
As estratégias de prevenção de demências têm ganhado cada vez mais destaque no cenário científico, especialmente diante do envelhecimento populacional e do aumento do número de casos no Brasil e em outros países. Atualmente, cerca de 55 milhões de pessoas vivem com algum tipo de demência ao redor do mundo, e essa estimativa pode ultrapassar 150 milhões até 2050. No Brasil, estima-se que 1,8 milhão de pessoas convivam com demência atualmente, sendo que esse número pode chegar a 5,6 milhões em 2050.
Um estudo publicado recentemente na revista The Lancet Regional Health – Americas, liderado pela Dra. Claudia Suemoto, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, apresentou dados importantes sobre o potencial de prevenção dessas doenças no país, calculando o impacto de 14 fatores de risco modificáveis.
Esses fatores incluem: baixa escolaridade, perda auditiva, hipertensão, tabagismo, obesidade, depressão, inatividade física, diabetes, consumo excessivo de álcool, lesão cerebral traumática, isolamento social, perda de visão não tratada, níveis elevados de colesterol LDL e poluição do ar. De acordo com os pesquisadores, quase 60% dos casos de demência no Brasil poderiam ser evitados ao reduzir a prevalência desses fatores na população. Entre eles, três se destacaram como os mais relevantes: baixa escolaridade (9,5% dos casos), perda de visão não tratada (9,2%) e depressão na meia-idade (6,3%).
O estudo utilizou dados do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil), com quase 10 mil participantes com 50 anos ou mais. Os resultados mostraram que as mulheres apresentam um potencial um pouco maior de prevenção (61,1%) do que os homens (58,2%). Entre as mulheres, a depressão e o colesterol elevado tiveram maior relevância; já entre os homens, destacaram-se o tabagismo e o consumo excessivo de álcool.
Os autores destacam que, embora não tenham sido encontradas diferenças significativas no potencial de prevenção entre regiões mais ricas e mais pobres, fatores como a baixa escolaridade e a perda de visão não tratada permanecem críticos em todo o país. Esses desfechos reforçam a necessidade de políticas públicas que garantam acesso à educação de qualidade desde a infância, ampliem os serviços de saúde ocular e promovam cuidados em saúde mental de forma acessível. Além disso, são necessárias iniciativas que incentivem a prática regular de atividade física, a alimentação saudável, o controle de doenças crônicas e a redução de hábitos prejudiciais, como o tabagismo e o consumo excessivo de álcool.
Referência:
SUEMOTO, Claudia K. et al. The potential for dementia prevention in Brazil: a population attributable fraction calculation for 14 modifiable risk factors. The Lancet Regional Health-Americas, v. 49, p. 101209, 2025. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.lana.2025.101209. Acesso em: 12 ago 2025.
Texto redigido por:
Profª Msc. Gabriela dos Santos – Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Gerontologia pela Universidade de São Paulo (USP), Graduada em Gerontologia pela USP, com Extensão pela Universidad Estatal Del Valle de Toluca. Membro do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo.
Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva – Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo.