Resgatar memórias vividas: qual é a relação disso com a terapia de reminiscência?
No processo de envelhecimento humano é normal ter alterações nas funções cognitivas e motoras. Contudo, com o aumento da expectativa de vida e o número de pessoas idosas, há um aumento na probabilidade de pessoas terem algum comprometimento cognitivo. Nesse sentido, a procura por terapias não farmacológicas vem crescendo, dentre elas, destaca-se a terapia de reminiscência.
Resgatar memórias vividas:
Segundo o dicionário Houaiss, reminiscência é um substantivo feminino que se refere a:
1) imagem lembrada do passado; o que se conserva na memória;
2) lembrança vaga ou incompleta;
3) sinal ou fragmento que resta de algo extinto.
Mas, afinal, o que seria Terapia de Reminiscência (TR)?
De acordo com Gil e colegas em 2019, a TR é uma abordagem terapêutica centrada na pessoa, valorizando a sua dimensão humana e trajetória de vida, mobilizando os recursos cognitivos ainda preservados.
Dessa maneira, ao recorrer resgatar memórias vividas em longo prazo, que normalmente permanece intacta, a TR contribui para a redução da experiência de falha, frequentemente, sentida pelas pessoas idosas com comprometimento cognitivo.
Logo, a terapia da reminiscência (TR) é utilizada em pessoas idosas com demência e consiste em sessões onde são apresentadas imagens, com o objetivo de estimular o paciente a se comunicar com os seus cuidadores para resgatar memórias vividas e, consequentemente, promover a autoestima, identidade e individualidade.
Diante desse cenário, os cuidadores (formais e informais) têm habitualmente a responsabilidade de selecionar as imagens para usar em cada sessão. A dinâmica das sessões de TR, nesse sentido, pode assumir um formato de intervenção em grupo ou sessões individuais (Vagos, 2020; Gil et al., 2019; De Assunção Gil et al., 2018).
Nesse contexto, Corsete em 2018, verificou o impacto de um programa de intervenção grupal por reminiscência simples a nível de cinco medidas relevantes para a qualidade de vida entre pessoas idosas institucionalizadas: 1) cognição, 2) depressão, 3) autoestima, 4) satisfação com a vida e 5) solidão.
Seus resultados mostraram que a terapia grupal por reminiscência simples pode ser útil na promoção da autoestima, redução dos sentimentos de solidão e aumento na percepção de qualidade de vida. Paralelo a isso, para uma intervenção individual, Justo-Henriques e colaboradores (2020) apresentam o protocolo de intervenção individual que é composto por 26 sessões, com duração de aproximadamente 50 minutos.
O principal objetivo deste programa, a ser aplicado pelos profissionais habilitados das instituições de apoio a idosos, consiste na diminuição da progressão do declínio cognitivo, com base na estimulação dos domínios cognitivos, obtendo-se assim benefícios não só ao nível cognitivo, mas também do humor e no senso de qualidade de vida.
Evidencia-se, portanto, que a TR é uma das terapias não-farmacológicas com melhores evidências benéficas na população idosa com algum comprometimento cognitivo. Assim sendo, além de estimular a neuroplasticidade e a reserva cognitiva, proporciona o aumento da autoestima, satisfação com a vida e, consequentemente, na qualidade de vida da pessoa idosa, tornando a TR em um recurso para o resgate de lembranças vividas.
Assinam este artigo:
Graciela Akina Ishibashi
Estudante de Graduação do curso de bacharelado em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Realizou estágio no Centro Dia Bom Me Care entre os anos de 2019 a 2020. Atualmente faz estágio na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração pelo Instituto SUPERA – Ginástica para o Cérebro. Tem interesse na área de estimulação cognitiva com jogos. Já foi voluntária na Universidade Aberta à Terceira Idade da EACH-USP, atual USP60 + nas oficinas de origami, dança sênior e letramento digital.
Tiago Nascimento Ordonez
Gerontólogo e mestrando em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). Especialista em Estatística Aplicada pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) de São Paulo. Pós-graduando do MBA em Data Science e Analytics na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP). Atualmente atua como gerontólogo e coordenador de banco de dados do estudo “A eficácia de um programa de estimulação cognitiva com componentes multifatoriais na cognição e em variáveis psicossociais de idosos sem demência e sem depressão: um ensaio clínico randomizado e controlado”, fruto da parceria entre EACH-USP, Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e o Supera Instituto de Educação.
Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva
Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É assessora científica e consultora do Método Supera.