não fiz mais de oito anos de educação, estou perdida?

 dra. Cláudia – Não, jamais.

 Na verdade, isso é uma linha de pesquisa ativa, é uma linha de pesquisa que nós temos que responder, não é um problema na Suécia, mas o analfabetismo na velhice ele é comum. Nas nossas casuísticas em São Paulo, no banco de cérebros,  no Hospital das Clínicas, de 20 a 25% dos idosos é analfabeto, então é um problema real. A idade média do Brasil, por dados censitários, é 5 anos na população, com mais de 60 anos, então existe sim espaço para estudar.

Se ele vai ter o mesmo efeito benéfico em termos de prevenção de demência, comparado a quem aprendeu, frequentou a escola com 5, 6, 7, etc. anos, é uma pergunta em aberto, mas o grupo da professora Elisa Rezende, da Universidade Federal de Minas Gerais, com o professor Paulo Caramelli, tem pesquisado especificamente essas pessoas, mostrando a princípio algum benefício. Parece que o trial ainda não terminou, o ensaio clínico ainda não terminou, mas é uma pergunta que eu imagino, é também o meu desejo, que seja positivo essa estimulação em termos de escolaridade tardia.

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Supera – E se não fez, gente, venha para o Supera fazer a estimulação cognitiva. Agora, doutora, nessa 24ª edição da CBGG, a senhora discorrerá sobre o cérebro do brasileiro, e como está o cérebro do brasileiro? 

 dra. Cláudia –Bom, nós vamos falar de várias coisas, né? Eu acho que a ideia dessa história foi um título bem interessante, mas nós vamos falar muito de estudos que a gente fez com neuropatologia, com o banco de encéfalos, nós temos essa colaboração lindíssima, de longa data, com o professor Roberto Leite, com a professora Susana Herculano-Rosel, que diz que nós temos 86 bilhões de neurônios, vamos falar sobre esse número, que é um número bastante aceito mundialmente, vamos conversar muito sobre as principais causas de demência no brasileiro. Doença de Alzheimer continua sendo a principal causa, mas em vez de 60% a 80% dos casos no Brasil, provavelmente a gente tem 50% de casos de demência associada a doença de Alzheimer, porque a gente tem o segundo vilão, que é a demência vascular. Então, eu acho que essa é uma mensagem de saúde pública importantíssima, a demência vascular é, aparentemente, mais comum na nossa população do que em países ricos, tá? Isso, de certa forma, a gente tem que ver o copo meio cheio, é uma boa notícia, porque a demência vascular a gente entende como prevenir 100%.

Outra coisa que, vamos comentar sobre o cérebro brasileiro, que eu vou trazer em primeira mão, não tá publicado ainda, os dados da professora Renata Leite, mostrando como é que é o cérebro do brasileiro de meia idade, 30, 40, 50 anos. Será que a gente já tem um pouquinho de Doença de Alzheimer? Aí a gente vai falar um pouquinho sobre isso, né? Realmente a doença começa cedo, eu fico um pouquinho aterrorizada com esses dados, então, se você for para lá, me empresta esse slide, quero levar para mostrar para o pessoal aí no Congresso Brasileiro de Geriatria, tá? E por fim, outra coisa que nós temos que conversar bastante, quando a gente pensa em demência, a gente coloca as pessoas em caixinhas. Essa aqui, essa pessoa tem doença de Alzheimer, essa tem demência vascular, essa tem, sei lá, Demência por Corpos de Levy, a gente coloca nas caixinhas, né? Mas uma população mais idosa, principalmente com mais de 80 anos, essa pessoa provavelmente tem múltiplas causas de demência.

Ela tem um pouquinho de Alzheimer, ela tem um pouquinho de vascular, ela tem um pouquinho de Parkinson. Então, eu vou chamar um pouquinho de atenção que o cérebro brasileiro, principalmente o muito envelhecido, ele tem múltiplas patologias, né? Que tem uma implicação muito grande em termos de terapêutica, talvez aumente ainda mais a necessidade da gente aumentar a reserva cognitiva através de estimulação, porque não vai ser uma droga que vai funcionar, né? Provavelmente, se a gente pensar nesse contexto, não é dando um remédio para Alzheimer que eu vou resolver o problema se tem mais de uma patologia. Então, é um pouquinho disso que a aula vai conversar.

Supera – Muitas novidades. Muitas, muitas. Muitas novidades.

Muito obrigada.

 dra. Cláudia – Imagina.

Para assistir a entrevista completa, clique aqui.

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