Dra. Carla Núbia: a educação estimula o cérebro e atua como fator de prevenção de demências

Na quinta entrevista da série captada durante o XXIV Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, a médica geriatra Carla Núbia conversa com a vice-presidente do Supera, Bárbara Perpétuo, sobre o diagnóstico precoce da Doença de Alzheimer.
Supera – Olá, aqui quem fala é Bárbara Perpétuo, vice-presidente do Supera, e estou aqui no CBGG de 2025 com Carla Núbia, nossa convidada para a entrevista de hoje. Carla, fala um pouquinho de você para quem está nos assistindo.
dra. Carla Núbia – Bem, olá a todos, eu sou a Carla Núbia Borges, sou geriatra, sou de Petrolina, Juazeiro, e atuo em Recife. Sou formada pela Universidade de Pernambuco, mestrado em Ciências da Saúde. Tive uma atuação durante toda a vida, 30 anos de formada, 26 anos com a ABRAZ, Associação Brasileira de Alzheimer, onde estive como presidente em duas gestões e depois fui pra nacional, diretora científica, então, é um assunto extremamente importante que eu levo também para a docência. Eu sou professora da Universidade Católica de Pernambuco, com muito prazer na docência.
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Supera – A senhora é uma médica geriatra com enorme relevância e influência nas ações de prevenção e tratamento do Alzheimer e de outras demências. Quais são os principais desafios enfrentados para prevenir precocemente a demência? E como erradicar o estigma em torno da demência, que é um problema no Brasil, que afeta a qualidade de vida das pessoas, dificulta o diagnóstico e o tratamento?
dra. Carla – Essa é uma pergunta muito importante e desafiadora, porque nós, como geriatras, trabalhamos muito com doenças degenerativas cerebrais, com doenças neurológicas, e dentre elas, as demências, que são um quantitativo muito grande da procura por déficit cognitivo dos tipos comportamentais. Dentre todas as demências, a demência da doença de Alzheimer é a mais comum, responde por mais de 60% dos casos.
Então, é preciso entender que a demência da doença de Alzheimer é uma doença multifatorial, é uma doença que traz consigo todo um aparato de fatores de risco que as pessoas vão produzindo ao longo da vida. Já estão confirmados estudos comprovatórios da força dos fatores de risco, como hipertensão, diabetes, obesidade e déficit auditivo. O primeiro deles é a baixa escolaridade, tabaco e poluição.
Então, isso quer dizer que, para você ter uma demência da doença de Alzheimer, você, 10 anos antes, já vai produzindo as alterações da proteína beta-amilóide, da proteína tau, que vão formar placas amilóides, que vão desorganizar o citoesqueleto da proteína tau, e fazer a lesão neuronal. Então, quando a pessoa vem se apresentando com sinais e sintomas, é preciso enxergar tudo isso. Então, a prevenção se faz exatamente cuidando da saúde em forma muito precoce.
A carga genética existe, mas ela é responsável por um percentual muito pequeno. A maioria são os casos esporádicos, que a gente chama. Ou seja, com os fatores de risco, você pode contribuir para o desenvolvimento da sua doença.
Então, se a doença é multifatorial, a prevenção também se faz multifatorial. Então, o cuidado desde muito precoce, com atividade física regular, com alimentação saudável, com educação e escolaridade – porque isso vai exatamente trabalhar outras conexões cerebrais, outras áreas cognitivas, trabalhar a saúde mental, tratar a depressão, tratar distúrbios psiquiátricos, psicológicos, sono é muito importante. Atenção à poluição, atenção aos diagnósticos da hipertensão, do diabetes, da dislipidemia, para exatamente você não ter comprometimento cerebral por conta dessas doenças. Então, isso tudo são fatores que a gente precisa trabalhar toda a vida.
Como geriatras, quando chegam até nós aos seus 60 anos, então a gente precisa modular, a gente precisa organizar essa pessoa, se ainda estiver cognitivamente bem, para exatamente evitar que a doença se instale, ou que se instale de uma forma mais leve, ou que a gente possa diagnosticar também de uma forma muito precoce. E a segunda pergunta em relação ao estigma.
Bem, antigamente as pessoas com Alzheimer, eram tidas como esclerosadas, estavam “ficando gagá”. Então, é uma doença que já foi descoberta em 1906, nós já temos mais de 100 anos na descoberta dessa doença, mas realmente não se tinha um estudo sobre os reais fatores. Então, nós precisamos falar sobre isso, precisamos de políticas públicas, precisamos de falar sobre isso nas escolas, que as crianças estão em contato com seus avós, precisamos falar isso nas mídias, redes sociais, que hoje todo mundo tem acesso, para as pessoas entenderem que a demência é um diagnóstico, a demência é um diagnóstico neurológico, é uma doença neurodegenerativa, ela tem fatores de risco, tem tratamento, não se pode estigmatizar uma pessoa, não se pode excluir uma pessoa do seu convívio, pelo contrário, essa pessoa precisa se sentir acolhida, apoiada, para ela ter um desfecho da doença, melhor e mais feliz, inclusive com menos risco de complicações.
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Supera – Acolher. Você disse que um dos fatores é a educação. E a educação, ela tem sido destacada por pesquisadores como sendo um importante fator de risco para a demência. Por que ela contribui tanto para o envelhecimento ativo e principalmente para a saúde do cérebro das pessoas idosas e daqueles que estão envelhecendo? Você falou um pouquinho sobre isso, tem como aprofundar e explicar para a gente?
dra. Carla – Bem, a educação, dentro dos fatores de risco estudados, tanto pelo estudo FINGER, na Finlândia, por doutora Miia Kivipelto tanto pelo estudo ELSI -Brasil, mostrou que a escolaridade é um fator de risco muito potente para a proteção, e a ausência da educação é um fator de risco para o desenvolvimento da doença.
Então, por que isso? Porque a educação trabalha exatamente em estimulação cognitiva e a educação… nós precisamos extrapolar esse entendimento da educação, não é saber só ler e escrever, é uma educação mais ampla, é uma educação que estimula áreas cognitivas como cálculo, criatividade, orientação temporal e espacial, discernimento crítico, julgamento crítico, discernimento lógico, a formação de novas conexões, então, quando uma pessoa é estimulada de forma da educação global, você atinge várias áreas cognitivas, então, essa educação multifatorial, multimodal, é extremamente importante para novas conexões cerebrais, novas redes neurais, que exatamente trabalham na melhoria da reserva cognitiva. Então, nós podemos fazer a nossa reserva, a nossa poupança, poupança de memória, poupança cognitiva ao longo da vida, que com certeza vai ter um grande diferencial no seu envelhecimento e, se você for diagnosticado com a doença, essa doença poderá ser mais leve e a educação também traz hábitos, a pessoa com melhor educação come melhor, faz conexão com outras pessoas, ela tem um discernimento do que pode e o que não pode fazer, ela bebe menos, fuma menos, a priori, ela faz melhores escolhas, melhores decisões, ela procura por ajuda ao menor sinal de qualquer sinal ou sintoma. Então, a educação engloba não só fatores locais, cerebrais, nas conexões neurais, como mudança de hábitos, mudança de posturas e tomada de decisões mais assertivas e positivas.
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Supera – Excelente, agora me diz: quais os benefícios que a estimulação cognitiva – que não deixa de ser uma educação – através das atividades educacionais como as que a gente oferta aqui no Supera, podem proporcionar para a saúde geral da pessoa idosa e para quem está envelhecendo, em especial a saúde do cérebro?
dra. Carla – Isso, o Supera é uma ferramenta extremamente positiva, é uma proposta de muita eficácia e ela trabalha com profissionais, exatamente, estimulando áreas que estão mais deficitárias, estimulando áreas para que essa resiliência, essas novas áreas neurais, possam compensar áreas que estão apresentando seus deficientes. Então, quando você testa uma pessoa, você consegue – a partir dos testes neurocognitivos, neuropsicológicos – mapear como está a sua função cognitiva. Como eu disse, função cognitiva engloba várias funções.
A partir daí, os exercícios direcionados, além deles serem multimodais, além deles trabalharem várias áreas cognitivas, eles trazem também esse momento para o idoso, ele faz conexões com novas pessoas, ele enxerga outras pessoas com as mesmas deficiências e ele vê que o cérebro é multifacetado. Às vezes você pode ter uma deficiência e o outro, o seu colega de turma lá de Supera tem outra deficiência. Então, ele traz melhora da autoestima, a pessoa melhorando da sua resposta no dia-a-dia, da sua função, da sua funcionalidade.
Ele se sente melhor, mais ativo, mais estimulado pela sua família e é uma coisa importante: a família. A família precisa estar ligada a esses exercícios, a essa atividade, a essa pessoa que está frequentando – no caso, o trabalho do Supera – porque esse estímulo também externo ao momento vai trazer mais adesão aos exercícios, mais positividade às respostas. Então, todos os bons olhos aos… ________________________________________________________________________________
Supera – E essa família pode fazer o Supera também, porque a prevenção não tem idade, correto? Agora, a senhora atua na região nordeste do Brasil. Quais são os principais desafios regionais em relação à saúde geral da pessoa idosa, em especial a saúde do século?
Nós temos muitos Brasis dentro do mesmo país, não é? Então, assim, nós conhecemos bem as diferenças geográficas e culturais no nosso país. Então, nós podemos ter também diferenças nessa condição.
Uma coisa muito importante em se tratando de multifatores, se a pessoa tem uma dificuldade geográfica, se a pessoa tem dificuldade de acesso, se a pessoa não tem uma ação, uma oportunidade de escolaridade, a procura pela autoajuda vai ser mais difícil. E aí vai começar a prejudicar todos aqueles fatores de risco básicos. Quando se fala em prevenção ativa, você tem uma melhor educação, uma melhor alimentação, acesso a exames, acesso a diagnóstico precoce, acesso a fatores de risco que podem ser modificados.
Isso, se a pessoa, a população em geral, não tiver acesso, você, nitidamente, vai ter um prejuízo nessa jornada da prevenção. Então, isso são políticas públicas que devem ser feitas, que devem ser extremamente bem pensadas para essa população- não só a população já envelhecida, mas a população mais jovem que está envelhecendo, para que ele tenha acesso a tudo isso, que ele tenha acesso a essa educação, a essa educação holística que fala da neuroinflamação, que fala do cuidado geral, que isso vai atuar nos fatores de risco próprios para as doenças. E quando, sim, começarem a ter sintomas, que ele tenha acesso aos profissionais, no caso, psiquiatras, neurologistas ou geriatras, que, dentre a medicina, são os profissionais mais aptos a desenvolver o diagnóstico das demências, e, com isso, ele entrar também nessa jornada do paciente com mais fluxo, diagnóstico precoce, exames e o tratamento precoce.
Então, veja que são várias ações em conjunto, nada é monofatorial na demência, então, você precisa ter todo esse olhar para a prevenção, olhar para o diagnóstico precoce e olhar para o cuidado. E, quando diagnosticada, essa pessoa precisa ser estimulada. Então, todos esses estímulos multimodais precisam estar presentes.
As diferenças existem, as políticas públicas precisam estar atentas a isso, as conferências municipais e estaduais, a Conferência Nacional de Saúde precisa sempre falar sobre isso para, cada vez mais, a gente possa dar acesso à população e, daí, você ter uma resposta melhor. Mais pessoas cuidadas, bem cuidadas, diagnosticadas e com uma jornada mais leve, a doença ser mais leve, mais bem orientado.
Supera – Que aula! Muito obrigada por esses minutos, essa entrevista.
Acredito que contribuiu para todos nós como sociedade e que agora a gente consiga promover essa educação a todos.
dra. Carla – Espero ter colaborado. Muito grata pelo convite falar sobre um assunto que eu gosto muito e acho que ele explica muita coisa da nossa vida.
Muito grata!
Para assistir a entrevista, clique aqui.
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