Você se recorda da frase “Penso, logo existo” do filósofo Descartes? Pois é, o fenômeno da pós-verdade parece tê-lo modificado para “Acredito, logo estou certo”. Longe de ser algo engraçado, na era da pós-verdade (a qual vivemos atualmente), muitas vezes uma opinião ou crença individual vale mais que um fato científico.
Assim, por exemplo, a confiança conquistada pela ciência, considerada uma ferramenta essencial para o desenvolvimento humano, hoje se vê ameaçada pela desconfiança gerada por teorias conspiratórias e negacionistas. E, em um pior cenário, por notícias falsas (fake news), narrativas criadas com o intuito de criar um campo favorável para a desinformação (D’ANCONA, 2018).
Nesse cenário, a difusão de informações aumentou consideravelmente e cada vez mais pessoas – inclusive as pessoas idosas – tiveram acesso a conteúdos digitais por meio de smartphones, tablets e outras modalidades de computadores pessoais. Entretanto, é necessário destacar que o ambiente virtual possui fragilidades, principalmente no que diz respeito à veracidade das informações divulgadas.
De certa forma, a veiculação de notícias falsas não é um privilégio das sociedades contemporâneas, podendo ser encontrada também em quase todos os períodos da história.
Contudo, ao invés de uma disseminação oral, escrita ou impressa, atualmente, o seu meio de propagação é que traz o caráter de novidade: grande parte da população mundial as acessa pela internet, divulgadas com maior rapidez, de modo a permitir que o emissor consiga alcançar milhares ou até milhões de pessoas ao mesmo tempo.
O problema é quando a informação reproduzida é uma mentira criada com o intuito de desinformar, caracterizando o que conhecemos por fake news.
As fake news, termo em inglês para “notícias falsas”, consistem em informações que não correspondem à realidade, como a tradução sugere. Geralmente, elas são criadas com o intuito de serem amplamente compartilhadas em redes sociais, a fim de gerarem receita de publicidade – por meio do tráfego na web – ou desacreditarem uma figura pública, movimento político ou empresa, por exemplo.
Algumas, inclusive, dizem respeito a receitas, hábitos de vida e tratamentos medicamentosos, podendo levar os seus leitores (receptores da informação) a uma situação de risco, caso sigam as recomendações divulgadas.
Dados levantados pela operadora de telefonia móvel TIM apontam que 98% de seus clientes com mais de 60 anos possuem perfis ativos no Facebook e no WhatsApp.
Nessas redes sociais, em alguns segundos, boatos se proliferam com uma velocidade incrível e, assim, as fake news ganham um enorme alcance e legitimidade. Principalmente porque quem a enviou foi uma pessoa conhecida (um familiar ou amigo(a)). Falando nisso, você acreditaria em uma informação repassada por alguém que você confia? Provavelmente sim, visto que há uma relação de confiança entre vocês.
Ainda neste contexto, para aumentar a complexidade do assunto, você sabia que o Facebook utiliza fórmulas matemáticas para enviar-lhe informações que confirmam a sua crença ou o seu ponto de vista? Cria-se, portanto, nas redes sociais, uma bolha na qual eu e você somos expostos apenas às informações que queremos (ler, ouvir e/ou ver), ou seja, muitas vezes temos acesso apenas ao conteúdo nos quais acreditamos como verdades.
Espaço fértil para negacionistas, pessoas que negam ou não aceitam um fato comprovado e documentado, assim o negacionismo é a atitude ou comportamento de negação ou não aceitação de um fato cientificamente comprovado. Pensando nisso, hoje você já leu algo que vai contra o que você acredita?
Esse exercício é bom para treinarmos a nossa capacidade de reflexão, pois acredite ou não, existem várias verdades e nem toda opinião é uma verdade. Além disso, ter contato com diversas opiniões é ter contato com diferentes pessoas, assim é uma excelente oportunidade para treinarmos a alteridade, o ato de perceber a diferença e que o “eu” deve conviver com outros.
Por fim, muitas vezes, quando tais notícias/mensagens chegam até nós por amigos e/ou familiares, somos induzidos a confiar ingenuamente em sua veracidade e contribuímos para a sua difusão. Por isso, cautela! Antes de repassar qualquer notícia, siga as dicas a seguir, identifique e freie o repasse de fake news.
Dicas para entender melhor o ciclo da informação:
- Considere a fonte. Investigue o site, sua missão e informações de contato. É um site confiável?
- Leia além. Por vezes, manchetes são enganosas ou trazem frases fora do contexto em que foram ditas, para atrair clicks. Portanto, sempre abra as notícias e as leia na íntegra.
- Pesquise sobre o autor. Há um autor? Pesquise sobre suas informações acadêmicas (por exemplo, acessando a plataforma Lattes) e outros textos que ele tenha escrito.
- Verifique a data de publicação. A repostagem de notícias antigas não significa que elas são relevantes no contexto atual.
- Será que é uma piada? Estamos na era dos “memes”. Se for algo muito estranho e irreal, pode se tratar de uma sátira. O “Sensacionalista”, por exemplo, é um noticiário satírico bastante conhecido digitalmente.
- Analise seus vieses Considere se suas próprias crenças não podem interferir em seu julgamento. Por exemplo, no meio político, posso me sentir propenso a acreditar que informações divulgadas por pessoas de mesmo pensamento que eu são verdadeiras, sem que eu veja a necessidade de verificar a veracidade da informação.
- Consulte outras fontes ou pergunte para outras pessoas. Busque pelo título ou palavras-chave da notícia/mensagem no Google e veja se há outros sites falando sobre ela. Você pode também pedir para pessoas próximas a você tentarem descobrir se é uma informação verdadeira.
- Consulte o canal que o Ministério da Saúde criou para apontar quais informações divulgadas são verdadeiras ou não. Acessando o site https://antigo.saude.gov.br/fakenews/ você conseguirá ver quais são as notícias falsas e verdadeiras. Basta adicionar o número no WhatsApp (61) 99333-8597, para contribuir enviando imagens ou textos que tenha recebido e que desconfie se tratar de uma fake news.
- Fique atento: o WhatsApp sinaliza quando uma mensagem foi encaminhada várias vezes. Se você vir uma mensagem classificada como “Encaminhada com frequência” junto a um ícone com dupla seta, saiba que se trata de uma mensagem viral (com muitos compartilhamentos). Então, pesquise se a informação é confiável.
Agora que você já sabe como identificar notícias falsas, multiplique esta informação compartilhando esta matéria, até a próxima.
Assinam este artigo:
Manuela Lina da Silva
Gerontóloga pela Universidade de São Paulo (USP), com realização de intercâmbio de Graduação pelo Programa de Mobilidade Acadêmica em Gerontologia da Escola Superior de Saúde (ESSa) do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) – Portugal. Exerceu estágio-voluntário na Santa Casa de Misericórdia de Bragança – Portugal e foi bolsista no Projeto Bairro Amigo do Idoso – Brás/Mooca (SP).
Tiago Nascimento Ordonez
Gerontólogo pela Universidade de São Paulo (USP) e especialista em Estatística Aplicada pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Exerceu a função de Gerontólogo na Prefeitura de São Caetano do Sul entre os anos de 2014 a 2016. E esteve como coordenador do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFVI) da Prefeitura de Diadema entre 2017 e 2020. Atualmente é membro da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG) e pesquisador do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva
Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É assessora científica e consultora do Método Supera.