Os ganhos da estimulação cognitiva: e quando ela acontece entre diferentes gerações?
A II Assembleia Mundial para o Envelhecimento de Madrid (2002) recomendou que os governos promovessem o apoio e a solidariedade intergeracional, pois, por meio das relações entre as gerações, existe desenvolvimento social e a construção de uma verdadeira sociedade intergeracional .
Nesse sentido, a estimulação cognitiva intergeracional é muito relevante, pois refere-se à prática de promover a interação e o compartilhamento de experiências entre diferentes gerações com o objetivo de estimular o desenvolvimento cognitivo em todas as idades. Este conceito baseia-se na premissa de que a troca de conhecimentos, habilidades e perspectivas entre gerações pode proporcionar benefícios significativos para o bem-estar mental e emocional de todas as pessoas envolvidas.
Essa prática inclui atividades como o compartilhamento de histórias de vida, transmissão de conhecimentos tradicionais, colaboração em projetos conjuntos, atividades mentor-mentorado e a inversão de papéis, permitindo que os mais jovens também compartilhem suas habilidades contemporâneas.
Quando pensamos nos ganhos da estimulação cognitiva os programas intergeracionais devem ser propostos em parcerias envolvendo governo e instituições acadêmicas, a exemplo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo (USP), que possui o programa USP 60+, o qual promove a realização de atividades intergeracionais com as pessoas idosas. Além disso, colaborações estratégicas podem ser estabelecidas com instituições sociais, como o Serviço Social do Comércio (Sesc), que se destaca pelo desenvolvimento de diversas iniciativas voltadas para a integração e a troca de experiências entre diferentes gerações.
Principais objetivos e benefícios da estimulação cognitiva realizada entre gerações
Os principais objetivos da estimulação cognitiva intergeracional abrangem a promoção do desenvolvimento cognitivo em áreas como memória, raciocínio lógico, linguagem, atenção, habilidades visuoespaciais e visuoconstrutivas e criatividade.
Em um estudo conduzido por Gil e colegas, em 2015, foi realizada a coleta de dados referentes a saúde cognitiva, memória subjetiva e humor, antes e após o programa de estimulação com um conjunto de estratégias de memorização em 20 sessões de treino, com duração de 100 minutos cada uma, em um hospital de grande porte na cidade de São Paulo. Os autores verificaram melhora do desempenho cognitivo e do humor após estimulação cognitiva multidisciplinar intergeracional em um grupo de adultos e idosos com 11 ou mais anos de escolaridade.
Ganhos da estimulação cognitiva:
Além disso, os ganhos dos programas de estimulação cognitiva realizados entre gerações encontraram:
- Trocas de conhecimentos;
- Desenvolvimento emocional e social;
- Estímulos cognitivos;
- Melhora na saúde mental;
- Aprendizado social e emocional;
- Fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários;
- Redução de ações e comportamento idadistas;
- Estimulação de uma cultura de aprendizado ao longo da vida;
- Desenvolvimento de habilidades interpessoais;
- Inclusão e valorização;
- Transmissão de valores e tradições;
- Estímulo à criatividade e inovação.
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Diante de tantos benefícios, é fundamental que estas práticas intergeracionais sejam divulgadas pela mídia e desenvolvidas com maior intensidade pelas diversas instituições da sociedade.
Ao criar espaços para a troca de saberes, essa prática beneficia o desenvolvimento individual e também contribui para a construção de sociedades mais coesas, solidárias e resilientes. Valorizar a diversidade de conhecimentos e experiências é muito importante para toda a comunidade, pois possibilita uma abordagem integrada e sustentável para o enriquecimento cognitivo, social e emocional de todos os indivíduos envolvidos.
Assinam este texto:
Diana dos Santos Bacelar
Estudante de Graduação do curso de bacharelado em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Atualmente faz estágio na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração pelo Instituto SUPERA – Ginástica para o Cérebro. Tem interesse na área de treino e estimulação cognitiva para idosos, com enfoque em neurologia cognitiva. Já foi bolsista PUB da Universidade Aberta à Terceira Idade da EACH-USP, atual USP60 + nas oficinas de letramento digital.
Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva
Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP), Mestra e Doutora em Neurologia Clínica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-graduação no Programa de Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (GNCC-FMUSP); diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do grupo de estudos em treino cognitivo da USP.