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Setembro roxo: O valor do afeto quem tem a Doença de Alzheimer

A Doença de Alzheimer é um dos tipos de demência mais frequente, conhecido também como transtorno neurocognitivo maior, que afeta comumente pessoas idosas.

Trata-se de uma doença neurodegenerativa e progressiva que produz significativos prejuízos em domínios cognitivos (atenção complexa, função executiva, memória e aprendizagem, linguagem, perceptomotor e cognição social) (American Psychiatric Association [APA], 2013). E estes interferem nas atividades da vida diária. Isto é, na capacidade funcional do indivíduo.

            Além dos sintomas cognitivos, indivíduos com Doença de Alzheimer apresentam também fenômenos comportamentais, físicos e psicológicos nos diferentes estágios da patologia. Essas manifestações causam sofrimentos a pessoa com Doença de Alzheimer e seus familiares, razão em que buscam cuidados em saúde.

No estágio leve da Doença de Alzheimer costuma se encontrar sintomas depressivos e/ou apatia nos indivíduos.

No estágio moderado são comuns características psicóticas, agitação, agressividade, perambulação e irritabilidade. Mais tarde na doença, pode-se observar incontinência, disfagia, mioclonia, convulsões e distúrbios da marcha (APA, 2013).

Diante do diagnóstico e sintomas iniciais da doença, indivíduos com Doença de Alzheimer tendem a buscar o isolamento social, bem como vivenciar a solidão e a depressão. Por isso, o afeto para quem tem a Doença de Alzheimer é importante e além de compreender que pessoas com Doença de Alzheimer necessitam se relacionar com os outros e receber apoio afetivo.

Ainda que em estágios mais avançados da Doença de Alzheimer, diante de limitações impostas pela doença, o paciente necessita de reconhecimento de suas capacidades e necessidades específicas. Tais como direito à autonomia (ainda que exercida parcialmente), ao respeito, à segurança, e a expressar opiniões e sentimentos/emoções.

Desta maneira, a afetividade, que pouco tem sido explorada nas ciências humanas em relação aos cuidados de pessoas com Doença de Alzheimer, pode ser uma aliada importante nesse processo. Pois ela é indispensável para todos os seres humanos independentemente de idade ou condição clínica.

A afetividade tem sido definida genericamente como agregado de sentimentos e emoções de experiências singulares que resultam em uma valoração qualitativa.

Algumas definições específicas encontradas na literatura são carinho, abraço ou cuidado que se tem com alguém próximo.

Ou relações positivas com os outros, satisfatórias, calorosas e verdadeiras (Pires, 2016). Neste sentido, a afetividade estaria mais associada ao afeto positivo. Cabe mencionar que o afeto se trata da capacidade de afetarmos ou sermos afetados por alguém de forma positiva ou negativa, isto é, de relações energéticas. A maneira como somos afetados pode aumentar ou diminuir nossa maneira de agir (Oliveira; Lima-Silva, 2019).

Assim, o afeto para quem tem a Doença de Alzheimer surge como importante promotor de qualidade de vida a ser alcançada por meio das relações familiares, comunitárias e sociais. Por isso, é preciso enaltecer as relações que gerem segurança afetiva para pessoas com Doença de Alzheimer.

Neste intuito, a família é um espaço privilegiado, pois é responsável em proporcionar apoio emocional e segurança aos seus membros, mediante amor, atenção, interesse e compreensão. Bem como pode promover sentimentos de pertença e identidade familiar. Para Pires (2016) a família é o lugar do aconchego, de lembranças, de segurança e identitário, ainda que as relações e conflitos se tornem difíceis, ali é nosso lugar.

Doença de Alzheimer e o valor da afetividade

Há muitos momentos difíceis de lidar com a pessoas com Doença de Alzheimer, como confusão, tristeza e insegurança, bem como frustração por qualquer contrariedade, raiva ou medo. Esses sentimentos podem ser aliviados com atitudes do cuidador que transmitam conforto emocional, como um aperto de mão ou um abraço.

Quando falamos em afeto para quem tem a Doença de Alzheimer o toque é benéfico, na medida que, por vezes, revela carinho e alívio ao paciente.

Afetividade pode ser traduzida também em calma e bom humor, comunicando que está tudo bem e que está ali para apoiá-la. Assim, evita comportamentos complicados e de difícil controle. Você pode agir contrariando uma pessoa com Doença de Alzheimer que diz ter sumido um vestido (que a pessoa com Doença de Alzheimer não tem) ou ter uma atitude positiva dizendo que irá procurar, criando um clima mais favorável, compreensível e empático.

            Outra questão é que com o declínio cognitivo, as pessoas com Doença de Alzheimer vão se tornando cada vez mais sensíveis ao toque e com a comunicação menos verbal. E é aí que entra a importância do contato físico, do toque, do abraço. De acordo com Newshan e Schuller-Civitella (2003), apresentam um resultado de estudo em que a terapia do toque promove calma, bem-estar, conforto, e muita satisfação ao paciente. Por este motivo, a afetividade, pode ser fundamental no cuidado da pessoa com Doença de Alzheimer.

Ao contrário, um ambiente estressor e sem acolhimento, poderá trazer novos desfechos negativos para a pessoa com Doença de Alzheimer e o seu cuidador.

Por fim, um ambiente familiar acolhedor é transformador, facilita a relação e minimiza conflitos com o indivíduo com Doença de Alzheimer, bem como reduz o sofrimento psicológico de ambos. Faz-se necessário respeito e amorosidade pelas queixas e sintomas que a pessoa com Doença de Alzheimer está apresentando, bem como demonstração de apoio diante de seus sofrimentos e necessidades.

Assinam este artigo

Wellington Lourenço Oliveira

Psicólogo. Mestrando em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). Especialista em Psicologia da Saúde pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP). Experiências em Centro Dia para Idosos (CDI), Núcleo de Convivência para Idosos (NCI), e Núcleo de Proteção Jurídico-Social e Apoio Psicológico (NPJ).

Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva

Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS). Pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É assessora científica e consultora do Método SUPERA.

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