SUPERA – Ginástica para o Cérebro

Por que é difícil escrever à mão?

Seja com uma caneta ou lápis: parece que está cada vez mais difícil escrever à mão e isso está diretamente ligado aos nossos hábitos de vida. Entenda!

Quem não se orgulhou em receber um elogio por ter uma letra bonita? E não é para menos: a prática de escrever de forma compreensível usando a letra cursiva – ou letra “de mão” exige do nosso cérebro uma série de comandos que contam principalmente com a coordenação motora.

Mas afinal: por que está cada vez mais difícil escrever bem e bonito em um papel?

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A resposta você já deve desconfiar e ela está diretamente ligada aos nossos hábitos de vida, mais precisamente ao uso da tecnologia que privam nosso cérebro do exercício exigido para desenhar as letras no papel.

Por que escrever à mão é tão importante para o cérebro?

Primeiro precisamos entender que os lápis e canetas contribuem para o desenvolvimento da coordenação motora fina, que é a capacidade de utilizar os dedos e as mãos de forma precisa. E, para acertar os movimentos, é necessária uma boa dose de atenção, o que favorece a concentração naquilo que está sendo escrito.

O conjunto do traçado específico e rebuscado das letras mais a atenção cria a memória muscular de cada movimento, que vai alimentar o circuito cerebral da motricidade, automatizando o aprendizado e tornando a escrita cada vez mais fluida.

Escrita a mão trabalha áreas importantes do cérebro

“E esse processo de coordenação motora fina na escrita não é rápido e não tem como pular. Precisamos construir – literalmente – esse circuito com muita prática. E a digitação não substitui esse processo no cérebro, digitar, no computador ou no celular, não exige coordenação motora fina e consequentemente não vai ajudar a desenvolvê-la”, detalhou a neurocientista do SUPERA – Ginástica para o cérebro, Livia Ciacci.

Escrever à mão no papel

Escrever à mão e ler textos manuscritos ativam a ação conjunta de áreas motoras e visuais do cérebro.

O córtex pré-motor dorsal esquerdo (PMd) é a principal área ativada durante a escrita, que tem a função de associar as redes de leitura com a escrita, ao mesmo tempo em que as áreas visuais reconhecem os significados dos símbolos (letras).

Assim que iniciamos o movimento, o cerebelo terá um papel importante na correção e aperfeiçoamento desse movimento. O cerebelo é capaz de monitorar as contrações musculares que estão acontecendo, e então ele compara as características do movimento em execução com aquele plano prévio – o que é feito nas áreas motoras do córtex. Em seguida, o cerebelo envia para o córtex motor quais são as correções necessárias – por isso a repetição e a prática da escrita são importantes para desenvolver a habilidade caligráfica. 

“Outro aspecto interessante do cérebro foi mostrado no estudo de Alyssa e colaboradores (2013), que concluiu que a escrita de letras à mão afeta o processamento neural da percepção de letras e pode ter um efeito significativo no desenvolvimento de habilidades de leitura, ou seja, escrever e ler de forma manuscrita melhora as habilidades de leitura”, destacou Livia Ciacci, neurocientista do SUPERA – Ginástica para o cérebro.

Escrever à mão com a letra mais bonita

Em 2021, um estudo publicado na revista Nature mostrou o impacto da caligrafia no cérebro

Na pesquisa o objetivo era criar alguma ferramenta que auxiliasse a restaurar a comunicação de pessoas que não conseguiam falar ou se mover. Então desenvolveram um aparelho que, a partir de uma interface cérebro-computador, conseguia decodificar a atividade mental correspondente a tentativa de escrever. 

“E na hora de construir essa decodificação, de fazer o computador entender a atividade mental, ficou evidente a importância da caligrafia cursiva. A complexidade envolvida no mentalizar a escrita cursiva é muito maior do que nas letras de forma, e é essa complexidade de “comandos” que é captada do cérebro para a máquina”, detalhou a cientista.

Mais do que anotar, ao escrever no papel o cérebro está estimulando regiões importantes

O que isso significa? Na prática?

Imagine duas pessoas, uma que domina a escrita cursiva e outra que só escreve por letra de forma. Se essas duas pessoas perderem a capacidade de falar e se mover, só a pessoa que domina a caligrafia cursiva poderia se beneficiar do apoio de uma interface cérebro-máquina para se comunicar. “Tudo isso exemplifica algo que já sabemos, o cérebro desenvolve circuitos robustos quando aprende a escrever com letra cursiva”, concluiu Livia Ciacci, neurocientista do SUPERA – Ginástica para o cérebro.

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