O processo de envelhecimento ocasiona alterações fisiológicas nas funções do sistema nervoso central, principalmente as de origem neuropsicológicas relacionadas ao processo cognitivo, que envolvem as habilidades mentais como o aprendizado, a memória episódica e a memória operacional que declinam significativamente no decorrer dos anos de vida na velhice.
Estas mudanças, se não forem acompanhadas, avaliadas, e otimizadas por meio de atividades de estimulação cognitiva, podem prejudicar o bem-estar biopsicossocial da pessoa idosa, impossibilitando a interação com a família e a sociedade, e impedindo a continuidade da sua vida social de modo participativo.
Estudos indicam que o declínio cognitivo e funcional é preditivo de mortalidade. Nessa perspectiva, a manutenção da cognição é de suma relevância em razão de contribuir para promover a independência e autonomia das pessoas idosas.
Conforme pesquisas pioneiras acerca de treinos cognitivos e o programa de Desenvolvimento e Enriquecimento de Adultos (termo traduzido do inglês: Adult Development and Enrichment Program – ADEPT), realizados por Paul Baltes e Sherry Willis no início da década de 70, a cognição e a funcionalidade são potencialmente modificáveis, e no envelhecimento a plasticidade cognitiva permanece.
Esses estudos visavam analisar a possibilidade de alterar habilidades que constituem o conceito de inteligência fluida, além de questionar perspectivas sobre o processo de envelhecimento que enfatizavam somente a probabilidade de ocorrer declínios e a ausência de ganhos nas fases mais tardias da velhice.
Boas condutas para idosos
Pessoas idosas quando estimulados, podem apresentar melhor desempenho em tarefas cognitivas, como raciocínio indutivo, velocidade de processamento e orientação espacial, contribuindo assim para um melhor grau de plasticidade na cognição.
Atualmente, pesquisas sobre treino cognitivo possuem significativa preocupação em contribuir para a melhora da vida cotidiana dos idosos e colaborar para a manutenção da boa qualidade de vida e do bem-estar psicológico na velhice, devido a considerável parte da população idosa que percebe dificuldade de armazenar informações e de resgatá-las.
Os exemplos mais comuns são: não se lembrar de compromissos importantes, como tomar medicamentos, de nomes de pessoas conhecidas, esquecer o fogão ligado, entre diversas outras situações que comprometem o seu desempenho e colocam em risco sua saúde e segurança (SOUZA; CHAVES, 2005),
De acordo com um estudo desenvolvido por Silva e colaboradores (2010), intervenções baseadas em tarefas ecológicas podem gerar resultados significativos em tarefas de função executiva e memória episódica em idosos saudáveis. Este estudo visava verificar a eficácia de um programa de treino cognitivo de oito sessões, utilizando tarefas ecológicas, como a mimetização de tarefas de compra, relacionadas à memorização de itens de supermercado e cálculos matemáticos simples, em pessoas idosas sem demência e depressão.
É importante salientar que o treino de memória vai além de apenas receber estímulos e guardá-los, envolve também exercitar desde sua percepção pelo organismo até a seleção do que é importante para o armazenamento das informações por um período de tempo que pode ser curto ou longo, e recordá-la tempos depois de acontecido. Desse modo, é preciso estimular a memória durante todo o processo de envelhecimento, objetivando prevenir ou minimizar os déficits cognitivos.
Em estudo das pesquisadoras Carvalho, Neri e Yassuda de 2010, observa-se que tarefas mnemônicas são fundamentais para a funcionalidade da pessoa idosa, como por exemplo se lembrar de pagar as contas, de tomar remédios, de preparar refeições balanceadas, e contribuem para a promoção da independência do idoso e da diminuição dos riscos de institucionalização.
Nessa perspectiva, destacam-se abaixo algumas dicas que podem auxiliar a estimular a memória de idosos saudáveis:
- Faça exercícios cognitivos de memorização: Utilize técnicas de memória interna para memorizar informações, como categorização, repetição, associação verbal e visual, primeiras letras, aprendizado por rimas, criação de imagens mentais, entre outras estratégias;
- Desafie a sua mente: Vá ao supermercado com uma lista de compras memorizada e não escrita;
- Leia diariamente: Dedique um tempo do seu dia para ler um livro, artigos científicos ou reportagens interessantes;
- Aprenda algo novo todos os dia: Invista em adquirir conhecimentos todos os dias, por meio do aprendizado de um determinado idioma ou da realização de cursos de interesse;
- Realize jogos que estimulem a cognição: Palavras cruzadas, quebra-cabeça, caça-palavras, sudoku, xadrez, entre diversos outros jogos.
Diana dos Santos Bacelar
Estudante de Graduação do curso de bacharelado em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Atualmente faz estágio na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração pelo Instituto SUPERA – Ginástica para o Cérebro.
Tem interesse na área de treino e estimulação cognitiva para idosos, com enfoque em neurologia cognitiva. Já foi bolsista PUB da Universidade Aberta à Terceira Idade da EACH-USP, atual USP60 + nas oficinas de letramento digital.
Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva
Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É assessora científica e consultora do Método Supera.