Para refletirmos sobre o estresse no trato de pessoas com demência partimos do autocuidado que significa cuidar de si próprio. São as atitudes, os comportamentos que a pessoa tem em seu próprio benefício, com a finalidade de promover a saúde, preservar , assegurar e manter a vida. Nesse sentido, o cuidador do outro representa a essência da cidadania, do desprendimento, da doação e do amor. Já o autocuidado ou cuidar de si representa a essência da existência humana.
O estresse no trato com pessoas com demência também faz refletir sobre a pessoa que é cuidada, que, muitas vezes está acamada, com alguma limitação ou até mesmo com diagnóstico de uma demência, e mesmo que necessite de auxílio e de cuidados do seu cuidador, pode e deve realizar atividades de autocuidado sempre que possível, para ter o mínimo de independência possível.
O cuidador, seja algum familiar, amigo, deve observar e identificar o que a pessoa pode fazer por si, avaliando as suas condições e ajudando a pessoa a fazer as suas atividades, desta forma tanto cuidador como pessoa cuidada, poderão ter significados de vida e sutilmente uma melhor qualidade de vida.
Quando pensamos o estresse no trato com pessoas com demência, o autocuidado não se refere somente àquilo que a pessoa a ser cuidada pode fazer sobre si. Refere-se também aos cuidados que um cuidador deve ter consigo com a finalidade de preservar a sua saúde e melhorar a sua rotina, com o objetivo de evitar a sobrecarga emocional e o estresse psicológico.
A escassez das instituições de suporte vinculadas ao estado, para pessoas que precisam de cuidados, faz com que a responsabilidade máxima recaia sobre a família e muitas vezes sobre um membro especificamente. A doença ou a limitação física em uma pessoa provoca mudanças na vida dos membros da família, muitas vezes adoecendo-os no próprio processo diagnóstico, ocasionando inversões e mudanças na dinâmica e nas funções ou no papel de cada membro de determinado núcleo familiar.
O estresse no trato com pessoas com demência
Mudanças que geram inseguranças, medos, sobrecarga e desentendimentos, por isso é importante que a família, cuidadores e a equipe de saúde conversem e planejem as ações do cuidado domiciliar, com a finalidade de evitar o estado de estresse, o cansaço físico excessivo, permitindo que o cuidador tenha tempo de se autocuidar e ter os seus projetos de vida mantidos, é importante que haja a participação de outras pessoas para a realização do processo de cuidar, havendo rodízio das tarefas exercidas.
A pessoa com limitações físicas, psicológicas e financeiras é a que mais sofre, tendo que depender da ajuda de outras pessoas, em geral familiares, fazendo com que seu poder de decisão fique reduzido, dificultando o desenvolvimento de outros vínculos com o meio social. Para oferecer um processo de tratamento e de cuidado com dignidade, é necessário o trabalho em conjunto entre o Estado, a comunidade e a família.
Nesse sentido, percebe-se a necessidade do autocuidado do cuidador. Este autocuidado é importante não só para o cuidador, mas também para a qualidade dos cuidados prestados à pessoa idosa. Os cuidadores que cuidam de si mesmos devem parar e pensar, prestando atenção nos sinais de alerta. Para tanto, algumas estratégias para evitar a sobrecarga física e emocional são listadas a seguir:
- Solicitar auxílio de outros membros da família e confiar no papel exercido por outras pessoas que querem ajudar;
- Procurar serviços de saúde e de suporte social que existem na sua cidade;
- Por limites ao cuidado, fazer pela pessoa apenas quando ela não for mais capaz de fazer uma atividade;
- Controlar o mau-humor e a irritabilidade com atividades que possam gerar relaxamento e momentos de lazer;
- Procurar aliviar a tristeza e a depressão compartilhando suas angústias com pessoas da sua confiança;
- Afastar o sentimento de culpa e não se cobrar excessivamente;
- Informe a pessoa idosa sobre a mudanças e decisões;
- Elabore um plano de atividades;
- Organize-se segundo a ordem de importância das tarefas;
Dessa forma, as dicas e estratégias para evitar o estresse, ansiedade e transtornos de humor devem ser levadas em consideração para uma maior satisfação de vida ao cuidador de uma pessoa com demência e até outras condições limitantes deste indivíduo que muitas vezes por uma doença incapacitante como uma demência necessita de cuidados supervisionados. Sugere-se para que pessoas na condição de cuidadores de idosos, busquem participar de associações de suporte para cuidadores de idosos com demência, como da Associação Brasileira de Alzheimer, e de grupos de apoio informativos, buscando criar resiliência, fortalecer seus vínculos comunitários e otimizar as estratégias de manejo do cuidado.
Assinam este artigo:
Cássia Elisa Rossetto Verga
Estudante de Graduação do curso de bacharelado em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Atualmente faz estágio na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração pelo Instituto SUPERA – Ginástica para o Cérebro. Tem interesse na área de treino e estimulação cognitiva para idosos, com enfoque em neurologia cognitiva. É membro da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Já foi bolsista PUB da Universidade Aberta à Terceira Idade da EACH-USP, atual USP60 + nas oficinas de música e letramento digital. Participou como assessora de Projetos e Recursos Humanos na Empresa Geronto Júnior entre os anos de 2019 a 2020.
Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva
Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É assessora científica e consultora do Método Supera.