Sabemos que o sono é vital para os seres humanos de todas as idades, pois é durante este período que ocorrem funções restauradoras, como a reposição energética, a regulação hormonal, a reconstituição tecidual, a síntese de proteínas e a manutenção das funções cognitivas (ABSono, 2024). No entanto, distúrbios como insônia, apneia e síndrome das pernas inquietas podem afetar sua qualidade e, consequentemente, a saúde do cérebro.
De acordo com a Associação Brasileira do Sono, um sono de má qualidade pode dificultar a aprendizagem, a memória, a concentração e a atenção, além de levar ao aumento do peso corporal, aumentar as chances de problemas cardíacos, elevar os riscos de acidentes e enfraquecer o sistema imunológico. A seguir, listamos os principais distúrbios do sono que frequentemente acometem a população.
- Insônia: Caracterizada pela dificuldade em iniciar ou manter o sono, pode levar à fadiga durante o dia, irritabilidade e problemas de concentração. A falta de sono reparador interfere na consolidação da memória, dificultando a aprendizagem e a retenção de novas informações.
- Apneia obstrutiva do sono: Caracterizada pela obstrução das vias aéreas, o que prejudica as estruturas nasais, principalmente as paredes da faringe, e impede uma respiração adequada durante a noite. O ronco e a fragmentação excessiva do sono fazem com que a pessoa acorde várias vezes ao longo da noite. Um estudo realizado por Shieu e colaboradores, que incluiu 11 estudos clínicos, sendo oito observacionais e três ensaios clínicos, apresentou uma relação entre a apneia do sono e o desenvolvimento de demências, como a doença de Alzheimer, bem como outras condições cognitivas. A privação repetida de oxigênio pode danificar os neurônios e impactar negativamente a função cerebral.
- Síndrome das Pernas Inquietas: É uma condição neurológica que provoca agitação involuntária dos membros inferiores, especialmente à noite. Esse distúrbio prejudica a continuidade do sono. A interrupção constante do sono pode diminuir a capacidade de processamento de informações e a função executiva do cérebro.
Os distúrbios do sono têm um grande impacto no cérebro, afetando diversas áreas. Dormir com qualidade é essencial para a consolidação da memória; sua privação prejudica a formação de novas memórias e aprendizados. Além disso, a falta de sono está ligada ao aumento do estresse, sintomas de ansiedade e depressão, dificultando a regulação das emoções e a capacidade de lidar com situações estressantes. Também pode diminuir a atenção, a concentração e a capacidade de tomada de decisão, afetando o desempenho no trabalho e nas atividades diárias, especialmente aquelas que requerem atenção extrema, como dirigir ou manusear equipamentos de alto risco.
A principal manifestação dos problemas crônicos de sono é a sonolência excessiva durante o dia. As primeiras indicações de distúrbios do sono incluem mudanças de humor, lapsos de memória e dificuldades nas capacidades mentais. Embora muitas vezes seja visto apenas como um incômodo, o ronco pode indicar condições subjacentes e levar a sérios problemas de saúde.
Para promover uma boa noite de sono, é recomendável adotar hábitos saudáveis, criar um ambiente tranquilo e confortável para dormir, evitar o consumo de cafeína e eletrônicos antes de dormir, e praticar técnicas de relaxamento. Se perceber qualquer alteração no seu padrão de sono, procure um médico para uma avaliação adequada e orientação. A atenção precoce a esses sinais pode ajudar a prevenir problemas mais graves e melhorar a qualidade do sono e da saúde geral.
Para mais informações sobre essa temática, acesse a cartilha: cartilha-semana-do-sono-2024 (semanadosono.com.br)
Assinam este texto:
Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva
Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Docente do curso de Bacharelado e do Programa de Mestrado em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo, parceria científica do Instituto Supera de Educação.
Sabrina Aparecida da Silva
Bacharelanda em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Monitora da oficina “Mentes Ativas” da USP60+. Atua na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração e é membro do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da USP (GETCUSP).
Referências
MOURA, Gisele S.; NEVES, Andre S. Giorelli; FLORIDO, Patricia; GOMES, Marleide da Mota. Transtornos do sono: visão geral. Revista Brasileira de Neurologia, v. 49, n. 2, p. 57-71, 2013.
SHIEU, Monica Moon et al. Positive airway pressure and cognitive disorders in adults with obstructive sleep apnea: a systematic review of the literature. Neurology, v. 99, n. 4, p. e334-e346, 2022.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Apneia obstrutiva do sono pode ser um fator de risco para demência. Disponível em: https://jornal.usp.br/radio-usp/apneia-obstrutiva-do-sono-pode-ser-um-fator-de-risco-para-demencia/. Acesso em: 24 jul. 2024.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO SONO. Disponível em: https://semanadosono.com.br/wp-content/uploads/2024/02/cartilha-semana-do-sono-2024.pdf. Acesso em: 24 jul. 2024.