O envelhecimento populacional é um fenômeno global que apresenta desafios substanciais para a saúde pública, especialmente no que diz respeito às demências, incluindo a Doença de Alzheimer e a demência vascular. Nesse contexto, o treinamento cognitivo emerge como uma ferramenta essencial na promoção da saúde cerebral e na prevenção do declínio cognitivo em pessoas idosas, particularmente naqueles com baixo nível de escolaridade.
Pesquisas recentes evidenciam que as intervenções cognitivas podem provocar melhorias significativas no desempenho cognitivo desse público, estimulando a reserva cognitiva e promovendo a plasticidade cerebral (D’Antonio et al., 2019). Tais intervenções estão associadas a aprimoramentos na memória, atenção, velocidade de processamento e outras funções cognitivas em indivíduos mais velhos.
A baixa escolaridade constitui um fator de risco modificável estabelecido para o desenvolvimento de demências. Indivíduos com menor nível educacional tendem a apresentar reservas cognitivas mais limitadas, estando, portanto, em maior risco de desenvolver comprometimento cognitivo leve e demência (Livingston et al., 2020). Entretanto, o treinamento cognitivo oferece uma oportunidade para mitigar tais efeitos adversos, promovendo a neuroplasticidade e fortalecendo as redes neurais subjacentes às funções cognitivas.
Pesquisas como o Advanced Cognitive Training for Independent and Vital Elderly (ACTIVE) demonstraram que intervenções cognitivas podem resultar em melhorias significativas no desempenho cognitivo e na funcionalidade do dia a dia em pessoas idosas (Rebok et al., 2014). Dessa forma, ressaltam a importância do treinamento cognitivo como uma estratégia promissora na promoção da saúde cerebral.
Adaptar os treinos cognitivos para atender às necessidades específicas de pessoas idosas com baixa escolaridade é importante para garantir sua eficácia e relevância. Estratégias como a utilização de linguagem simples, atividades práticas e materiais visuais podem tornar o treinamento mais acessível e envolvente para esse grupo populacional. Além disso, é fundamental considerar o contexto socioeconômico e cultural dos participantes a fim de garantir a adesão e o engajamento ao programa de treinamento.
A conscientização sobre a importância do treinamento cognitivo na prevenção de demências é fundamental para incentivar a participação e a adesão desse público. Campanhas educativas e programas de sensibilização podem contribuir para dissipar mitos e equívocos sobre o envelhecimento e velhice, promovendo uma atitude positiva para promoção da saúde cerebral.
Assim, o treinamento cognitivo para pessoas idosas com baixa escolaridade emerge como uma peça-chave na batalha contra demências e na promoção da saúde mental ao longo do processo de envelhecimento. Para garantir que todos os indivíduos possam colher os frutos desses programas, é extremamente importante investir em intervenções adaptadas e culturalmente sensíveis, fortalecendo não só a saúde cerebral, mas também assegurando que cada indivíduo possa envelhecer com dignidade e desfrutar de uma vida plena.
Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva
Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Docente do curso de Bacharelado e do Programa de Mestrado em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo, parceria científica do Instituto Supera de Educação.
Maria Antônia Antunes de Souza
Graduanda em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). Foi bolsista de iniciação científica PUB do projeto intervenções psicoeducativas para a COVID-19 aliada à estimulação cognitiva no programa USP 60 + e atualmente é membro do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da USP (GETCUSP).