Você já parou para pensar em como o treino do seu cérebro pode impactar não apenas sua memória, mas também sua saúde geral? A intersecção entre a estimulação cognitiva e a manutenção da saúde geral configura-se como um domínio de investigação cada vez mais relevante na sociedade contemporânea. Este campo de estudo surge da necessidade crescente de compreender como intervenções voltadas para o cérebro podem impactar positivamente o estado geral de saúde. A análise das complexas inter-relações entre o treinamento cerebral e o bem-estar físico e mental oferece um panorama mais detalhado sobre a plasticidade neuronal e a promoção de uma longevidade saudável.
Você sabia que o que fazemos para exercitar nosso cérebro pode ter um impacto profundo em nossa saúde geral? O conceito de plasticidade neuronal, definido como a capacidade intrínseca do cérebro para se reorganizar e adaptar, é fundamental para compreender como o treinamento cognitivo pode influenciar a saúde ao longo do envelhecimento. Pesquisas recentes têm elucidado que a plasticidade neuronal é um mecanismo vital na preservação das funções cognitivas e na proteção contra doenças neurodegenerativas. Segundo Stern et al. (2019), a participação em atividades cognitivamente estimulantes, tais como o aprendizado de novas habilidades e a resolução de problemas complexos, promove a formação e a manutenção de redes neuronais, mitigando os efeitos adversos do envelhecimento sobre o cérebro.
Você já se perguntou como exercitar o cérebro pode beneficiar sua saúde física? A conexão entre o treinamento cognitivo e a saúde física revela-se de maneira particularmente significativa. Estudos recentes demonstram que intervenções cognitivas estruturadas têm um impacto positivo em diversos parâmetros fisiológicos, como a pressão arterial e o controle glicêmico. A explicação para esses efeitos pode ser encontrada na modulação do sistema nervoso autônomo e na regulação da inflamação sistêmica, fatores críticos para a saúde metabólica e cardiovascular (Vorkapic et al., 2021)
Além disso, uma revisão sistemática realizada por Jung, Stern e Gu (2022), evidencia que fatores de estilo de vida modificáveis, como atividades cognitivas e físicas, podem contribuir para a reserva cognitiva e atenuar os impactos negativos das mudanças cerebrais relacionadas à idade ou a doenças. Esta revisão identifica modelos de reserva cognitiva amplamente utilizados e destaca a importância das atividades físicas e cognitivas na manutenção da saúde cognitiva e física.
Um estudo conduzido por Carbone et al. (2021), avaliou pessoas idosas com demência leve a moderada em 16 Instituições de Longa Permanência para Idosos. Os participantes foram aleatoriamente designados para um grupo de Treino Cognitivo Estruturado e Terapia Interativa (CST-IT). O Grupo Treino foi composto por 123 indivíduos, enquanto 102 pessoas participaram do grupo controle ativo. Os resultados mostraram que o grupo CST-IT apresentou benefícios de curto prazo em várias medidas cognitivas e no humor e comportamento, com melhorias geralmente mantidas no acompanhamento, sem diferenças significativas observadas em outras áreas.
Portanto, ao incorporar estratégias de treinamento cognitivo em nossa rotina, podemos desempenhar um papel significativo na manutenção e melhoria da qualidade de vida, especialmente para as populações envelhecidas. A adesão a práticas baseadas em evidências e a continuidade das pesquisas são fundamentais para aproveitar ao máximo os benefícios do treinamento cognitivo. À medida que avançamos no entendimento de como essas intervenções podem contribuir para um envelhecimento saudável e equilibrado, nos aproximamos de uma abordagem mais eficaz para promover o bem-estar geral e a longevidade.
Texto redigido por:
Laydiane Alves Costa – Gerontóloga pela Universidade de São Paulo (USP), Pós-graduada em Neurociências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e membro do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo (GETEC). Assessora científica do projeto de pesquisa de validação do Método SUPERA.
Profª Msc. Gabriela dos Santos – Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Gerontologia pela Universidade de São Paulo (USP), Graduada em Gerontologia pela USP, com Extensão pela Universidad Estatal Del Valle de Toluca. Membro do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo.
Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva – Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera com a condução de ensaios clínicos junto a USP. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo.