Esse tipo de consulta frenética de aplicativos induzida pelo tédio, como vibrações fantasma de celular e insônia por olhar para telas bem antes de dormir, é um fenômeno que não existia até poucos anos atrás. Mas, desde o anúncio, em janeiro, da criação do primeiro iPhone há exatos dez anos, parece que os aparelhos que transformam seus usuários em drones sem cérebro alcançaram um novo patamar. A internet afeta realmente seu cérebro? Seguem os fatos:
- A internet não frita seu cérebro. Ter uma resposta pronta para qualquer pergunta básica pode não ser tão ruim quanto você foi levado a acreditar. “O QI médio da população tem aumentado a cada dez anos”, diz Alvaro Fernandez, diretor da Sharp Brain, uma empresa dedicada à neurociência. “Não é apenas o QI que interessa, mas se algo fosse muito, muito prejudicial ao nosso cérebro, já teríamos notado neste momento”.
- Mas o tédio favorece o pensamento. Cal Newport, professor de ciência de computação na Universidade de Georgetown, tem uma opinião mais comedida. Ele também não tem conta em nenhuma rede social. “Essas tecnologias criam um vício”, afirma. “Seu cérebro fica condicionado a abrir o aplicativo no primeiro sinal de tédio, na primeira falta de estímulo”. Ele não chega a dizer que o Facebook perturba seu desenvolvimento profissional, mas acredita que a disponibilidade de distrações fáceis impede uma concentração séria e a habilidade de pensar de forma mais profunda.
- Você provavelmente não é viciado no seu smartphone. Usuários de smartphones podem ter uma resposta pavloviana ao tédio, mas ‘vício’ talvez seja uma palavra muito forte para o que realmente está acontecendo. Para ser qualificado psicologicamente de vício, o aparelho ou o comportamento em questão têm que causar um estresse significativo à pessoa. Em um estudo recente, pesquisadores tentaram estabelecer uma ligação entre vício e jogos online. Apenas 2-3% dos gamers apresentaram alguns sintomas de vício, enquanto 75% não apresentaram nenhum sintoma (estes apenas gostavam muito de jogos online). Se esta pesquisa sobre o vício em jogos online pode ser ampliada para o vício em internet como um todo, o usuário normal de smartphone não precisa se preocupar com o surgimento de sérios problemas psicológicos.
- As principais preocupações são mais imediatas. Você já viu uma pessoa tão entretida com seu celular que bate a cabeça contra um poste na rua? Este é apenas um dos riscos. Em 2014, 3.179 pessoas morreram por terem se distraído enquanto dirigiam, e essas distrações foram frequentemente causadas por celulares. Outras 431.000 pessoas se feriram pelo mesmo motivo. Ou seja, aprender a viver sem seu aparelho favorito não é apenas bom para pensar. É também importante para continuar vivo.
- Crianças precisam aprender sobre o mundo real antes de serem apresentadas para o mundo digital. “Temos que ter muito cuidado com as crianças”, diz Alvaro. “Smartphones podem se tornar um vício se as crianças foram expostas a eles muito cedo, e adultos também precisam evitar distrações constantes”. Ele comparou os smartphones com os carros: quando os carros chegaram ao mercado pela primeira vez, eram perigosos – não por causa da tecnologia, mas porque as pessoas ainda não sabiam como usá-los. Enquanto continuamos a desenvolver “regras para a estrada”, seria melhor conseguirmos integrar as ferramentas online às nossas vidas em vez de sermos distraídos por elas. Porém, para aprender a se concentrar e a seguir essas regras, as crianças têm que ser capazes de avaliar o mundo em volta delas sem olhar para uma tela.
Não, seu iPhone não está fritando seu cérebro. Mas nem por isso você deve sacá-lo do bolso sempre que sentir uma pitada de tédio. Tente olhar para frente de vez em quando – assim você não baterá a cabeça num poste.
2017Artigo traduzido da Revista Forbes