SUPERA – Ginástica para o Cérebro

Fatores de riscos para demência por regiões brasileiras

O risco para demência se apresenta de várias formas ao longo da vida, mas a boa notícia é que ele pode ser identificado com mais facilidade.

A velhice é um estágio que faz parte da vida, mas não é necessariamente uma experiência vivenciada da mesma forma por quem chega a esta etapa.

Assim, o envelhecer é um processo, no qual a relação com o tempo é vivida de forma diferenciada e idiossincrática, segundo maior ou menor grau de deterioração orgânica do indivíduo. Dessa forma, as capacidades funcionais de cada pessoa respondem e são afetadas pela idade biológica, e não cronológica.

O risco para demência e o envelhecimento populacional

Mas a velhice não é apenas um fenômeno biológico; ela é permeada de acometimentos de ordem psicossocial e ambiental, tornando as pessoas idosas heterogêneas.

            Nesse sentido, com um país envelhecido, uma das queixas recorrentes nas sociedades contemporâneas é o aumento do número de pessoas com demências, estatísticas que evidenciam a necessidade de políticas públicas de cuidado emergentes. Segundo o estudo longitudinal de Suemoto et al. (2022), existem doze fatores de risco responsáveis ​​por 40% dos casos de demência em todo o mundo.

No entanto, a maioria dos dados para frações atribuíveis à população são de países de alta renda. Os autores estimam o quanto esses fatores de risco são responsáveis ​​pelos casos de demência no Brasil, estratificando as estimativas por raça e nível socioeconômico.

Logo, a desinformação, os diagnósticos tardios, a falta de apoio social e familiar sobre os diversos tipos de demências, são fatores que influenciam na negligência de cuidados à população afetada, majoritariamente de pessoas idosas, menos escolarizadas e com menor renda.

 Em decorrência disso, no estudo citado anteriormente, é demonstrado frações atribuíveis da população geral e relativa de cada fator de risco de demência por regiões do Brasil.

Com isso, os achados documentaram que os fatores de risco no início da vida (educação), meia-idade (hipertensão, obesidade, perda auditiva, lesão cerebral traumática e consumo excessivo de álcool) e mais tarde da vida (tabagismo, depressão, sedentarismo, isolamento social, diabetes e exposição a poluição do ar) podem contribuir para o aumento do risco de demência.

Verifica-se, então, a existência de evidências para todos esses fatores de risco, embora alguns fatores como idade avançada, como depressão, possivelmente tenham um impacto bidirecional e também façam parte dos primeiros indícios da demência.

Todavia, o estudo ressalta que a alfabetização (aprendizado/educação) no início da vida é o melhor fator de prevenção de demências ao longo da vida, vital para o desenvolvimento cognitivo e cerebral dos indivíduos.

Em suma, é importante ressaltar que em países semelhantes ao Brasil, onde o nível de escolaridade é mais baixo, os sintomas das doenças neurodegenerativas – como a Doença de Alzheimer -, tornam-se evidentes mais cedo, quando comparado com países onde a escolaridade média é mais alta.

Entendendo o risco para demências

Sendo assim, por exemplo, quem avançou mais nos estudos, dispõe de um vocabulário melhor e consegue contornar os problemas de linguagem, pois a flexibilidade mental que a escolaridade proporciona auxilia.

Verifica-se, portanto, nessas pessoas com maior escolaridade uma reserva cognitiva maior, que terá atenuada as agressões neurológicas e se manterá funcional por mais tempo.

Logo, com os cuidados adequados, mudanças no estilo de vida, treinamento profissional para identificar as demências e diagnosticá-las de forma precoce, poder-se-á ter um adiamento e diminuição das síndromes demenciais.

Diante dessa problemática, constata-se que um envelhecimento baseado em bons hábitos nutricionais, com frequência adequada de exercícios físicos, o não uso de tabaco e, principalmente, com acesso à educação, possibilitaria a independência e autonomia do maior número de pessoas idosas.

Contudo, ainda estamos muito longe do que foi documentado pelas Organizações das Nações Unidas para a Década do Envelhecimento Saudável (2021 a 2030), todavia sejamos crentes nesta estratégia para alcançar e apoiar as ações de construção de uma sociedade mais justa, equânime e solidária entre todas as idades.


Assinam este artigo:

Cássia Elisa Rossetto Verga

Estudante de Graduação do curso de bacharelado em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Atualmente faz estágio na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração pelo Instituto SUPERA – Ginástica para o Cérebro. Tem interesse na área de treino e estimulação cognitiva para idosos, com enfoque em neurologia cognitiva. É membro da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Já foi bolsista PUB da Universidade Aberta à Terceira Idade da EACH-USP, atual USP 60 + nas oficinas de música e letramento digital. Participou como assessora de Projetos e Recursos Humanos na Empresa Geronto Júnior entre os anos de 2019 a 2020.

Tiago Nascimento Ordonez

Gerontólogo e mestrando em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). Especialista em Estatística Aplicada pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) de São Paulo. Pós-graduando do MBA em Data Science e Analytics na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP). Atualmente atua como gerontólogo e coordenador de banco de dados do estudo “A eficácia de um programa de estimulação cognitiva com componentes multifatoriais na cognição e em variáveis psicossociais de idosos sem demência e sem depressão: um ensaio clínico randomizado e controlado”, fruto da parceria entre EACH-USP, Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e o Supera Instituto de Educação.

Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva

Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É assessora científica e consultora do Método Supera.

Sair da versão mobile