Casos de demência no Brasil seguem aumentando. Essa preocupante realidade está chamando a atenção para um desafio de proporções cada vez maiores!
Com a melhoria da qualidade de vida, e os avanços na medicina, percebe-se o aumento da expectativa de vida da população brasileira, e em paralelo maior a prevalência de doenças crônicas, entre elas aquelas que afetam a perda progressiva das funções cognitivas, como as demências. De acordo com o relatório anual da Alzheimer’s Disease International (ADI) – World Alzheimer Report, o número estimado de pessoas vivendo com demência em 2050 será de cerca de 130 milhões em todo o mundo (Porcionatto, 2017) e 5,5 milhões no Brasil.
Em 2019, o total de casos de demência era de 20%, maior do que quatro anos atrás, quando se estimava haver 1,48 milhão de pessoas com demência no Brasil, de acordo com um relatório coordenado pela psiquiatra e epidemiologista Cleusa Ferri, e com a contribuição de especialistas em neurologia, apresentado ao Ministério da Saúde.
O termo demência diz respeito a um conjunto de doenças neurodegenerativas que ocasionam a perda gradual das funções cerebrais e habilidades cognitivas como a memória, linguagem e raciocínio, além dos prejuízos funcionais. Dentre os principais tipos de demências estão: Doença de Alzheimer (DA), Demência Vascular, Demência com corpos de Lewy, Demência Frontotemporal, e as Demências Parkinsonianas.
Nas últimas décadas, tem-se observado um preocupante aumento na prevalência dessas condições, o que representa um desafio significativo para o sistema de saúde e para a sociedade como um todo. Os fatores que contribuem para o aumento da demência no Brasil são diversos, dentre eles, o crescimento da população idosa, que é um dos principais impulsionadores desse cenário. Entretanto, vale ressaltar que essa condição não é uma característica do envelhecimento normativo.
Outras variáveis de risco são os hábitos de vida e a baixa escolaridade. O estilo de vida moderno, caracterizado por uma alimentação inadequada, sedentarismo, estresse e poucas horas de sono, podem contribuir para a crescente taxa dessa patologia. O acesso a uma dieta balanceada e cuidados médicos adequados pode ser desigual em diferentes regiões do país, o que retrata a heterogeneidade socioeconômica brasileira.
Um estudo liderado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e publicado em 2022 pela revista científica Alzheimer ‘s & Dementia, destaca a importância do tempo de escolaridade para a promoção da formação de conexões entre neurônios que aumentam a densidade das fibras que transferem informações entre as regiões cerebrais, o neurocientista Yakov Stern, nomeou essa conectividade como reserva cognitiva. A Profa. Dra. Claudia Kimie Suemoto explica que essa reserva funciona como uma espécie de poupança, quanto maior a reserva cognitiva, maior carga de lesões neuropatológicas a pessoa consegue suportar e quanto maior o nível de escolaridade, maior a reserva cognitiva do indivíduo (FMUSP, 2022).
A falta de conscientização sobre os sinais precoces da demência para a sociedade também pode levar a um diagnóstico tardio, dificultando a implementação de intervenções adequadas no início do quadro.
Então, como reduzir o risco de demência?
Quase metade dos casos de demência no Brasil tem causas modificáveis, aponta estudo publicado na revista Alzheimer’s & Dementia. Estes fatores são:
● Baixo nível educacional;
● Hipertensão arterial;
● Diabetes;
● Obesidade;
● Abuso de bebidas alcoólicas;
● Tabagismo;
● Depressão;
● Inatividade física;
● Trauma cranio-encefálico;
● Surdez;
● Poluição atmosférica;
● Isolamento social.
Nesse sentido, é de suma importância o controle da diabetes, hipertensão e reduzir a obesidade na meia-idade, além de cuidar da alimentação e fazer atividade física regular, adequada à sua condição de saúde. As atividades de socialização e estimulação cognitiva também auxiliam na proteção contra os declínios cognitivos. Diminuir a demência no Brasil requer o esforço conjunto de autoridades de saúde, profissionais da área, organizações da sociedade civil e a população em geral. Somente por meio de ações coordenadas e abrangentes, aliando cuidado especializado, prevenção e conscientização, poderemos enfrentar esse desafio que é construir um futuro mais saudável e acolhedor para todos os brasileiros.
Assinam este texto:
Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva
Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É assessora científica e consultora do Método SUPERA.
Sabrina Aparecida da Silva
Graduanda do curso de Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Estagiária na área de pesquisa em treino cognitivo pelo instituto SUPERA- Ginástica para o Cérebro. Atua como monitora da oficina de estimulação cognitiva da USP60+.