SUPERA – Ginástica para o Cérebro

Saúde Emocional: como ela interfere na reserva cognitiva

A saúde emocional desempenha um papel fundamental na manutenção e fortalecimento da reserva cognitiva ao longo da vida. A reserva cognitiva refere-se à capacidade do cérebro de resistir aos danos neuropatológicos e compensar perdas funcionais, resultando em um impacto menor sobre as habilidades cognitivas.

Esse conceito é particularmente relevante no contexto do envelhecimento e de doenças neurodegenerativas, como a demência. Estudos demonstram que fatores emocionais, como estresse crônico, ansiedade e depressão, podem influenciar negativamente essa reserva, enquanto o bem-estar emocional e o engajamento em atividades cognitivamente estimulantes têm efeitos positivos.

O estresse crônico e a ansiedade estão amplamente associados a prejuízos cognitivos. Wilson et al. (2007) revelaram que altos níveis de estresse psicológico estão correlacionados com uma maior incidência de comprometimento cognitivo leve e demência em pessoas idosas.

O mecanismo subjacente pode envolver a liberação prolongada de hormônios do estresse, como o cortisol, que pode ter efeitos neurotóxicos e promover a degeneração de estruturas cerebrais responsáveis pela memória e cognição, como o hipocampo (WILSON et al., 2007).

A depressão também pode afetar negativamente a reserva cognitiva. Estudos indicam que indivíduos com histórico de depressão têm risco aumentado de desenvolver demência (BYERS; YAFE, 2011).

A depressão pode induzir mudanças estruturais no cérebro, reduzindo a neurogênese e a plasticidade sináptica, além de promover processos inflamatórios que aceleram a neurodegeneração. Abordar e tratar a depressão pode ser uma estratégia importante para preservar a reserva cognitiva.

Por outro lado, o bem-estar emocional e o engajamento em atividades cognitivamente estimulantes são associados a uma melhor reserva cognitiva. Participar de atividades sociais, manter-se intelectualmente ativo e cultivar relações interpessoais saudáveis são fatores que promovem a saúde emocional e, consequentemente, a resiliência cognitiva.

Stern (2012) sugere que atividades que envolvem complexidade mental e interação social fortalecem as redes neurais e aumentam a capacidade do cérebro de lidar com a patologia neurodegenerativa sem manifestar sintomas clínicos significativos (STERN, 2012).

Intervenções que visam melhorar a saúde emocional podem ter um impacto significativo na reserva cognitiva. Técnicas de gerenciamento de estresse, terapia cognitivo-comportamental, meditação e exercícios físicos regulares são eficazes para reduzir estresse e ansiedade, além de melhorar o humor e o bem-estar geral. A prática de mindfulness, por exemplo, tem demonstrado efeitos positivos na redução do estresse e na melhoria da função cognitiva em pessoas idosas.

A relação entre saúde emocional e reserva cognitiva é complexa e multifacetada. Fatores emocionais negativos, como estresse, ansiedade e depressão, podem prejudicar a reserva cognitiva, enquanto o bem-estar emocional e o engajamento em atividades cognitivas e sociais podem fortalecê-la. Estratégias que promovam a saúde emocional devem ser consideradas fundamentais na abordagem para a preservação da cognição ao longo da vida.

Referências

WILSON, Robert S. et al. Chronic distress, age-related neuropathology, and late-life dementia. Psychosomatic Medicine, v. 69, n. 1, p. 47-53, 2007.

BYERS, Amy L.; YAFFE, Kristine. Depression and risk of developing dementia. Nature Reviews Neurology, v. 7, n. 6, p. 323-331, 2011.

STERN, Yaakov. Cognitive reserve in ageing and Alzheimer’s disease. The Lancet Neurology, v. 11, n. 11, p. 1006-1012, 2012.

Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva

Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Docente do curso de Bacharelado e do Programa de Mestrado em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo, parceria científica do Instituto Supera de Educação.

Maria Antônia Antunes de Souza

Bacharel em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). Foi bolsista de iniciação científica PUB do projeto: “Intervenções psicoeducativas para a COVID-19 aliada à estimulação cognitiva no programa USP 60 +”.  Atualmente é colaboradora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da USP (GETCUSP), atuando na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração.

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