Dr. Alexandre Kalache: Por que o Brasil precisa apoiar a cultura anti-idadista

Nesta entrevista exclusiva para o Supera, o médico e gerontólogo Dr. Alexandre Kalache — uma das maiores autoridades mundiais em envelhecimento e políticas públicas voltadas à pessoa idosa — compartilha sua visão sobre o combate ao idadismo, os desafios do envelhecimento no Brasil e a importância de sermos ativamente anti-idadistas.
A conversa aconteceu durante o Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia (CBGG), com a participação de Bárbara Perpétuo, vice-presidente do Supera.
Supera: Dr. Kalache, quais são os principais desafios globais em relação ao idadismo? Como podemos mobilizar a sociedade para enfrentar essa questão?
Dr. Kalache: O grande desafio é, de fato, o idadismo — não o anti-idadismo. O anti-idadismo é a resposta que precisamos ter diante de uma ideologia que discrimina com base na idade. É olhar para mim e não me achar menos válido porque sou careca, tenho rugas ou uso óculos.
Gosto de dizer: sou um velho, e estou muito feliz com isso — porque ser velho significa que não morri antes. Precisamos entender que o idadismo é um “ismo” como qualquer outro: racismo, sexismo, capacitismo… tudo parte de uma ideologia que inferioriza o outro.
A resposta não pode ser apenas “não ser idadista”. É preciso ser anti-idadista, ativamente. Cada vez que nos depararmos com manifestações de preconceito — seja por idade, gênero, raça — temos que nos posicionar: falar, protestar, usar o megafone se preciso. Não podemos aceitar.
Supera: Envelhecer no Brasil é mais desafiador do que em outros países?
Dr. Kalache: Depende de qual Brasil estamos falando. O Brasil da favela, dos quilombolas, das populações ribeirinhas é um. O Brasil do Alto Leblon ou do Jardim Paulista é outro.
Nosso país é profundamente desigual. Não existe um único processo de envelhecimento no Brasil — ele varia conforme classe, território e oportunidades de vida.
Eu mesmo, ao chegar aqui no centro de convenções, vi um jovem, talvez com 20 anos, dormindo na rua com um cobertor. Que tipo de envelhecimento ele terá? Você acha que ele vai poder se preocupar com dieta e atividade física?
Supera: O Brasil tem avançado nas políticas públicas voltadas ao envelhecimento e no combate ao idadismo?
Dr. Kalache: Temos avanços, sim. Mas eu gostaria que não fossem apenas políticas de governo, e sim políticas de Estado — aquelas que permanecem, independentemente de quem esteja no poder.
Temos instrumentos legais, como o Estatuto da Pessoa Idosa, que precisa ser efetivamente aplicado. E mais: seria importante termos um ministério ou, ao menos, uma secretaria com orçamento e poder para coordenar ações interministeriais — em cultura, educação, trabalho, inclusão e participação social.
Só com uma atuação integrada é que será possível garantir um envelhecimento digno para todos os brasileiros.
Supera: Fale um pouco sobre o Pequeno Manual Anti-idadismo. Como ele surgiu?
Dr. Kalache: A ideia surgiu de um episódio curioso. Em 2021, o Duque de Edimburgo faleceu, e o atestado de óbito — assinado por um médico real — apontava como causa da morte: velhice. Meu filho, que vive na Inglaterra, me ligou perplexo com a notícia. E eu fiquei indignado.
Ninguém morre de infância, ninguém morre de adolescência — por que alguém morreria de “velhice”? Velhice é uma fase da vida, não uma doença.
A partir daí, com apoio de colegas da América Latina, Europa, Canadá e Ásia, iniciamos uma campanha global: #VelhiceNãoÉDoença. Dois anos depois, conseguimos que a OMS retirasse “velhice” da Classificação Internacional de Doenças (CID). Isso foi em dezembro de 2022, pouco antes da nova revisão entrar em vigor.
Celebramos muito essa vitória. Mas pensamos: e agora? Com tantas pessoas mobilizadas, não podíamos parar por aí. Mudamos a hashtag para #VelhicesCidadãs e, inspirados pelo Pequeno Manual Antirracista, da Djamila Ribeiro, criamos o Pequeno Manual Anti-idadismo.
Não quis escrever sozinho. Reunimos 44 autores, de diferentes regiões, gêneros e formações. Foi um desafio enorme, mas conseguimos construir algo realmente plural.
Supera: E qual a importância desse manual para a sociedade?
Dr. Kalache: O manual é uma resposta prática ao idadismo. Ele mostra, em 14 capítulos curtos e acessíveis, como reconhecer e agir contra essa forma de preconceito.
A luta contra o idadismo não é só da gerontologia. É de todos: porteiros, motoristas, jornalistas, estudantes, profissionais de qualquer área. O manual foi feito para todos, com linguagem simples e orientações diretas.
E a mensagem central é a mesma que Angela Davis já dizia sobre o racismo:
“Não basta não ser idadista. É preciso ser anti-idadista.”
Supera: Agora, cabe a todos nós viver o anti-idadismo e fazer, de fato, a diferença. Muito obrigada pela entrevista, Dr. Kalache!
Dr. Kalache: Obrigado a vocês!
Assista à entrevista completa com o Dr. Kalache no nosso canal do YouTube. Clique aqui para assistir.
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Estou muita interessada nesta aula porque estou preocupada com uns lapsos de memória que tenho tido.
Vou fazer 77 anos mês que vem.
Olá, Ana!
Para ter acesso à entrevista completa, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=vKrEeWPZTHM
Abraços!