À medida que a população mundial continua a envelhecer, surge uma preocupação crescente em relação à manutenção da saúde cognitiva da pessoa idosa. Felizmente, estudos científicos têm fornecido evidências concretas sobre os benefícios do treino cognitivo, oferecendo uma base sólida para a implementação de intervenções e políticas de saúde pública voltadas para essa demografia em crescimento.
Recentes investigações, como o estudo liderado por Brum et al. (2016), têm consistentemente ressaltado a eficácia do treino cognitivo em melhorar a função cerebral do público com 60 anos ou mais. A participação em atividades que desafiam a memória, a atenção e o raciocínio tem sido associada a mudanças mensuráveis na estrutura e função do cérebro, incluindo a promoção da neuroplasticidade e a preservação de áreas cerebrais importantes para a manutenção de atividades diárias. Esses achados sugerem uma melhoria na eficiência cognitiva e também indicam um potencial de retardar ou mitigar o declínio cognitivo.
Além disso, de acordo com Souza et al. (2019), estudos revelaram resultados positivos após as intervenções, sugerindo que a estimulação cognitiva pode ser eficaz para manutenção e melhoria das funções cognitivas, além de estender os benefícios para o humor e a socialização dos participantes, contribuindo para a autonomia e qualidade de vida da pessoa idosa.
Estudos como o de Silva et al. (2021) têm demonstrado que o treino cognitivo pode desempenhar um papel significativo na prevenção de doenças neurodegenerativas, como as demências. A participação regular em atividades cognitivamente estimulantes está associada a um menor risco de desenvolver condições cognitivas prejudiciais ao longo do tempo. A hipótese da reserva cognitiva oferece uma explicação plausível para esse fenômeno, sugerindo que o engajamento em atividades desafiadoras pode promover a adaptação neural e retardar o início da disfunção cognitiva.
Benefícios do treino cognitivo
Além dos benefícios cognitivos diretos, o treinamento cognitivo em grupo pode oferecer vantagens adicionais. A interação social inerente a esses programas tem sido associada a melhorias na saúde mental e ao fortalecimento da resiliência psicossocial. A natureza colaborativa das atividades em grupo cria um ambiente de apoio e socialização, mitigando os potenciais efeitos negativos do isolamento social e da solidão, fatores de risco conhecidos para o declínio cognitivo e problemas de saúde mental em pessoas idosas.
Em resumo, as descobertas científicas ressaltam a importância do treinamento cognitivo para a população idosa como uma estratégia eficaz para promover a saúde cerebral e o bem-estar geral. Essas intervenções podem ser ferramentas estratégicas que capacitam os idosos a manter um nível de funcionamento cognitivo satisfatório, além de apresentar um potencial de melhora da qualidade de vida e promover a independência na idade avançada. Portanto, investir em programas de treinamento cognitivo para esse público pode não apenas beneficiar os indivíduos, mas também contribuir para o envelhecimento saudável da população em geral.
É importante ressaltar que além do treinamento cognitivo, é fundamental reconhecer a importância de um estilo de vida saudável para promover a saúde cognitiva em pessoas idosas. Logo, adotar hábitos alimentares balanceados, praticar exercícios físicos regularmente, manter-se socialmente ativo e buscar o controle do estresse são elementos fundamentais que devem ser aliados ao treinamento cognitivo para potencializar seus benefícios.
Assinam este artigo:
Laydiane Alves Costa – Gerontóloga pela Universidade de São Paulo (USP), Pós-graduanda em Neurociências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e membro do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo (GETEC). Assessora científica do projeto de pesquisa de validação do Método SUPERA.
Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva. Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH- USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo.