À medida que envelhecemos, é natural que ocorram declínios em domínios cognitivos como em alguns subsistemas da memória, na atenção e no raciocínio lógico. Esses declínios não estão necessariamente relacionados a patologias neurodegenerativas, mas podem gerar prejuízos para o desempenho de atividades, além de gerar impactos negativos para autoestima e bem-estar.
Existem, no entanto, diferentes estratégias eficazes que as pessoas idosas podem utilizar para melhorar ou manter um bom desempenho cognitivo dentro das suas possibilidades. Estas estratégias podem ser externas, como o uso de agendas e alarmes para recordar de compromissos, organização de listas de tarefas, uso de objetos como lembretes, entre outras. Existem também as estratégias de memória internas, como veremos a seguir.
As estratégias internas também recebem o nome de técnicas mnemônicas ou estratégias de memorização. O principal objetivo é utilizar mecanismos, que são executados mentalmente, para compensar ou otimizar as habilidades cognitivas, especialmente a memória. Essas estratégias podem contribuir de forma significativa com todos os processos que envolvem a capacidade de memorização: a recepção, armazenamento e recordação das informações.
Estudos de treino de memória enfatizam a relevância do aprendizado e da aplicação das estratégias internas, inclusive para a realização de tarefas do cotidiano das pessoas idosas, que envolve por exemplo, o planejamento e gerenciamento de tarefas domésticas, questões financeiras, autocuidado em saúde e participação em atividades sociais.
Um estudo realizado por pesquisadores do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, da Universidade de São Paulo, por exemplo, descreveu os resultados identificados após 9 sessões de estimulação cognitiva em contexto virtual. Ao final, as pessoas idosas participantes relataram a adoção das estratégias nas demandas pessoais e nos testes cognitivos, apresentaram melhor performance na memória incidental, imediata e tardia.
Principais estratégias de memória internas:
● Associação: Associar novas informações a algo que já está armazenado na memória pode facilitar a retenção. Por exemplo, associar um novo nome a uma característica física da pessoa pode ajudar a lembrar-se do nome mais facilmente;
● Repetição: Em vez de tentar memorizar algo de uma só vez, é mais eficaz revisar a informação várias vezes ao longo do tempo. Esta técnica pode ajudar a reforçar a memória a longo prazo;
● Categorização: A organização das informações em categorias, facilita o armazenamento e posteriormente o resgate. Por exemplo, ao tentar lembrar dos itens que precisam ser comprados no supermercado, é importante tentar construir listas mentais por categorias, como itens de limpeza, frutas, carnes, etc.;
● Criação de imagens mentais: Ao tentar lembrar algo, tente visualizar a informação em sua mente, como se estivesse olhando para uma imagem.
É importante destacar que essas estratégias, quando aliadas a outras ações, podem gerar melhores resultados, como a manutenção de uma boa rotina de sono, alimentação saudável, prática de exercícios físicos, socialização e realização de outras atividades prazerosas. De toda forma, em casos de preocupações com a memória ou desempenho em outros domínios cognitivos, é relevante a consulta com profissionais.
Assinam este artigo:
Profª Msc. Gabriela dos Santos. Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Gerontologia pela Universidade de São Paulo (USP), Graduada em Gerontologia pela USP, com Extensão pela Universidad Estatal Del Valle de Toluca. Membro do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo.
Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva. Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH- USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade
de São Paulo.