SUPERA – Ginástica para o Cérebro

A tecnologia a desserviço do homem

Dra. Carla Tieppo é neurocientista e consultora do SUPERA

A tecnologia a desserviço do homem

Para aqueles que só de lerem o título já estão me criticando, inicio este post alertando para o fato de que consigo ver e usufruir dos maravilhosos benefícios que as tecnologias desenvolvidas na era digital promovem. Assim, não pensem que não gosto de tecnologia. Quem me conhece sabe que uso vários apps para organizar, dinamizar e entreter minha vida. Mas precisamos ter muito cuidado para não permitir que as facilidades digitais prejudiquem nossas capacidades naturais.

Em matéria publicada na INFO, o uso desenfreado de tecnologia para substituir nossa necessidade de memorizar está relacionado com prejuízos em nossa inteligência e capacidade criativa. Especialmente porque o uso de ferramentas que nos lembram de tudo que precisamos fazer, armazenar e reativar em nosso cérebro, faz com que nossa memória de trabalho se enfraqueça. O uso da memória de trabalho é essencial para que consigamos realizar tarefas cognitivas. Esta memória é a única que tem limite de armazenamento e este limite pode ser aumentado caso nos empenhemos nisso. Porém, as listas que usamos hoje fazem nossa memória de trabalho ser menos usada. E não é só para lembrar de números de telefones ou listas de supermercado que precisamos de nossa memória. De verdade, a memória de trabalho e o conjunto de conhecimento que mantemos na memória de longo prazo são essenciais para nossa capacidade cognitiva. Mas você não precisa sair decorando toda sua lista de contatos telefônicos agora mesmo. Basta que saiba uns três ou quatro números de emergência (a colunista da Folha de São Paulo,  Rosely Sayão recentemente escreveu sobre a vulnerabilidade que a tecnologia provoca em nós). Outras tarefas como leitura de um bom romance policial, o raciocínio matemático, a resolução de enigmas ou mesmo lembrar dos filmes e atores preferidos e contar sobre isso aos seus amigos, sem precisar recorrer ao Dr. Google, podem ser atividades que garantam a manutenção da sua capacidade mnemônica.

2014

Assim, aqui vai um conselho: procure deixar algumas coisas para o seu cérebro treinar a memorizar. Tenha vontade de saber de cabeça coisas que te chamam a atenção e se esforce em memorizá-las. Especialmente as gerações digitais tem bastante dificuldades neste quesito. Só sabem aquilo que amam. Dependem exclusivamente da motivação afetiva sobre um assunto para saber sobre ele. E isso diminui muito o arsenal cognitivo do indivíduo. Seu smartphone não terá nenhum “insight” criativo por você. E se sua memória de trabalho não é boa, uma das capacidades mais importantes do ser humano para a criatividade fica bastante ameaçada: a inteligência fluida. Mas sobre isso, eu escrevo outra hora!

 

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