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Entendendo a longevidade da população de Okinawa no Japão

Entendendo a longevidade da população de Okinawa no Japão - SUPERA - Ginástica para o Cérebro

Você já se perguntou por que algumas comunidades ao redor do mundo parecem desafiar o envelhecimento de maneiras extraordinárias? Okinawa, no Japão, é uma dessas localidades que continuamente captura a atenção dos pesquisadores e cientistas pelo seu notável número de centenários e pela qualidade de vida excepcional das pessoas idosas.

Localizada no extremo sul do arquipélago japonês, Okinawa é mais do que apenas um destino turístico exótico; é um espaço interessante para entender os segredos da longevidade. O que torna esta ilha única não são apenas suas praias paradisíacas e rica cultura, mas também a maneira como seus habitantes vivem e envelhecem.


Desde os primeiros estudos na década de 1970, ficou claro que Okinawa abriga uma população que desafia as expectativas de vida não apenas no Japão, mas globalmente. O que começou como um reconhecimento casual de altas taxas de centenários rapidamente se transformou em um campo de estudo multidisciplinar, abrangendo genética, dieta, estilo de vida e fatores sociais.


Pesquisas sugerem que os okinawanos não apenas vivem mais, mas também desfrutam de uma saúde robusta até idades avançadas. Um dos fatores frequentemente citados é a dieta tradicional, rica em vegetais, peixe e baixa em calorias, que pode desempenhar um importante papel na promoção da longevidade (Willcox et al., 2006). Este padrão alimentar não apenas fornece nutrientes essenciais, mas também está associado a menores taxas de doenças crônicas, como câncer e doenças cardíacas.


Além da dieta, o estilo de vida em Okinawa também é um ponto focal de pesquisa. A prática regular de atividades físicas leves ao longo da vida, como jardinagem e caminhadas, promove não apenas a saúde física, mas também o bem-estar mental. A conexão forte com a comunidade e a promoção de relações sociais significativas também são consideradas essenciais (Buettner, 2017).


No entanto, nem tudo são rosas. Okinawa enfrentou desafios demográficos significativos nas últimas décadas. Uma hipótese sugere que o período de 27 anos de ocupação militar dos Estados Unidos em Okinawa (1945-1972), conhecido como Shock 26”, pode ter desempenhado uma significativa transição nutricional observada na região.

Durante esse tempo, mudanças na dieta e no estilo de vida podem ter ocorrido, influenciando diretamente a longevidade e a saúde dos habitantes locais.

Anteriormente líder em expectativa de vida no Japão até o ano 2000, Okinawa pode ter experimentado um declínio relativo desde então, possivelmente devido à influência crescente da ocidentalização (Poulain, 2024). Esse impacto nos hábitos alimentares e estilo de vida, incluindo o aumento de doenças relacionadas ao estilo de vida, como diabetes e obesidade, também foram apontados como preocupações crescentes (Miyagi et al.,2003).

Diante desses desafios, o governo de Okinawa tem implementado iniciativas ambiciosas para reverter a tendência de queda na expectativa de vida e promover políticas públicas que apoiem a saúde ao longo do ciclo de vida. Projetos voltados para a promoção da saúde entre os trabalhadores de meia-idade e a educação sobre hábitos saudáveis desde a infância são exemplos de esforços direcionados para sustentar o legado de longevidade da ilha (Poulain, 2024).

Para os pesquisadores, o desafio agora reside em compreender melhor as disparidades observadas entre as diferentes gerações em Okinawa. Enquanto os mais velhos desfrutam de taxas de mortalidade notavelmente baixas em comparação com seus pares no Japão continental, as gerações mais jovens enfrentam desafios diferentes que podem estar impactando sua longevidade (Preston et al., 1999). Estudos futuros são essenciais para identificar os fatores subjacentes a essas disparidades e para informar políticas de saúde pública eficazes que garantam o bem-estar contínuo da população de Okinawa.

Em última análise, Okinawa não é apenas um exemplo de longevidade excepcional, mas também um modelo de como as comunidades podem prosperar através de escolhas de estilo de vida saudáveis, conexões sociais fortes e boas políticas públicas. À medida que a pesquisa continua a desvendar os segredos dessa ilha enigmática, há uma promessa emocionante de novas descobertas que podem beneficiar a saúde e o envelhecimento da população global.

Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva
Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Docente do curso de
Bacharelado e do Programa de Mestrado em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências
e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de
Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG).
Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo,
parceria científica do Instituto Supera de Educação.

Maria Antônia Antunes de Souza
Graduanda em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da
Universidade de São Paulo (EACH-USP). Foi bolsista de iniciação científica PUB do
projeto intervenções psicoeducativas para a COVID-19 aliada à estimulação cognitiva
no programa USP 60 + e atualmente é membro do Grupo de Estudos em Treino
Cognitivo da USP (GETCUSP).

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