SUPERA – Ginástica para o Cérebro

Qual a importância do trabalho após a aposentadoria?

Ao refletir sobre bem-estar e satisfação com a vida ao longo do ciclo vital, é comum pensar no conceito de envelhecimento ativo, que significa maximizar ao idoso oportunidades referentes à participação, segurança, saúde e educação ao longo da vida. Nesta perspectiva, temos como foco o envelhecimento como um processo contínuo, e que é possível envelhecer com qualidade de vida, mesmo antes de pertencer ao grupo de pessoas com 60 anos ou mais.

Os tipos de atividades mais frequentes que o indivíduo executa ao longo da vida, são as atividades laborais, por este motivo a sua interrupção necessita de um preparo e um planejamento prévio, que deve ser gradativo e bem estruturado.

Entretanto, a aposentadoria, apesar de representar um marco social de grande relevância, possui um grande contingente de indivíduos, sejam eles adultos maduros ou idosos, que não se preparam previamente enquanto estão ativos na vida ocupacional.

Conforme estudos científicos, o processo de aposentadoria é um fator de risco de prejuízos à saúde, pois ocasiona alterações biopsicossociais na vida dos indivíduos, alguns deles de caráter emocional e de humor, como o surgimento de quadros de depressão, ansiedade generalizada ou ociosidade por falta de preenchimento de rotina. Adicionalmente e paralelamente, observamos principalmente no gênero masculino um processo de isolamento social. Estes fatores de risco contribuem para o declínio do desempenho das habilidades mentais, como a memória e o raciocínio lógico, por exemplo.

De acordo com Silva (2019), a forma como o indivíduo envelheceu, juntamente com a aposentadoria, foi responsável por influenciar significativamente a identidade da pessoa idosa, concedendo um papel de inatividade e decadência social. Nesse sentido, após a aposentadoria, os idosos se encontram em um quadro de ociosidade por acreditarem que deixaram de contribuir com a sociedade. Esse sentimento de “inutilidade” pode ter um impacto significativo na saúde mental e emocional da população 60+, levando a quadros de solidão, depressão e ansiedade.

Em contrapartida, Ribeiro e colaboradores (2020) avaliaram na pesquisa que realizaram a qualidade de vida, depressão e ansiedade em idosos aposentados que exercem trabalho remunerado. Os autores observaram que o trabalho remunerado para pessoas idosas, após a aposentadoria, relaciona-se à melhor qualidade de vida e a menos sintomas depressivos. Idosos aposentados que continuam a trabalhar em atividades que gostam e têm propósitos de vida tendem a ser mais felizes e experimentar uma melhor qualidade de vida, devido ao senso de propósito, socialização, estímulos mentais, autoestima que essas atividades proporcionam (SILVA, 2019).

Nesse sentido, visando promover o bem-estar mental da pessoa idosas após a aposentadoria, é de suma relevância que o indivíduo maximize suas oportunidades, como preconiza a Organização Mundial de Saúde (OMS), ou seja, otimizando sua participação em atividades culturais, intelectuais e esportivas e fortalecendo sua rede de relações sociais. Sempre levando em conta e respeitando sua história de vida, particularidades e preferências. Além disso, é fundamental a orientação psicológica em programas de preparação para a aposentadoria, pois cada pessoa vivenciará a aposentadoria de forma singular.

Referências:

SILVA, Letícia Caroline Andrade. As implicações da aposentadoria na construção da identidade do idoso. Pretextos-Revista da Graduação em Psicologia da PUC Minas, v. 4, n. 8, p. 145-163, 2019.

RIBEIRO, Deodete Paula; APRILE, Maria Rita; PELUSO, Érica Toledo. Qualidade de vida, ansiedade e depressão em idosos aposentados que trabalham. Mais 60:  Estudos sobre Envelhecimento, v. 31, n. 77,  2020.

Assinam este artigo:

Diana dos Santos Bacelar

Estudante de Graduação do curso de bacharelado em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Atualmente faz estágio em uma pesquisa em treino cognitivo de longa duração pelo Instituto SUPERA – Ginástica para o Cérebro em parceria com a Universidade de São Paulo. Já foi bolsista PUB da Universidade Aberta à Terceira Idade da EACH-USP, atual USP60 + nas oficinas de letramento digital.

Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva

Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É assessora científica e consultora do Método Supera.

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