Os transtornos de personalidade são complexas condições psiquiátricas caracterizadas por padrões persistentes de cognição, emoção e comportamento, que são frequentemente associados ao início da vida adulta, mas a sua presença em pessoas idosas é uma realidade clinicamente significativa, ainda que subestimada. O diagnóstico desses transtornos em idosos é desafiador, devido à sobreposição de sintomas comuns que também são característicos de algumas doenças mais prevalentes nessa faixa etária, bem como às particularidades clínicas dessa população.
A psicopatologia dos transtornos de personalidade em pessoas idosas pode resultar em conflitos intrafamiliares e interpessoais significativos, levando a rupturas nos ambientes de tratamento, o que prejudica os cuidados de longo prazo. Nesse sentido, a presença desses transtornos pode desafiar os profissionais de saúde na provisão de cuidados adequados, dada a complexidade dos sintomas e comportamentos associados. (Pereira et al. – 2005)
Nos demais contextos, os transtornos de personalidade podem exigir estratégias de manejo específicas para garantir a segurança e o bem-estar dos indivíduos. Assim, uma compreensão aprofundada da psicopatologia dos transtornos de personalidade em idosos também é essencial para orientar a prática clínica e garantir uma prestação de cuidados eficaz e compassiva a essa população.
A literatura científica aponta que os sintomas neuropsiquiátricos (SNP) presentes em pessoas idosas podem aumentar ainda mais o quadro dos transtornos de personalidade, exacerbando a disfunção cognitiva e aumentando a gravidade da condição. No entanto, estudos, como o de Merlin (2021), destacam que certas características psicológicas e de personalidade nesses indivíduos podem influenciar padrões comportamentais associados a uma melhor saúde ao longo da vida, possivelmente retardando a progressão de estados prodrômicos desses quadros.
O estigma e a discriminação relacionados à saúde mental podem contribuir para o isolamento social e a marginalização dessa população, comprometendo ainda mais sua qualidade de vida e acesso a cuidados adequados. Assim, a promoção de uma maior conscientização e educação sobre transtornos de personalidade em idosos é essencial para reduzir o estigma e facilitar o acesso a intervenções terapêuticas e de apoio social adequadas.
Nesse sentido, o transtorno de personalidade em pessoas idosas representa um desafio clínico e social significativo, exigindo uma abordagem holística e sensível às particularidades dessa população. O reconhecimento precoce, o diagnóstico diferencial preciso e a implementação de intervenções terapêuticas adaptadas são fundamentais para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar psicossocial dos idosos afetados por essas condições.
Portanto, o manejo dos transtornos de personalidade em pessoas idosas requer uma abordagem multidisciplinar e adaptada às particularidades dessa fase da vida, logo as intervenções terapêuticas tradicionais, como a psicoterapia individual, podem ser limitadas devido à rigidez cognitiva e à resistência à mudança frequentemente observadas nessa população. Portanto, estratégias terapêuticas mais flexíveis e contextualizadas, que levem em consideração o contexto biopsicossocial do paciente, são necessárias para otimizar os resultados clínicos.
Laydiane Alves Costa – Gerontóloga pela Universidade de São Paulo (USP), Pós-graduanda em Neurociências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e membro do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo (GETEC). Assessora científica do projeto de pesquisa de validação do Método SUPERA.
Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva. Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo.