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A doença de Alzheimer é hereditária? Entenda a influência da genética e do estilo de vida

O Setembro Lilás é o mês dedicado à conscientização da Doença de Alzheimer e outros tipos de demência. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2020), atualmente existem 55 milhões de indivíduos diagnosticados com demência globalmente, sendo que mais de 60% dessas ocorrências estão situadas em nações em desenvolvimento. A entidade estima que até 2050, esse número  poderá superar 150 milhões.

Nesse contexto, pesquisas sobre o assunto têm permitido reconhecer fatores relacionados aos riscos aumentados de desenvolvimento da Doença de Alzheimer, especialmente na identificação de genes ligados ao risco de desenvolver a doença e fatores que contribuem para essa condição. Uma pesquisa divulgada recentemente no Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, realizada por Victor Pereira Silva Curcino de Eça e Matheus Santos Marques, compilou evidências científicas acerca da influência da genética e dos fatores epigenéticos (mudanças no comportamento dos genes que não envolvem alterações na sequência do DNA, mas que ainda podem ser herdados) na manifestação da Doença de Alzheimer.

Estudos indicam que determinadas variantes genéticas, incluindo mutações nos  genes APP, PSEN1, PSEN2 e, principalmente, o APOE4, estão ligadas a um maior risco de desenvolvimento da doença se presentes na corrente sanguínea.

O gene ApoE4 está associado ao metabolismo do colesterol e ao funcionamento estrutural dos neurônios. Quando presente, especialmente em uma de suas cópias, ele eleva significativamente o risco de desenvolver a Doença de Alzheimer. Isto é, ter uma cópia do gene ApoE4 (gene mutado) aumenta o risco de desenvolver a doença em 2 a 3 vezes e ter duas cópias (uma do pai e uma da mãe) pode elevar o risco em até 12 vezes, comparando-se às pessoas que não apresentam estas mutações genéticas.

Genética não é sentença

Os pesquisadores enfatizam que genética não é uma sentença, visto que,  cerca de 25% da população tem uma cópia do gene, mas a maioria jamais terá a doença, isso porque a Doença de Alzheime ré uma condição multifatorial: e o estilo de vida, incluindo a saúde cardiovascular, o sono, o estresse e até o ambiente em que você vive têm grande influência.

Outro aspecto importante são os fatores epigenéticos que moldam a expressão desses genes e podem ser influenciados pelo estilo de vida. Evitar o tabagismo, manter boa qualidade de saúde mental, controlar o nível de estresse, ter uma dieta equilibrada e atividades físicas, podem diminuir a manifestação da doença, mesmo em pessoas com predisposição familiar.

De acordo com os pesquisadores, entender essa interação entre ambiente e herança genética é fundamental para desenvolver diagnósticos precoces, produzir biomarcadores acessíveis (como exame de sangue) e elaborar terapias personalizadas. Dessa forma, ter um familiar com Doença de Alzheimer não significa necessariamente que você também terá, mas indica a necessidade de cuidar dos fatores de risco e incorporar hábitos protetores ao longo do processo de envelhecimento.

Como prevenir a Doença de Alzheimer?


Prevenir a Doença de Alzheimer não significa apenas cuidar da memória, mas do corpo como um todo. Manter o cérebro ativo é um dos caminhos mais eficazes: estudar, ler, escrever e aprender novas habilidades fortalece a chamada reserva cognitiva, que ajuda a proteger contra as perdas cognitivas do envelhecimento.

Outro ponto essencial é o controle da pressão arterial. Pessoas com predisposição genética, como os portadores do gene ApoE4, têm o risco de demência multiplicado quando convivem com hipertensão. Hábitos do dia a dia também fazem diferença. Não fumar é fundamental, já que o cigarro prejudica a circulação no cérebro, provoca inflamação e acelera danos neuronais. O álcool em excesso também deve ser evitado, pois está associado à demência precoce, principalmente em pessoas com predisposição genética.

Assim, compreender os desafios diagnósticos e a influência dos fatores genéticos e epigenéticos na Doença de Alzheimer não apenas contribui para desfazer mitos, mas também reforça a importância da prevenção e da detecção precoce.

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Referências bibliográficas

EÇA, Victor Pereira Silva Curcino de; MARQUES, Matheus Santos. O impacto da genética e fatores epigenéticos no desenvolvimento do Alzheimer. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, v. 7, n. 4, p. 1163-1180, 2025. DOI: https://doi.org/10.36557/2674-8169.2025v7n4p1163-1180

PAULO, Roberto da Silva Brito et al. Desafios no diagnóstico da doença de Alzheimer. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, v. 6, n. 3, p. 2818-2826, 2024. DOI: https://doi.org/10.36557/2674-8169.2024v6n3p2818-2826

SOCIEDADE BRASILEIRA DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA. Setembro lilás: mês de conscientização da Doença de Alzheimer. 2023. Disponível em: https://sbgg.org.br/setembro-lilas-mes-de-conscientizacao-da-doenca-de-alzheimer/. Acesso em: 5 set. 2025.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Dementia. 2023. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/dementia. Acesso em: 6 set. 2025.

Autoras:

Djessica Hilton Peixoto- Graduanda do curso de Bacharelado em Gerontologia na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). Participa como monitora do projeto Oficina de Jogos Digitais e Educação para o Envelhecimento Saudável da USP 60mais coordenado pela Profa. Thais Bento. E-mail: djessicahilton@usp.br

Kauane Araújo Meneses Macedo – Graduanda do curso de Bacharelado em Gerontologia na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). Participa como monitora do projeto Oficina de Jogos Digitais e Educação para o Envelhecimento Saudável da USP 60mais coordenado pela Profa. Thais Bento. E-mail: kauanemacedo.am@usp.br

Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva – Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da USP. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e vice-diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo.

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