Todo processo, de qualquer natureza, segue uma receita básica de início, meio e fim. Assim também é o processo de envelhecimento, sendo para muitos cientistas a concepção o início e a morte o fim. Diferente de outros processos, no entanto, o envelhecimento tem como meio um longo e indefinido caminho, que depende por exemplo, de motivações, escolhas e oportunidades, individuais ou coletivas.
Ainda que a escolha seja um fator importante para se ter uma vida saudável, se não houver a possibilidade de colocá-la em prática, o objetivo não será atingido. Sabe-se que existem desigualdades, como as diferenças entre classes sociais, que influenciam o nível educacional, a conquista de determinadas colocações profissionais e também a qualidade de vida.
Como forma de possibilitar que mais pessoas sejam beneficiadas, surgem as Políticas Públicas, específicas para cada necessidade. Tendo em vista o processo de envelhecimento e os desdobramentos que resultam na velhice, diferentes políticas públicas têm atuado nessa questão.
A nível nacional, podemos citar o Estatuto do Idoso, a Política Nacional do Idoso e a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. A nível internacional, através da Organização Mundial da Saúde (OMS), surgiu em 2005 o documento intitulado por “Envelhecimento Ativo: Uma Política de Saúde”.
Você que ainda não é considerado como uma pessoa idosa já refletiu como quer chegar na velhice? E você que já passou dos 60 anos, já se perguntou sobre o que ainda pode fazer para continuar envelhecendo com qualidade? Esses e outros questionamentos foram respondidos pela OMS em 2005 e posteriormente foram complementados pela Conferência Internacional de Envelhecimento Ativo em Sevilha, em 2010. Existem quatro pilares fundamentais para um ciclo de vida ativo:
- Saúde – referente a um completo bem-estar físico, mental e social que pode influenciar e sofrer influência de fatores políticos, socioeconômicos, culturais, ambientais, comportamentais e biológicos;
- Aprendizagem ao longo da vida – contribui com o aumento da percepção subjetiva de saúde, favorecendo o bem-estar e a qualidade de vida, estimulando as trocas intergeracionais. Além disso, favorece a manutenção da saúde cognitiva;
- Segurança e proteção – relaciona-se a integridade física e psicológica do indivíduo e sofre ameaças dos efeitos climáticos, de epidemias e violências, em todos os seus níveis, além do risco de doenças e migração involuntária, por exemplo;
- Participação – interações sociais, civis, culturais, espirituais e ambientais, são algumas possibilidades de manutenção do engajamento e integração em comunidades. Esse pilar permite que haja um sentimento de pertencimento, o que fortalece a autopercepção de saúde.
A fim de complementar os quatro pilares citados anteriormente, a OMS, definiu também alguns aspectos que determinam como será o nosso processo de envelhecimento.
Gênero, cultura determinantes econômicos, sociais, pessoais, comportamentais, ambiente físico e serviços sociais e de saúde influenciam de modo significativo o nosso envelhecer.
É claro que poderíamos refletir com muitos detalhes sobre cada um dos pilares e também sobre os determinantes descritos pela OMS, porém a partir de agora lhe convidados a refletir um pouco mais sobre o segundo pilar: Aprendizagem ao longo da vida.
Há um tempo específico para começar e parar de aprender? Existe um modo correto de adquirir novos aprendizados? O que significa aprender algo? Essas podem ser questões passíveis de discussão entre diferentes educadores, mas um educador em específico nos deixou algumas possibilidades de respostas.
No mês de setembro de 2021 haverá a comemoração ao centenário do nascimento do educador e filósofo Paulo Freire, considerado como Patrono da Educação Brasileira.
Para Freire a aprendizagem não ocorre através de um padrão estabelecido, rígido e impossibilitado de mudanças, muito menos, existe tempo específico para a conquista de novos aprendizados.
Paulo Freire propôs o conceito de “inacabamento humano” no qual compreende-se que o ser humano está em constante construção e isso permite que sempre haja a possibilidade de adquirir novos conhecimentos, seja em contexto formal como do ambiente escolar, seja em contexto informal como nas trocas entre pessoas de diferentes gerações, por exemplo.
Além disso, o educador descreveu o Processo de Conscientização e Diálogo, através do qual todos são capazes de contribuir com a educação uns dos outros ao mesmo tempo em que buscam por novos conhecimentos como forma de tornar-se mais humanizado.
Reconhecendo que pessoas idosas também são capazes de aprender algo novo, O Estatuto do Idoso, tem como a aprendizagem como um direito para 60 anos ou mais terem acesso a práticas educativas. Universidades públicas como a Universidade de São Paulo e faculdades privadas têm feito suas contribuições com o pilar da Aprendizagem ao longo da vida, por meio do oferecimento de atividades educativas para crianças, através dos programas de extensão, com a formação de jovens e adultos universitários e com programas específicos para idosos, como ocorrem nas Universidades Abertas à Terceira Idade.
Além do mais, a aprendizagem ao longo da vida e também na velhice contribui com a saúde do cérebro, pois quanto mais conteúdo aprendemos, mais conexões cerebrais formamos e assim, mais ativamos a nossa cognição.
Aprender algo novo também é uma forma de prevenção contra as modificações cognitivas que acontecem ao longo desse processo complexo, que é o envelhecimento. Por isso, escolha aprender algo novo e busque por oportunidades!
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Gabriela dos Santos,
Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Gerontologia pela Universidade de São Paulo (USP), Graduada em Gerontologia pela USP, com Extensão pela Universidad Estatal Del Valle de Toluca. Assessora científica.
Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva
Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É assessora científica e consultora do Método Supera.
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