Há muitos anos, desde a antiguidade, os cérebros de homens e mulheres tem sido tema de estudos e de comparações, a fim de se entender possíveis particularidades e de desvendar curiosidades.
Algumas teorias apresentam evidências, que há detalhes sutis na anatomia cerebral entre os sexos, e que estas diferenças se iniciam desde o nascimento, e que especificamente a partir da fase da puberdade, estas diferenças se acentuam entre os adolescentes de ambos os sexos.
Os homens, tendem a ter mudanças no desempenho das linguagens à medida que passam pela puberdade, enquanto nesta mesma fase da vida as mulheres, apresentam interferência no desempenho de habilidade visuo-espacial.
De acordo com a teoria do estudioso em desenvolvimento humano, Prof. Jean Piaget, todas as pessoas por volta dos 13 anos de idade deveriam ser capazes de adivinhar a resposta certa em seu teste sobre o nível de água colocados em copos.
Neste experimento as meninas que sabiam a resposta certa do teste do nível de água com 11 anos, geralmente tinham maior dificuldade de solucionar o problema aos 13 anos, após iniciar a puberdade.
Uma explicação para essas mudanças é que os hormônios sexuais produzidos na adolescência afetam tanto o corpo quanto o cérebro e o desempenho das habilidades mentais.
Um estudo realizado em um centro de estudos da memória, na Universidade da Flórida demonstrou que tanto no desempenho de memória imediata, quanto no desempenho de memória verbal e de linguagem, as mulheres se sobressaem quando comparadas aos homens.
Quando solicitadas a memorizar uma lista de 16 itens, a maioria das mulheres sabiam a lista na segunda repetição, enquanto os homens precisavam de cinco tentativas.
Depois de uma nova lista de interferência tida como distração, os indivíduos eram solicitados a citar a primeira lista. Novamente na média, as mulheres pontuaram mais alto que os homens.
Estudos também reforçam que a estrutura responsável pela memorização recente no nosso cérebro, o hipocampo, tem um volume maior em mulheres do que nos homens, cientistas relacionam este fato, ao desempenho de mulheres para datas ser melhor do que o sexo oposto.
A neurocientista professora Rippon explica em seu livro The Gendered Brain, o Gênero do Cérebro em português, que ambos os sexos apresentam comportamentos diferentes, por particularidades dos hormônios de cada sexo, somado aos diferentes caminhos culturais que são construídos.
Ela escreve em seu livro que, desde o nascimento, as crianças são ensinadas com as diferenças de um mundo com cores rosa ou azul. E para ela, isso perpassa com o crescimento do indivíduo, e quando na fase adulta, mulheres talentosas são consideradas trabalhadoras e homens bem-sucedidos são gênios. Isso contribui para a construção de expectativas diferenciadas, compromete a autoestima e interfere na tomada de decisões; levando meninos e meninas a diferentes trajetórias, inclusive a um desempenho cognitivo diferenciado.
Um fato interessante do cotidiano do ser humano, é que estas diferenças do cérebro em relação ao sexo, aparecem em nossa cultura, por exemplo quando pensamos na rotina das atividades de cuidados com a criação e o desenvolvimento dos filhos e na realização de tarefas domésticas, as mulheres assumem na maior parte das famílias esta função, pois biologicamente, tem um melhor desempenho de atenção dividida, tem um melhor gerenciamento de tempo, de concentração, lidando melhor com as tarefas de grande esforço emocional.
E novamente soma-se a isso o fato de culturalmente serem orientadas para esta função, novamente observamos a influência da cultura, da questão de gênero e das adaptações do funcionamento cerebral por construções dos papéis sociais.
Em um estudo realizado pela equipe de Stuart Ritchie, psicólogo da Universidade de Edimburgo, realizou um estudo, com dados do Biobanco de cérebros do Reino Unido, trata-se de um banco de dados biomédicos que ao longo dos anos conta com a participação de voluntários vivos ou pós-morte com informações de 500 mil participantes.
Ritchie usou as imagens de ressonância magnética de um total de 2.750 mulheres e de 2.466 homens com idade entre 44 e 77 anos.
Foram examinados os volumes de 68 regiões no cérebro, bem como a espessura do córtex cerebral. Os resultados deste estudo apontaram que a substância branca do cérebro de mulheres tinha uma maior espessura e complexidade, adicionalmente a região sensorial e motora dos homens, apresentou uma maior conectividade neuronal.
Apesar da literatura documentar diferenças na anatomia do cérebro de homens e de mulheres. É importante destacarmos que durante o processo de envelhecimento normal, ambos os sexos, precisam de estímulos, sendo de suma importância os exercícios de ginástica para o cérebro. Pois cuidar da saúde do cérebro, é algo comum a todas as idades, perfis de socioeconômicos e independem do sexo de cada um.
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Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva. Docente do Curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP).
Pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (GNCC-FMUSP). Coordenadora do Curso de Pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo e Diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG).