Aprender na terceira idade é mais do que possível: é uma tendência de comportamento que propicia a longevidade intelectual, preservando e criando reserva cognitiva.
Ao longo da história das sociedades ocidentais, os conceitos de educação e aprendizagem estiveram sempre vinculados ao sistema educativo formal e, desta forma, o foco de preocupação das políticas educativas centrou-se nas primeiras fases do ciclo de vida, designadamente na infância e adolescência.
Com a industrialização, e posteriormente advento tecnológico, a aprendizagem da idade adulta passou a ser considerada essencial para a potencialização do exercício profissional.
Assim a educação das pessoas adultas centrou-se na formação para o trabalho, privilegiando uma lógica instrumental de produtividade e desenvolvimento econômico.
Como aprender na terceira idade: estilos de aprendizagem
Atualmente, a educação para as pessoas idosas têm vindo a merecer progressiva atenção, não apenas pela sua conformidade com o princípio da aprendizagem ao longo da vida, como pela sua centralidade na promoção do envelhecimento ativo, considerando os atuais desafios sociodemográficos.
Nesse contexto, o estudo de Andrade e colaboradores em 2012 objetivou identificar os estilos de aprendizagem predominantes de alunos idosos e verificar se há correlação entre os estilos de aprendizagem com as variáveis sociodemográficas.
A pesquisa contou com pessoas idosas participantes do programa Universidade Aberta à Terceira Idade da EACH USP (Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo).
Com isso, foi apresentado para os participantes quatro estilos de aprendizagem segundo a tipologia do estudioso em educação de idosos David Kolb (1984): acomodadores, convergentes, divergentes e assimiladores. As respectivas formas de aprender se dão pela seguinte abordagem:
- Acomodadores: baseiam-se nas suas experiências concretas e processam-nas de forma ativa. Gostam de fazer coisas e implicar-se em novas experiências, seguindo por ensaios e erros para resolver problemas; gostam de desafios e de assumir riscos;
- Convergentes: baseiam-se em teorias e conceitos abstratos do mundo e processam-nos de forma ativa. Controlam as suas emoções e privilegiam a resolução de problemas mais do que os contatos interpessoais;
- Divergentes: baseiam-se nas suas experiências concretas e processam-nas de forma reflexiva; interessam-se pelo próximo e observam com facilidade os assuntos a partir de diferentes perspectivas;
- Assimiladores: baseiam-se em teorias e conceitos abstratos que processam de forma reflexiva; interessam-se pelas ideias e conceitos e procuram criar modelos, valorizando a sua coerência.
Nesse sentido, os participantes foram avaliados através de um questionário sociodemográfico e um questionário sobre estilos de aprendizagem Inventário de Estilo de Aprendizagem, validado para idosos de David A. Kolb.
O que dizem as pesquisas?
Mas afinal: Como aprender na terceira idade? Os achados da pesquisa demonstraram que o estilo de aprendizagem dominante foi o assimilador e identificou-se a existência de associação entre estilos de aprendizagem dos idosos e sexo, faixa etária, escolaridade para o sexo masculino e sexo para idosos com até o nível ensino fundamental.
Em resumo, supõe-se que a construção de formação para as pessoas idosas, em termos de conteúdos e formas de apresentação, será um dos desafios importantes no âmbito da gerontologia educacional.
Compete aos agentes educativos, professores/educadores e às organizações não governamentais com responsabilidades educativas e que oferecem programas educacionais, oferecer uma análise crítica da contextualização social das suas propostas, bem como possíveis projeções do que a aprendizagem ao longo da vida poderá vir a ser, considerando que o seu futuro encerra ainda indefinições e questionamentos importantes.
As tendências pedagógicas observadas poderão contribuir para orientar outros trabalhos e sustentar as opções pedagógicas e metodológicas para idosos em processo de novas aprendizagens.
Assinam este artigo:
Cássia Elisa Rossetto Verga
Estudante de Graduação do curso de bacharelado em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Atualmente faz estágio na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração pelo Instituto SUPERA – Ginástica para o Cérebro. Tem interesse na área de treino e estimulação cognitiva para idosos, com enfoque em neurologia cognitiva. É membro da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Já foi bolsista PUB da Universidade Aberta à Terceira Idade da EACH-USP, atual USP 60 + nas oficinas de música e letramento digital. Participou como assessora de Projetos e Recursos Humanos na Empresa Geronto Júnior entre os anos de 2019 a 2020.
Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva
Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É assessora científica e consultora do Método Supera.