Pesquisa recente realizada na Holanda mostrou os efeitos positivos dos gestos em conversas, sobretudo nos casos de perguntas e respostas. E por que, ou como, fazer uma pergunta usando voz e gestos torna a comunicação mais eficaz?
A comunicação oral é multimodal: ela aciona diversos sistemas semióticos: o verbal (ou seja, o conjunto dos elementos que envolvem a “língua” – fonológico, lexical, morfossintático), e também o não verbal e o paraverbal (todos os elementos que acompanham os elementos propriamente linguísticos, e que são transmitidos pelo canal auditivo: entonação, pausas, qualidade da articulação, particularidades da pronúncia, características da voz.
Durante anos, pesquisadores em comunicação não verbal cruzaram muitos dados de análises de linguistas, mas a questão das relações entre a palavra e a linguagem do corpo ficou em segundo plano.
2018Esse estudo realizado pelos pesquisadores do Departamento de Linguagem e Cognição, bem como do Instituto do cérebro, da cognição e do comportamento (Universidade Radboud, Países-Baixos) e do Departamento de Ciências da linguagem (Universidade de York) baseou-se em uma perspectiva multimodal.
Judith Holler e seus colegas ressaltam que os gestos das mãos, em particular, acrescentam um significado ao que é dito e que, em alguns casos, transmitem de 50% a 70% da informação.
A comunicação face a face é tida hoje como o melhor modo de comunicação humana. Entretanto, ainda temos poucas pesquisas sobre o papel dos gestos em uma conversa.
Exatamente por isso que os pesquisadores querem determinar, primeiramente, se os gestos influenciam o processo cognitivo de maneira implícita no início da fala (o que eles chamam de momento da virada) e se, posteriormente, ela tem um efeito no decorrer da conversa. O estudo dos cientistas focou em um tipo de ação de comunicação bem preciso: as sequências de perguntas e respostas.
Para esta pesquisa, foram analisadas as interações de sete grupos de três participantes. As conversas foram divididas da seguinte forma: Duas delas com homens, duas com mulheres, e três mistas (média de idade: 30 anos). Assim que eles foram equipados para a experiência, os pesquisadores os deixaram na sala durante 20 minutos.
Durante esse tempo, eles conversaram livremente. As análises foram centralizadas nas situações de perguntas e respostas (281 no total). O que eles observaram então?
Eles constataram que as perguntas acompanhadas de gestos registraram tempo de reação mais curtos, com respostas mais precisas. Eles notaram ainda que a alternância das falas era mais rápida quando os gestos terminavam antes do discurso (fim da pergunta). Isso pode significar, nesse caso, que os gestos avisam quem está escutando de que a pessoa que está falando vai terminar, e isso a ajudaria a se preparar mais rapidamente para responder, mesmo que a questão verbal não tenha sido concluída.
Segundo os autores do estudo, estes resultados empíricos dão uma primeira noção do papel do corpo no processo psicolinguístico que envolve a comunicação humana.
É importante que os pesquisadores realizem novas pesquisas sobre a multimodalidade da comunicação, principalmente sobre a pertinência dos sinais não verbais no processo de compreensão e de aprendizagem.
Fonte: J. Holler, K. H. Kendrick, S. C. Levinson, « Processing language in face-to-face conversation : questions with gestures get faster responses », in Psychonomic Bulletin & Review, sept. 2017