No dia 31 de julho de 2024, durante a Conferência Internacional da Associação de Alzheimer (AAIC) na Filadélfia, foi publicado o aguardado relatório da Comissão Permanente da Lancet sobre prevenção, intervenção e cuidados em demência. Este documento apresenta atualizações importantes e novas
evidências animadoras no campo da demência.
O relatório destaca que, à medida que a população envelhece, o número de pessoas vivendo com demência continua a aumentar globalmente. Estima-se que em 2019 havia 57 milhões de pessoas com demência no mundo, com projeções indicando um aumento para 153 milhões até 2050. Este crescimento
ressalta a necessidade urgente de identificar e implementar abordagens eficazes de prevenção.
O mapa mental apresenta uma visão geral estruturada do relatório, com o título central “Relatório Lancet 2024 sobre Demência”. A partir deste centro, ramificam-se seis tópicos principais: Fatores de Risco Modificáveis, Prevenção, Intervenções Específicas, Cuidados pós-diagnóstico, Tratamentos e Desafios. Cada um desses tópicos se desdobra em subtópicos mais detalhados, oferecendo uma representação visual clara das principais áreas abordadas no relatório.
Figura. Mapa Mental do Relatório da Comissão Permanente da Lancet sobre prevenção, intervenção e cuidados em demência 2024.
Uma das principais contribuições do relatório é a identificação de 14 fatores de risco modificáveis para demência, incluindo dois novos fatores: perda de visão e colesterol alto. O relatório sugere que a modificação desses fatores pode potencialmente prevenir ou retardar quase metade dos casos de demência.
A Comissão enfatiza a importância da prevenção, que envolve tanto mudanças políticas em nível nacional e internacional quanto intervenções individualizadas. As ações para diminuir o risco de demência devem começar cedo e continuar ao longo da vida. O relatório recomenda uma abordagem ambiciosa à prevenção, priorizando a equidade e garantindo a inclusão de grupos de alto risco.
O documento também apresenta intervenções específicas para cada um dos 14 fatores de risco, incluindo garantir educação de qualidade, tornar aparelhos auditivos acessíveis, tratar a depressão efetivamente, incentivar o uso de proteção para a cabeça em esportes de contato, encorajar o exercício, reduzir o tabagismo, controlar a pressão arterial e o colesterol, manter um peso saudável, reduzir o consumo excessivo de álcool, priorizar ambientes comunitários amigáveis aos idosos, tornar o tratamento para perda de visão acessível e reduzir a exposição à poluição do ar.
Em relação aos cuidados pós-diagnóstico, o relatório destaca a importância de intervenções que ajudem as pessoas a viverem bem com demência, incluindo o planejamento para o futuro. Intervenções de enfrentamento multicomponentes para cuidadores familiares e o manejo de sintomas neuropsiquiátricos são considerados cruciais.
No campo dos tratamentos, o relatório menciona o progresso e a esperança em relação a tratamentos modificadores da doença para a doença de Alzheimer, com alguns ensaios de anticorpos direcionados à proteína beta-amiloide mostrando eficácia modesta na redução da deterioração após 18 meses de tratamento. No entanto, o relatório também adverte sobre os efeitos colaterais e as implicações de recursos desses tratamentos.
O documento também aborda os desafios atuais, incluindo a necessidade de proteger a saúde física das pessoas com demência, especialmente em situações de internação hospitalar. Além disso, destaca a vulnerabilidade das pessoas com demência exposta pela pandemia de COVID-19, enfatizando a necessidade de aprender com essa experiência para melhor proteger essa população vulnerável no futuro.
Este relatório abrangente da Comissão Permanente da Lancet representa um marco importante no campo da demência, fornecendo orientações valiosas para pesquisadores, profissionais de saúde, formuladores de políticas e a sociedade em geral na luta contra esta condição desafiadora e cada vez mais prevalente.
Fonte:
LIVINGSTON, Gill et al. Dementia prevention, intervention, and care: 2024 report of the Lancet standing Commission. The Lancet, [S. l.], p.
S0140673624012960, 2024. DOI: 10.1016/S0140-6736(24)01296-0.
Disponível em: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0140673624012960. Acesso em 1 de agosto de 2024.
Tiago Nascimento Ordonez
Gerontólogo pela Universidade de São Paulo (USP), especialista em Estatística Aplicada pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) e Pós-graduando do MBA em Data Science e Analytics pela USP. Exerceu a função de Gerontólogo na Prefeitura de São Caetano do Sul entre os anos de 2014 a 2016. E esteve como coordenador do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFVI) da Prefeitura de Diadema entre 2017 e 2020. Atualmente é membro do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo (GETC) da USP.
Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva
Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Docente do curso de Graduação e Pós-graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer – Regional São Paulo. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo (GETC) da USP. É parceira científica do Supera, com a condução de ensaios clínicos.